Nos primeiros anos da minha vida o que queria mesmo era ser guarda-redes. A herança familiar sempre foi forte e, lá em casa, falava-se de futebol diariamente. Mas também se lia jornais, sobretudo desportivos. O contacto com a “A Bola”, ainda maior que eu, que só conseguia ler no chão, começou desde cedo e com ele, uma vontade indómita de contar histórias.
Na altura da adolescência esse sentimento cresceu e quando, no décimo ano de escolaridade, escolhi a área de estudos, o Jornalismo foi a única opção, contrariando a “decisão” do meu pai, que queria muito que eu enveredasse pela contabilidade, como uma área mais segura, de emprego certo.
Aprendi as primeiras regras do jornalismo com o professor Melo, na Escola Secundária José Estevão, e daí – uns anos mais tarde – fui para o ISCIA (onde com outros colegas fundámos o “O Escriba”, que saía como suplemento no Litoral) para um curso parecido com Jornalismo – e onde a contabilidade voltou para me atemorizar os dias – mas que me apresentou dois tesouros únicos: a professora Cacilda Marado (que dimensão humana gigante!) e a professora Helena Valente, que me encaminhou – por acreditar em mim – para a delegação do Correio da Manhã, em Aveiro. A elas serei sempre agradecido.
Estávamos em 1998. Nessa altura o sonho e a realidade cruzaram-se. Aprendi tanto, mas tanto, no bom e no menos bom, com a Carla Pacheco, que era a responsável pela delegação, assim como no terreno. Fiz o famoso “crime de Ílhavo”, a queda da ponte de Castelo de Paiva. A primeira notícia que escrevi publicada no CM, se a memória não me atraiçoa, foi sobre uma plantação de árvores num jardim de Cantanhede. Passei em 2001 para o Jornal de Notícias, carregado de sonhos, de vontade de fazer a diferença e, também, de promessas. Em dez anos, tudo se esfumou. As minhas opções se calhar não foram as melhores. Escrevi – até 2015 - ainda para O Aveiro, Jornal da Bairrada e Diário de Aveiro e agora estou, praticamente desde o início, aqui na Aveiro Mag e vou ajudando, quando posso, o meu amigo Emídio no seu “O Ponto”.
Felizmente - com dor na alma o digo – já não sou jornalista profissional. Felizmente – dilacerado no sentimento – não preciso do jornalismo para comer. Nem para pagar a renda de casa. Nem para pagar a universidade, o ATL e a escola dos meus três filhos. Felizmente para mim e para os meus, sei quanto vou ganhar ao final do mês. Não interessa se é muito ou pouco. Interessa é sempre saber com o que é que contamos. E no jornalismo, como se sabe, cada vez se conta com menos. Ou com mais. Mais ingratidão. Mais falta de respeito. Mais trabalho com muito menos condições para o executar.
E a culpa é de todos nós. Que apontamos o dedo à falta de rigor e à falta de qualidade do jornalismo, mas depois só queremos ler as notícias de graça, seja nas redes sociais, seja na mesa do café. E depois damos por nós a ler notícias em sites avulsos (o eufemismo do adjetivo é propositado) ou a ler aquilo que o algoritmo nos empurra para ler, condicionando-nos o pensamento, toldando-nos a liberdade de escolha. A Liberdade.