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A Oficina da Formiga acaba de ganhar um novo espaço. Maior e mais elegante

Roteiro

Na rua da Coutada, em Ílhavo, há um atelier de cerâmica artesanal que se dedica a recuperar e reinventar os formatos, motivos e cores da tradicional faiança portuguesa dos séculos XIX e XX, dando-a a conhecer a novos públicos. A Oficina da Formiga é o projeto familiar de Jorge, cerâmico de formação e de paixão, o artista por trás da maior parte das peças que ali se produzem, e Milú, que deixou o laboratório de análises clínicas onde trabalhava para se dedicar de corpo e alma ao artesanato, e que, entre tantas outras coisas, é a responsável pelas vendas. Vendas essas que, até há bem pouco tempo, funcionavam num típico “quarto do santo” da casa gandaresa onde mora este casal. Apesar de organizado e acolhedor, aquele compartimento já era pequeno para as necessidades dos artesãos e para o fluxo de clientes. As estantes cobriam as paredes e, a cada prateleira, amontoavam-se demasiadas peças em exposição. Além disso, há muito que o casal sentia que precisava de estabelecer uma fronteira mais óbvia entre a casa da família e o local de trabalho, respeitando as dinâmicas próprias de cada espaço. Precisavam, por tudo isto, de um novo recinto e não se importaram de sonhar em grande: uma loja, associada a um espaçoso pavilhão, e com valências que vão muito além do mero comércio de cerâmica. Tudo isto, no terreno adjacente à sua casa que, entretanto, haviam adquirido.

Depois de longos meses de trabalho, o sonho tornou-se realidade. A nova loja abriu portas em julho e, desde então, mesmo com todas as limitações impostas pela pandemia de Covid-19, já acolheu vários visitantes, familiares, amigos e vizinhos. “Temos recebido as pessoas aos bocadinhos, sempre com marcação”, explica Milú que, lamentando, confessa que “2020 tinha todas as condições para ser um ano fabuloso, mas a pandemia veio mudar tudo”.

Por fora, não há muitos sinais que denunciem a vocação desta nova loja. Até o nome – Oficina da Formiga – só aparece numa porta interior, já depois de o visitante ter passado pelo portão principal. E é mesmo assim que tem de ser. Jorge e Milú são adeptos da subtileza e da elegância. Não querem que esteja tudo à vista. Afinal, o mistério é sedutor e, quando finalmente acontece, o momento da descoberta é mais estimulante.

Por dentro, à primeira vista, a loja não parece uma loja. Uma vez mais, objetivo cumprido: “Quisemos que as pessoas não sentissem que estão numa loja convencional, mas sim numa casa”. Ao entrar, a mesa está posta e, como não podia deixar de ser, toda a louça é da Formiga; ao fundo, da cozinha, chega o aroma do café acabado de fazer e a simpática saudação dos anfitriões faz-nos acreditar que estamos, de facto, a entrar em casa de um amigo. Mais do que isso: ficamos com a convicção que somos bem-vindos naquele lugar.

Não deixa, contudo, de ser uma loja e, apesar de não ser muito grande, o espaço está organizado em áreas de exposição distintas. Logo à direita, por exemplo, é a zona das peças decorativas. Os formatos são variados e os motivos quase todos inspiradas na natureza, na vida rural ou na iconografia portuguesa – os lenços dos namorados, a filigrana ou o galo de Barcelos. Atualmente, está em local privilegiado de exposição um grupo de artigos alusivos a Santo António – reproduções de uma antiga coleção que celebrava o santo casamenteiro –, mas as estantes guardam variadíssimas peças, algumas delas repletas de histórias e simbolismo.

Mais à frente, têm lugar as peças utilitárias: pratos, taças, travessas, canecas, bilhas, entre outras. Há zonas em perfeita harmonia – em que as cores e motivos semelhantes fazem como que os artigos “casem bem” uns com os outros – e outras que, propositadamente, primam pelo contraste – é o caso da estante no topo da mesa de madeira com que nos deparamos à entrada. A excentricidade dos serviços dispostos em cima diverge da simplicidade das coleções mais abaixo.

Nas paredes, há pratos e travessas, alguns deles, enquadrados por molduras de madeira que, comenta Flamínio dos Reis, “dão uma vida extraordinária à loja”. Flamínio é um amigo de longa data e visita assídua daquela família. Diz-se que foi ele um dos grandes responsáveis pela queda de Jorge para a cerâmica. “O mestre”, como ali é carinhosamente tratado, trabalhou toda a vida em faiança tradicional e, hoje, com 86 anos, ainda colabora com a Oficina da Formiga. É da sua mão experiente que saem alguns dos motivos florais mais icónicos do atelier. Dedica-se, principalmente, às flores de estilo livre, uma tarefa exigente e, brinca Milú, “especialmente concebida para a paciência e mão leve do mestre”. Estes trabalhos em que a pincelada obedece somente ao gosto e ao talento do artista são os que Flamínio mais aprecia. “Não há padrões nem simetrias, é o que sai do pincel. E, como fiz isto durante muitos anos, a mão já está treinada”, conta.

