AveiroMag AveiroMag

Magazine online generalista e de âmbito regional. A Aveiro Mag aposta em conteúdos relacionados com factos e figuras de Aveiro. Feita por, e para, aveirenses, esta é uma revista que está sempre atenta ao pulsar da região!

Aveiro Mag®

Faça parte deste projeto e anuncie aqui!

Pretendemos associar-nos a marcas que se revejam na nossa ambição e pretendam ser melhores, assim como nós. Anuncie connosco.

Como anunciar

Aveiro Mag®

Avenida Dr. Lourenço Peixinho, n.º 49, 1.º Direito, Fracção J.

3800-164 Aveiro

geral@aveiromag.pt
Aveiromag

Moisés Ferreira (BE): “A linha do Vouga pode (e deve) ser um eixo estruturante do distrito”

Política

O psicólogo e formador volta a liderar a lista do Bloco de Esquerda pelo distrito. Moisés Ferreira destaca, como prioritárias, as áreas da saúde e da habitação, sem esquecer a modernização da Linha do Vouga o parque natural da Ria de Aveiro.

 

 

Conhece a realidade do distrito, de Argoncilhe a Pampilhosa, de Paiva a Sosa? Acredita que a equipa que lidera por Aveiro tem esse conhecimento?

Sim. Este é o meu distrito, de onde sou, onde moro e onde faço a minha vida. Conheço-o bem. Dos dias de praia em Maceda, das caminhadas na serra da Freita, dos percursos de bicicleta pela Ria, do dia-a-dia em São João da Madeira ou em Santa Maria da Feira, mas não só. Conheço-o também porque nos 6 anos em que fui deputado tive a oportunidade de acompanhar todos os problemas do distrito, desde os incêndios nas escombreiras das antigas minas de carvão em Castelo de Paiva até à necessária intervenção na Mata do Buçaco, desde as extensões de saúde encerradas em Ovar até à necessidade urgente de ampliação do hospital de Aveiro, desde a luta da população de Mamodeiro para manter a sua extensão de saúde até à luta de toda uma região – que vai de Espinho a Aveiro – para revitalizar a sua linha de comboio. Sim, conheço muito bem a realidade do distrito.

 

De uma forma específica, diga-nos três coisas que importa melhorar no distrito?

Há várias coisas que é preciso melhorar, desde o acesso à habitação ou à saúde. Temos concelhos, como Espinho ou Aveiro, onde os preços da habitação são pura e simplesmente impossíveis de suportar para um salário médio e temos muito para fazer no acesso à saúde. Existem equipamentos – como os hospitais de Espinho, de Ovar, de Estarreja, de Águeda, de São João da Madeira ou de Oliveira de Azeméis – que estão claramente subaproveitados e depois existem outros – o hospital da Feira ou o de Aveiro – que não conseguem dar resposta a tanta procura. É preciso investir para que aqueles primeiros possam fazer mais exames e mais consultas, para que tenham resposta de atendimento permanente. É preciso fazer com que os centros de saúde tenham saúde mental, oral e consultas de nutrição. Isso tem de acontecer em todo o distrito. E depois há, claro, questões muitos específicas do distrito: a linha do Vouga tem de ser modernizada. Não basta mudar cascalho e travessa. É mesmo preciso modernizar esta linha. E o parque natural da Ria de Aveiro, já proposto pelo Bloco na Assembleia da República tem mesmo de avançar.

 

Qual a melhor forma de combater a ideia de que quem chega à Assembleia da República/Governo esquece rapidamente o distrito pelo qual foi eleito?

Consigo pensar em duas formas, pelo menos. A primeira é não abandonar o distrito assim que se é eleito. Creio que muitos o fazem, o Bloco nunca fez isso. O que é não abandonar o distrito? É estar cá todas as semanas, nos dias em que não há Assembleia da República, a reunir com instituições, a visitar a região, a falar com a população, a acompanhar as lutas que se desenvolvem e, claro, a levar tudo isso para o Parlamento. Para que sejam debatidos e votados, para que se solucionem os problemas do distrito. Sempre fizemos isso. E vamos continuar a fazer. A segunda maneira é não tentar enganar as pessoas. O que quero dizer com isto? Vejo muitas vezes partidos como o PS e como o PSD a adotar um esquema que pretende única e simplesmente enganar a população do distrito. Em algumas votações, nomeadamente algumas com impacto do distrito, vemos alguns deputados a votarem de uma forma e o grupo parlamentar a votar de outra forma. Isso serve para que os deputados eleitos no distrito digam que estiveram ao lado do distrito, mas que o partido decidiu em sentido contrário. Isso tem um nome: hipocrisia. Um partido ou está a favor ou está contra um assunto. Não há cá duas ou três posições ao mesmo tempo. Por isso é que é importante votar em projetos políticos e não meramente neste ou naquele indivíduo.

