A todos aqueles que dizem que “não é preciso um dia da mulher, que dias da mulher são todos os dias” ou “porque é que os homens também não têm um dia deles?” gostava de lhes dizer, como tão bem canta Jorge Palma, que enquanto houver estrada para andar a gente vai continuar....
Enquanto continuarem a existir culturas, países, povos e ideologias que legitimam práticas desumanas contra as mulheres, que vedam às mulheres o direito a votar, a ser eleita, a estudar, trabalhar, conduzir, viajar sem um homem, tomar as suas decisões livre e autonomamente,
Enquanto os números da violência de género continuarem a ser tão preocupantes,
Enquanto as mulheres se sujeitarem a relações abusivas porque é isso que se espera dela, a bem da família, dos filhos, do estatuto social ou da sua sobrevivência,
Enquanto as oportunidades de trabalho, progressão na carreira e salários não forem iguais às dos homens,
Enquanto a opção de ter filhos e família for muito mais penalizadora para as mães do que para os pais, e se coloque sempre a questão “trabalho ou família” apenas às mulheres,
Enquanto o papel de cuidadora dos membros mais idosos da família for um papel da mulher e não do homem,
Enquanto as mulheres não puderem reagir contra o que acham injusto, sem serem apelidadas de histriónicas e lhes ser vedado espaço e tempo para se manifestarem,
Enquanto um menino ou homem que chora ou demonstre sensibilidade for chamado de “menina”,
Enquanto todas as mulheres tiverem que ser, necessariamente e pela sua condição, femininas, sensíveis, faladoras, emotivas, descontroladas, cuidadoras e os homens tiverem que assumir as caraterísticas opostas,
Enquanto as mulheres sentirem que tantas portas no mundo do trabalho, na sociedade civil, na família, na política e em tantas áreas lhe são fechadas, ou abertas com muitas reservas e condições,
Enquanto as mulheres sentirem que ao aceder a cargos de direção ou chefia são olhadas com reserva e com a dúvida quanto às razões que as terão levado a tais lugares,
Enquanto olharmos para cerimónias oficiais e retratos de eventos públicos e a composição for marcadamente masculina,
Enquanto o lugar das mulheres na política e em algumas empresas for uma imposição legal e não um reconhecimento do seu mérito,
Enquanto as meninas não puderem escolher a profissão e a vida que querem, sem lhes dizerem “isso não é profissão para ti”, “depois queres casar e ter filhos e não o podes fazer” ou “assim, nenhum menino vai querer casar contigo”....
Enquanto a sociedade penalizar as mães pelos erros dos filhos e desculpar os pais, Enquanto o divórcio para as mulheres continuar a ser um peso e a ter consequências muito mais graves do que que tem para os homens,
Enquanto as mulheres não puderem ser “bonitas e inteligentes”, sem que alguém ache que ou é uma ou outra,
Enquanto uma mulher for julgada por gostar de sair e se divertir, rir alto e gostar de conhecer outras pessoas ou simplesmente pela forma como se veste,
Enquanto uma mulher não sentir segurança em andar sozinha à noite ou viajar sozinha,
Enquanto a roupa que vestirmos for confundida com futilidade, vulgaridade ou exposição em demasia e nos for incutido um código de vestuário mais “masculino” para sermos levadas a sério,
Enquanto ouvirmos, “mas és mulher e gostas de futebol??estranho!!” ou “nem parece coisa de mulher”,
Há muita estrada para andar e este dia tem que continuar para nos lembrarmos de tantos direitos que ainda é necessário conquistar.