Voltemos às molduras que, ali dispostas, desviam o olhar dos visitantes, focando a sua atenção nas peças que enquadram. O fundo branco, que chega a parecer uma extensão da parede, reforça o poder do caixilho e dá ainda maior realce à louça, exibindo-a em toda a sua dimensão e volumetria.

Desengane-se, no entanto, quem pense que aqui a faiança tradicional habita unicamente as paredes, as prateleiras ou as vitrines expositoras. Na loja da Oficina da Formiga as peças vão à mesa - servem café, chá, uma fatia de bolo, um petisco - e há um conjunto de cozinha completo e em plena utilização junto ao fogão. Ver estes artigos (e até ter oportunidade de os experimentar) no seu enquadramento natural, facilmente reporta os visitantes para as suas próprias salas e cozinhas, deixando claro que até “a louça mais tradicional, que estamos habituados a ver em cenários rústicos ou familiares, convive perfeitamente em ambientes de maior requinte ou delicadeza”.

Porém, este não é só um espaço comercial. Quando se lhes pergunta o que veem a acontecer na nova loja, Jorge e Milú têm uma resposta pronta e que dão em uníssono: “Tudo”. “O objetivo principal é criar um ponto de encontro e convívio”, esclarecem. Portanto, desde um simples café ou um lanche com os amigos à organização de um workshop de cerâmica, uma residência artística ou uma sessão de showcooking, as possibilidades são imensas. Jorge e Milú já informaram Camilo Jaña, chef da Tasca Vasco, restaurante portuense com louça fornecida pela Oficina da Formiga, que o novo espaço está à sua espera. “Y porque no?”, ter-lhes-á respondido o chileno, antecipando uma visita (e, quem sabe, uma pequena demonstração culinária) para breve.

Na sua versatilidade, a nova loja da Oficina da Formiga poderá ainda acolher “pequenas peças de teatro” ou “concertos intimistas”. “À noite, se deixarmos acesa apenas a iluminação dos móveis e das campânulas, ficamos com um ambiente mais quente e uma luz difusa e suave muito semelhante à de uma casa de fados”, descreve Jorge.

A loja da Oficina da Formiga faz parte de um complexo que veio complementar o atelier de pintura, na antiga eira da casa do casal, e que também integra um pavilhão com bancadas de enchimento e conformação, fornos de cozedura das peças, uma zona para disposição do stock e outra dedicada à embalagem. Todos os anos, a Oficina da Formiga exporta milhares de peças para destinos (aparentemente) tão improváveis como o Japão, a Austrália, a Rússia ou a Finlândia.

Com este pavilhão em plena atividade, e já depois da inauguração da nova loja, “só falta mesmo um jardim”, admite o casal que, com esse intuito, já reservou um espaço ao fundo do terreno. Na ideia de Jorge e Milú, o projeto passa por criar uma nova área de convívio ao ar livre, com relva e alguns arbustos, que esteja devidamente equipada para acolher um pequeno-almoço diferente, uma refeição partilhada ou um brinde ao pôr-do-sol. O jardim está a ser imaginado também com os visitantes mais novos em mente. Ali, para sossego dos pais, terão à sua disposição um recinto amplo onde poderão para brincar livremente e em segurança.

Quanto ao antigo compartimento onde funcionava a loja, Jorge e Milú estão a pensar juntar o vasto espólio que possuem e transformá-lo num pequeno museu. Ao longo dos anos, o casal conseguiu reunir peças antigas, algumas delas verdadeiros achados, do tempo em que percorriam as feiras de velharias e as mostras de artesanato. Guardam igualmente trabalhos dos velhos mestres, como Flamínio, Acácio, João Lavado ou Marinho, bem como recordações dos primeiros anos de Jorge neste ofício. A tudo isto, há que acrescentar ainda algumas peças provenientes dos quatro cantos do mundo, oferecidas por clientes e amigos. “A ideia de juntar a história do nosso percurso parece-nos interessante”, afirmam. Uma coleção com elevado valor histórico, patrimonial e, para aquela família, sentimental, que, em breve, poderá sair dos caixotes onde tem estado guardada e ver a luz do dia num espaço totalmente renovado.

* Fotos deAfonso Ré Lau.

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