 

Que resultados espera alcançar no dia 10 de março (número de deputados por Aveiro)?

Crescer, eleger e determinar políticas para o distrito e para o país. Isto é, ter mais votos, mais percentagem e recuperar os deputados que o Bloco de Esquerda já teve pelo distrito de Aveiro. Quem quer votar num projeto à esquerda do PS que tem possibilidade de eleger no distrito é no Bloco de Esquerda que tem a sua escolha certa.

 

Uma das questões que mais tem preocupado os aveirenses prende-se com a tão aguardada ampliação do Hospital de Aveiro, que tarda em avançar. O que se propõe a fazer em relação a esta matéria?

Não é assunto desconhecido para nós. Temos vindo a interpelar o Governo, por diversas vezes, sobre situações de internamento nas urgências por falta de capacidade para internamento ou sobre a falta de espaço e de condições para a realização de consultas externas. No final de 2021, depois de uma reunião com a administração do então Centro Hospitalar do Baixo Vouga (onde se insere o hospital de Aveiro) denunciámos a falta de autorização, por parte da ARS Centro e da tutela, para o projeto e empreitada de ampliação. Consideramos que essa ampliação é fundamental e como já dissemos há 2 anos, é preciso que os investimentos na saúde deixem de estar dependentes de uma cascata de autorizações que têm como único objetivo criar obstáculos. Por um lado, é preciso que as administrações tenham autonomia para a realização de investimentos; por outro lado, é preciso que a taxa de execução de investimentos deixe de ser residual. Nesta matéria em concreto – de investimento – o Governo tem sido muito vocal, mas, na prática, a execução é baixíssima. Menos propaganda e mais ação, menos obstáculos e mais autonomia. É isso que é preciso.

 

O traçado da linha ferroviária de alta velocidade tem gerado polémica em vários pontos do distrito. O que tem a dizer às populações afetadas?

É óbvio que o traçado escolhido deve ser o que menos impacto tem nas populações e é óbvio também que, onde haja impacto, as indemnizações e compensações devem ser proporcionais. Há ainda outra questão sobre as opções em cima da mesa. Não podemos deixar de constatar que, falando estritamente de ferrovia, a linha do Vouga continue degradada e quase abandonada e a linha do Norte continue a precisar de intervenção óbvia (por exemplo, para aumentar a sua capacidade e garantir que o Alfa pode circular à velocidade máxima); no entanto, o Governo apenas mostra vontade de avançar no TGV.

 

Faz sentido investir na requalificação e modernização da linha do Vouga?

Faz todo o sentido. O que não tem sentido é estarmos em 2024 e termos uma linha que atravessa uma parte considerável do distrito em estado de quase abandono. O que não faz sentido é dizer-se que a ferrovia é muito importante, mas depois não mexer um dedo para a modernizar e requalificar. Um comboio a diesel, desconfortável, lento e com poucos horários. Isso é que não faz sentido. O Bloco de Esquerda tem defendido a requalificação integral da linha do Vouga. E por requalificação entendemos modernização, isto é, eletrificação da linha, novos comboios, mais horários, correção do traçado, de forma a que o comboio seja, por um lado, mais rápido, por outro lado, passe junto dos aglomerados populacionais. Isso é que faz sentido. A linha do Vouga pode (e deve) ser um eixo estruturante do distrito, um modo de transporte de massas. Como está é que não pode ficar.

 

Campus Jazz Publicidade

O tema das scut voltou a estar na agenda da campanha eleitoral. O que se propõe fazer em relação a isto?

O Bloco foi contra a introdução de portagens nessas vias e tem defendido, desde sempre, a retirada dessas portagens. No programa eleitoral que apresentamos às eleições de 10 de março reiteramos esse compromisso. Por isso, a nossa proposta é simples: acabar com as portagens nas ex-SCUT. Estas estradas foram feitas para não ter portagem, em muitos casos feitas em cima de antigas estradas e em muitos casos não têm alternativa digna desse nome. Por todas essas razões nunca deviam ter sido portajadas e esse erro não pode continuar.

 

No que diz respeito à crise na habitação, como olha para a realidade distrital e que medidas concretas preconiza?

A habitação é a maior crise dos nossos tempos. Os especuladores e a banca estão a fazer com que cada vez mais pessoas tenham acesso a uma casa e estão a empurrar cada vez mais pessoas para a rua. Enquanto esses ganham milhares de milhões, as famílias empobrecem e cortam em tudo para conseguir manter um teto. E muitas já não conseguem. Fizemos as contas e concluímos que no distrito de Aveiro, apenas nos últimos 3 anos, o valor para venda aumentou entre 30% a 50% nos vários concelhos e o valor das rendas aumentou entre 20% a 30% em quase todos os concelhos do distrito. Estes são valores impossíveis. Nenhum trabalhador viu o seu salário aumentar nesta proporção. É preciso, por isso, controlar as rendas e baixar os juros do crédito à habitação, por exemplo, instruindo o banco público a baixar os juros. Mas também é preciso aumentar a oferta pública de habitação, impondo uma quota de 25% de toda a nova construção ou mobilizando os imóveis devolutos. Esses novos imóveis devem ser colocados para arrendamento a custo controlado.

