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Elogio a um desertor, ou talvez morto, mas não em combate

Opinião

António Granjeia*

“Na vida de hoje, o mundo só pertence aos estúpidos, aos insensíveis e aos agitados. O direito a viver e a triunfar conquista-se hoje quase pelos mesmos processos por que se conquista o internamento num manicómio: a incapacidade de pensar, a amoralidade e a hiperexcitação.” Livro do Desassossego, Fernando Pessoa

Na mensagem de ano novo de 2020 do Clube dos Galitos escrevi: “Contudo e com muita pena nossa não demos pela existência do Secretário de Estado do Desporto, João Paulo Rebelo. Apesar de ter declarado que “o desporto não é um setor pária da nossa sociedade e, portanto, não pode ficar para trás sendo isso que o Governo se tem esforçado por fazer”, nunca demos por medidas para o desporto, principalmente o amador que tem ficado claramente para último.” Mais acrescentei na missiva que “cada vez mais as associações e clubes são vistos como meros contribuintes e tratados como empresas comerciais que de facto não são. Exemplos não faltam. Nesta pandemia ficou ainda mais evidente o papel insubstituível que os clubes e os seus dirigentes dos clubes têm localmente, mas, mesmo assim, continuam a ser desvalorizados no inestimável serviço que prestam à comunidade.” Clube dos Galitos.

O presidente do FC do Porto, Pinto da Costa, se bem que por razões completamente diferentes e não compagináveis com a grande maioria dos clubes que fazem A VERDADEIRA FORMAÇÃO em Portugal, declarou o óbvio; a inexistência do Secretário de Estado do Desporto quando, afirmou há uns dias, "não foi enterrado, mas anda morto, desertou” – jornal Record, 10 de fevereiro. O presidente da FP de Natação, António José Silva, constatou a evidência quarta-feira, 10 de fevereiro, numa audição pública a convite da Comissão de Cultura, Comunicação, Juventude e Desporto da AR. “O presidente da FPN lamentou a falta de reconhecimento que o desporto tem sido alvo por parte dos agentes políticos. Esta falha assume ainda maior destaque neste quadro pandémico com implicações dramáticas junto das instituições promotoras do exercício físico e do desporto. No caso concreto da natação, o organismo registou uma quebra de 80% do número de filiados em 2020, passando de 110 mil para 21 mil. Esta quebra levou, inevitavelmente, à redução de 20%, aproximadamente, do número de clubes.” (notícia FPN 10 de fevereiro). A situação da Federação de natação é idêntica a quase todas as federações nacionais.

Também o presidente da FP de Futebol, Fernando Gomes, disse à mesma comissão onde representava as Federações de futebol, andebol, patinagem, voleibol e basquetebol; “Uma das grandes preocupações tem a ver com a inatividade no seio do movimento associativo, nomeadamente nos escalões de formação. Estas Federações tiveram uma redução total de 65% dos atletas inscritos na formação masculina e feminina. Desses atletas inscritos, apenas 13% têm atividade desportiva. Significa isto que, ao nível da formação destas cinco Federações que têm cerca de 250 mil atletas inscritos em 2019/20, somente 14 mil, 6%, estão a praticar atividade desportiva”. “Não compreendemos esta situação de inatividade atendendo que existem vários países onde foi possível manter a atividade da formação, nomeadamente nos escalões de 10, 11 e 12 anos, onde foi provado que o nível de propagação é reduzido” – Observador, 10 de fevereiro.

O presidente do COP, José Manuel Constantino, tem insistido nas mesmas teclas vezes sem conta, mas a sua voz, não passa da porta do comité olímpico. Continua por cumprir resolução da criação do Fundo Especial de Apoio ao Desporto, proposto pelo COP e pela Cimeira das Federações Desportivas.

Mas num webinar “Desporto em tempos de pandemia”, organizado pela Federação Distrital do PS e JS de Santarém, João Paulo Rebelo disse que “se forem cumpridos os prazos de entrega das vacinas pelas farmacêuticas, e com a premissa que no verão grande parte da população já esteja vacinada, a expectativa é que o desporto possa estar em funcionamento mais ou menos em pleno a tempo de pensarmos começar a época desportiva " (jornal o jogo 13 de fevereiro). Isto foi apenas ontem e um dos coordenadores da pandemia pelo governo ainda não percebeu que a Europa está atrasada na entrega das vacinas?

Ainda disse João Paulo Rebelo no mesmo dia "Estou preocupado com os clubes de base local que quando a pandemia terminar, e ela vai terminar, têm de lá estar. É com esses que estou preocupado. Não me preocupo tanto, desculpem, com dirigentes das dezenas de milhares de euros que ganham por mês", programa Bola Branca da Rádio Renascença. Disse ainda que "A minha preocupação é com os jovens que estão sem praticar desporto, muitos há tempo demais.”

Cada um que tire as suas conclusões, mas posso afirmar, enquanto dirigente de um clube de formação, daqueles onde os jovens tiveram de parar, num daqueles que tem atletas olímpicos, atletas nas seleções nacionais em várias modalidades e que mantêm ordenados a trabalhadores efetivos, que o Sr. Secretário do Desporto apenas recita “paroles, paroles” como a canção italiana que Dalida imortalizou. Migrou de Viseu para Lisboa e nunca mais telefonou para a terra de Viriato para saber dos clubes da sua cidade.

João Paulo Rebelo tem a oportunidade de ficar na história preparando um programa de apoio ao desporto amador, mas até agora, tenho a impressão que nem os dados que o IPDJ se farta de sucessivamente solicitar aos clubes serviram para qualquer estudo de como recuperarmos da pandemia. As federações, talvez com a exceção da de futebol, não têm capacidade suficiente para apoiar os problemas atuais, mas, mesmo assim, muitas como a de natação, basquetebol ou de remo têm ajudado na medida do possível mesmo sem diretrizes claras da tutela.

Os clubes, os seus treinadores e dirigentes, como reconhece João Paulo Rebelo, têm sido criativos q.b., (até aulas de natação para bebés se dão online) mas a coragem do senhor secretário não chega para se apresentar num webinar com os presidentes dos clubes do pais real para mostrar o que já programou? Devia estar a organizar como aproveitar a tal bazuca. Ou vamos esperar para que só os chicos espertos possam a ela ter direito?

O que verdadeiramente deveria importar a este governante em negação da realidade seria mesmo quantos clubes poderão fechar a atividade ou quantos jovens talentosos poderão abandonar a prática desportiva?

Sem remorsos, Sr. Secretário, aguardamos todos por uma resposta do governo uma vez que o senhor parece não ter qualidade nem capacidade para o representar. Como bem disse Pinto da Costa: desertou.

* Presidente do Clube dos Galitos
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