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Companhia Jovem dança a partir de uma reflexão sobre o mundo

Artes

Margarida Dias

 

Tem poucos anos de vida, mas as marcas do seu trabalho são já inquestionáveis, tanto para os que lhe dão corpo e movimento, como para aqueles que têm vindo a assistir às suas criações e exibições, a partir da plateia. A Companhia Jovem de Dança de Ílhavo (CJDI), que está prestes a voltar a brindar o público com mais uma nova criação - será este fim-de-semana, no âmbito da Milha - Festa da Música e dos Músicos de Ílhavo -, é um projeto artístico, mas também, diz o coreógrafo Luiz Antunes, um “projeto pedagógico” e um “lugar de reflexão” em que é ensinada a “aceitação do outro”. Para a criação do espetáculo de 2024, o quinto, o grupo abordou temas como a opressão, o silenciamento das mulheres, o bullying ou a gravidez na adolescência, todas elas “imagens disruptivas” que abalam a “ideia de um mundo cor-de-rosa” onde nem sempre o lado mais sombrio da vida está representado.

Foi ainda Luís Ferreira, então programador do 23 Milhas, o projeto cultural do município ilhavense, que desafiou o coreógrafo Luiz Antunes, que tem uma estrutura artística em Lisboa, a colaborar com projetos locais. Um deles foi a CJDI, que se estreou em 2000 com a criação “A ria gela a partir das margens”, apresentado n’A Milha - Festa da Música e dos Músicos de Ílhavo.

Na altura, Luís Ferreira disse a Luiz Antunes que o objetivo do projeto era aproveitar os bons bailarinos formados nas escolas locais em criações artísticas mais elaboradas e com mais qualidade. O início do projeto coincidiu com a pandemia. “Mas entre os pingos da chuva fui conseguindo dar formação”, recorda à Aveiro Mag. Foi também nessa altura que o coreógrafo aprofundou o seu conhecimento sobre Ílhavo. “Estava a conhecer e a reconhecer o território: os cardadores de Vale de Ílhavo, as gafanhas, a pesca… Fiquei fascinado”, diz.

Esse trabalho de descoberta foi coletivo. Os participantes foram-lhe levando “histórias das avós, dos tios”, e juntos construíram um acervo que foi usado logo no primeiro espetáculo, em novembro de 2020, em que também estiveram envolvidos Joel Reigota e Henrique Portovedo.

A autarquia deu sequência ao projeto e Luiz Antunes assumiu a sua direção artística e pedagógica, instituindo momentos formativos com “formadores nacionais e internacionais ao mais alto nível” e um momento de criação com coreógrafos convidados, com exibição na Milha. Pelo projeto já passaram “grandes nomes” da dança e para o ano está garantida a presença de Tânia Carvalho, “uma das mais conceituadas coreógrafas portuguesas”, revela o coreógrafo, aplaudindo a decisão do município de assegurar desde já a realização da edição de 2025.

Isso mostra que a CJDI é um projeto acarinhado. No entanto foi preciso vencer resistências e desconfianças. “Ao início pensavam que estávamos a criar uma escola alternativa e a roubar alunos às ouras escolas”, recorda. “A CJDI é um complemento, o projeto não existe sem as escolas parceiras e tentamos planear as coisas para não interferir com as apresentações e os momentos de avaliação das escolas”, explica.

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Este ano, para além de todo o trabalho de criação e preparação de “Gineceu”, a companhia promoveu um momento de comemoração do 25 de Abril com a apresentação do filme “Um corpo que dança”, do realizador Marco Martins, que conta a história da dança em Portugal.

Foi mais um contributo para a afirmação da dança, uma disciplina onde ainda há barreiras a quebrar. De certa maneira, nota Luiz Antunes, a dança é ainda um parente pobre no panorama artístico nacional num país ainda minado por “algum conservadorismo”. “O corpo é um lugar de conservadorismo, a dança vem desse lugar, o instrumento de base é o corpo”, diz.

Por outro lado, ainda hoje se ouve que “o ballet é para meninas”. Ainda há pouco tempo soube de um aluno que desistiu da sua atividade como bailarino por ter sofrido “pressão” por ser um rapaz na dança. “Há ainda uma estranheza, uma dificuldade”, lamenta. Importa não esquecer que, em Portugal, “a profissionalização da dança fez-se muito depois da década de 1950”. “Foi tudo muito tardio”, constata. 

 

@Grafonola

Nova criação apresentada no sábado e no domingo 

“Gineceu” é, então, o nome da nova criação da companhia de dança ilhavense - o gineceu era, na Grécia antiga, o aposento destinado às mulheres – e tem apresentações marcadas para sábado, 2 de novembro, às 21h30, e domingo, dia 3, às 15h00, na Casa da Cultura de Ílhavo. Para a criação do espetáculo, que é já o quinto da companhia, o grupo abordou temas como a opressão, o silenciamento das mulheres, o bullying ou a gravidez na adolescência, todas elas “imagens disruptivas” que abalam a “ideia de um mundo cor-de-rosa” onde nem sempre o lado mais sombrio da vida está representado.

Neste trabalho artístico, nota o coerógrafo, participou um grupo com alguma heterogeneidade. A maioria dos bailarinos é de Ílhavo mas “há várias realidades” a enriquecer o trabalho. A participante mais nova, por exemplo, de 10 anos, é do Brasil. No total, “Gineceu” conta com 14 intérpretes, a mais velha das quais de 27 anos. Pela primeira vez, o projeto aceitou bailarinos externos às três escolas de dança do município, num processo de abertura que visa dar riqueza ao trabalho desenvolvido.

O espetáculo conta com figurinos de Joel Reigota, composição musical de Henrique Portovedo, cenografia de Tiago Pinhal Costa e assistência à criação de Marco Olival.

Não é seguro que o espetáculo possa ser levado a outras salas. “O projeto é transitório, é como uma borboleta”, diz Luiz Antunes – e muitos dos bailarinos podem ir embora e não estar disponíveis. Por outro lado, as programações das salas de espetáculo são feitas com muita antecedência e por isso “há poucos espaços de acolhimento”. “Um ano fomos a Paredes de Coura e foi uma experiência inigualável” para o grupo, recorda.

 

 

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