 

A erosão costeira é uma preocupação? como pretende agir nesta área na região, uma das mais afetadas?

Apostamos nas soluções de base que são as únicas que podem contribuir para a solução do problema. Medidas estruturais para combater as alterações climáticas que agravam o problema e fazem subir o nível médio do mar. Também a remoção de barragens e barreiras obsoletas nos rios. Precisamos libertar os rios para que os sedimentos chegam às praias. E não recusamos medidas pontuais ou de urgência. Seja a alimentação da costa com sedimentos sejam estruturas de proteção quando justificadas, por exemplo para proteger o antigo aterro situado perto da praia de Maceda.

 

Que outros problemas ambientais mais apreensão causam?

A eucaliptização e o risco de incêndio. Nos últimos anos vivemos incêndios que devastaram a serra da Freita e que destruíram áreas enormes de concelhos como Castelo de Paiva, Águeda, Oliveira de Azeméis ou Albergaria. De facto, em 2016, Arouca e Águeda foram os dois concelhos do país com mais área ardida e, em 2019, Albergaria-a-Velha aparecia em 4º lugar com mais de 1.500 hectares consumidos pelo fogo. Temos de proteger o nosso distrito. E isso faz-se reduzindo a monocultura do eucalipto e protegendo as barreiras naturais ao avanço do mar. A preservação do pinhal das dunas de Ovar é fundamental para a região e é inaceitável que ali se façam abates de pinhal em grandes parcelas. Temos também de proteger e preservar a ria e de todos os cursos de água que nela desaguam, nomeadamente através de uma gestão integrada, como o Bloco de Esquerda tem defendido.

 

 

Aveiro é um distrito com muitas empresas e muita indústria. Que medidas defende para o sector?

Aveiro é um distrito com muita indústria e com muitas desigualdades. Temos o setor do calçado que exportou mais de 2 mil milhões de euros, mas que paga o salário mínimo; temos o setor corticeiro, onde o CEO da Corticeira Amorim ganha em 4 anos e meio o que um seu trabalhador levará uma vida de trabalho a ganhar. Precisamos, acima de tudo, de reduzir a desigualdade. Precisamos de justiça na economia. Isso faz-se com o aumento do salário mínimo (900 euros já em 2024 e aumentos anuais correspondentes ao efeito da inflação adicionado de 50 euros) e com o aumento do salário médio (nomeadamente através do reforço da contratação coletiva). Isso faz-se também com redução do horário de trabalho sem perda de salário. Semana de 4 dias e 35 horas semanais são duas das medidas que o Bloco inscreve no seu programa.

 

Aveiro é um distrito que acolhe muitos imigrantes. Que política de imigração deve o país adotar?

Temos um país cada vez mais envelhecido e precisamos de jovens, incluindo os jovens que escolheram Portugal (e o distrito de Aveiro) para trabalhar e viver. Sem eles não teríamos pessoas suficientes para nossa economia e a verdade é que as contribuições dos imigrantes são importantíssimas para a sustentabilidade da segurança social. Dito de forma mais prática, é o seu contributo que está a ajudar o país a pagar as pensões dos reformados. Os números são inequívocos: em 2022, os imigrantes descontaram mais de 1800 milhões de euros para a Segurança Social e só receberam pouco mais de 200 milhões. A política que temos de ter é a de integração. Isso é: celeridade nos processos de autorização de residência, combate à exploração, integração nas escolas, acesso ao SNS, programas de ensino de português, etc. Esse é o caminho. A bem do nosso distrito.

 

A desertificação do interior é um fenómeno que também se verifica em Aveiro. é possível reverter a tendência e como?

Combater a desertificação do interior é possível, mas ninguém pense que isso poderá ser feito sem reforço dos serviços públicos, por exemplo. Uma das causas da desertificação é o encerramento de serviços públicos. Quem quer (ou pode) viver num local onde não existe CTT, extensão de saúde ou escola? Ou onde não existe transporte (e bem sabemos que no distrito de Aveiro os transportes públicos são uma desgraça). Precisamos de ter mais serviços públicos, mais emprego público e mais apoio ao emprego nas zonas mais desertificadas.

Deixa um comentário

O teu endereço de e-mail não será publicado. Todos os campos são de preenchimento obrigatório.