“O que fará se Trump ganhar?” esta pergunta devia ser colocada insistentemente aos candidatos partidários nacionais. Eu bem sei que a política internacional raramente entra na campanha eleitoral. Mas ainda há quem acredite que os problemas ditos “domésticos” não são condicionados pelos acontecimentos e decisões fora das fronteiras? As taxas de juro do BCE são um bom exemplo do impacto nas vidas concretas de cada família.
O mesmo sucede, mesmo que nos custe a acreditar, com os EUA. E a realidade supera a ficção no absurdo e na polarização. Reparem que os bons romancistas, como Roth e Atwood, descreveram com maior elegância o assalto ao poder de forças totalitárias e fascistas. Mas o trumpismo, quando comparado com essas distopias, parece argumento de filme B.
O assunto é demasiado importante para ser ignorado e a prestigiada revista “The Atlantic” dedicou todo o último número ao tema “If Trump wins”. Das alterações climáticas aos direitos individuais, passando pelo racismo, todos os autores são unânimes no seu pessimismo. É que se no primeiro mandato foram evitados alguns erros porque alguns membros do governo conseguiram reverter algumas decisões, desta vez a máquina trumpista está mais profissional e repleta de fiéis à causa. Quem contrariar a narrativa oficial não terá lugar no executivo.
Isso sucederá também na ciência. Os ditadores nunca se deram bem com os cientistas. É que estes últimos seguem o método científico, que observa a realidade tal como ela é. Para a ciência a autoridade e os preconceitos “a priori” não têm valor. E isso é um problema para as sociedades autocráticas. Recordemos, como bem descreve a jornalista Sarah Zhang, que Trump fez declarações inacreditáveis durante a pandemia, desvalorizando a doença, o uso de máscara e a vacinação.