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Paulo Nuno Vicente: Do jornalismo ao estudo da Inteligência Artificial

Sociedade

Foi em Ílhavo que se fez gente - estudou na escola primária n.º 2 , fez o ciclo onde hoje é o CIEMar e o secundário na Celestino Gomes, onde a mãe trabalhou, muitos anos, na secretaria - e começou a sonhar com uma carreira na área do jornalismo. Licenciou-se, andou de microfone na mão, mas acabou por seguir a via da investigação académica ao doutorar-se na área do jornalismo. Hoje, aos 40 anos, Paulo Nuno Vicente é professor de Média Digitais na Universidade Nova de Lisboa, onde fundou e coordena o iNOVA Madia Lab, um laboratório de investigação e desenvolvimento dedicado ao impacto social da Inteligência Artificial, plataformas web e redes sociais, inovação e transformação digital, entre outros. É também autor do livro “Os Algoritmos e Nós”, editado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos e que tem sessão de lançamento agendada para o próximo domingo, pelas 17h00, na Feira do Livro de Lisboa (Praça da Fundação).

Na altura em que concluiu os estudos secundários, Paulo Nuno Vicente estava de tal forma inclinado para o jornalismo que nem vacilou na escolha da licenciatura. A Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra tinha, na altura, “a única licenciatura que era verdadeiramente uma licenciatura em Jornalismo e não em Ciências da Comunicação”. “Era mesmo aquilo que eu queria. Hoje, sou mais ligado ao digital e à multimédia e, por vezes, pergunto-me se não fui dar uma grande volta quando podia muito bem ter ficado em NTC – Novas Tecnologias da Comunicação -, em Aveiro. Mas as coisas são como são”, confessa, em conversa com a Aveiro Mag. Não se arrepende da escolha que fez, tanto mais porque, “naquela altura, a Associação Académica tinha uma grande vida, desde a Rádio Universidade de Coimbra, com a sua secção de Jornalismo, a toda a vida académica e associativa”.

Em 2005, depois de terminar a licenciatura ruma a Lisboa para trabalhar na Antena 1, como jornalista, onde se manteve até 2013, ainda que com um período de licença sem vencimento pelo meio. “Em 2009, numa altura em que se estabeleceram parcerias com três universidades americanas – o MIT, a Universidade Carnegie Mellon, na Pensilvânia, e a Universidade de Austin, no Texas –, concorri a uma bolsa de doutoramento em Media Digitais para a Universidade de Austin, no Texas”, sendo que a bolsa implicava “critérios de exclusividade”. “Embora tenha deixado de ter atividade jornalística na Antena 1 em 2009, só em 2013 é que rescindi por minha decisão”, conta. O jornalismo parecia destinado a ficar para trás, não obstante, entre 2013 e 2017, Paulo Nuno Vicente ter estado na génese da cooperativa que originou a Divergente.pt, projeto que tem tido vários prémios de jornalismo multimédia.

Paulo Nuno Vicente em Austin (Texas) na altura do doutoramento

A pergunta torna-se óbvia: sente falta do jornalismo? “Para ser franco – e essa pergunta já me foi feita algumas vezes por alguns amigos -, não sinto nenhuma falta do jornalismo de redação. Tenho consciência que ainda tive oportunidade de exercer jornalismo e de fazer reportagem em partes do mundo nas quais hoje seria absolutamente impossível. São regiões do mundo que não fazem headlines. Sinto falta do jornalismo não enquanto jornalista, mas enquanto leitor. Enquanto cidadão. O jornalismo, hoje, está tudo muito semelhante. Há pouco risco, pouca diversidade de agendamento, pouco trabalho de profundidade. É claro que há bons exemplos – e posso fazer aqui um parêntesis de elogio à Aveiro Mag –, mas há pouco trabalho de proximidade. E sabemos muito pouco do que se passa na Madeira, nos Açores, na Guiné-Bissau, em Cabo Verde... só sabemos quando há uma visita de Estado ou quando ocorre alguma tragédia”, sustenta.

Às voltas com a Inteligência Artificial

Paulo Nuno Vicente reconhece a importância de estar estado do outro lado da “batalha”. “Muitas vezes, na investigação sociológica e antropológica sobre a área dos media, é muito fácil cair-se em justificações pelas quais os média funcionam de determinada maneira. Há uma espécie de atribuição de intenção. Nós, os que estivemos nas redações ou noutras organizações de média, percebemos que há todo um quadro de razões importante para compreender e que nem sempre há uma intencionalidade”, argumenta o também coordenador no mestrado em Novos Média e vice-coordenador do doutoramento em Média Digitais da Universidade Nova.

Foi no âmbito do seu trabalho de seu trabalho de investigação académica que surgiu o convite para escrever “Os Algoritmos e Nós”, livro que analisa a vida social dos algoritmos e a urgência de uma literacia sobre as tecnologias de Inteligência Artificial. “Embora o tema da inteligência artificial já se fale desde 1956, desde novembro, com o lançamento público do ChatGPT, houve uma perspetiva conjunta – minha e da Fundação Francisco Manuel dos Santos – de que este era um tema importante de ser tratado do ponto de vista social. O livro tem uma perspetiva complementar, de análise social, política e económica em torno da inteligência artificial e aquilo que eu chamo proliferação algorítmica, ou seja, destes sistemas de previsão e recomendação na vida social”, enquadra.

“O que eu tentei fazer nesta obra foi, por um lado, expor um conhecimento de grau mínimo sobre a área e, por outro, apresentar de forma documentada não o futuro, mas o presente: quais têm sido os resultados da aplicação desses sistemas em áreas como a educação, a contratação e o despedimento de funcionários, o local de trabalho gerido por algoritmos de produtividade... Ou seja, procurar mitigar a perspetiva, seja ela distópica ou utópica, sobre o futuro, ancorando-a na realidade presente”, revela o investigador. “Esta área é muito alimentada pela ficção científica e por uma retórica de marketing e de promessas que estão muito além do que a tecnologia atual consegue fazer. Ora, isto não facilita um debate sereno e ancorado com os pés na realidade. Foi isso que procurei fazer com este livro”, acrescenta.

Tendo crescido em Ílhavo, e mantendo ainda hoje os laços que o ligam à região de Aveiro, Paulo Nuno Vicente equaciona vir a fazer sessões de apresentação de “Os Algoritmos e Nós” na sua terra natal. “Sinceramente, para mim, teria uma carga emocional muito grande poder apresentar o livro em Ílhavo. Dedico este livro à minha professora da primária e a um professor do secundário que foi muito mais do que um professor - o professor Amorim”, destaca. “São duas pessoas de Ílhavo, ambas já falecidas, mas farei questão, quando for a Ílhavo, de fazer chegar aos seus familiares dois exemplares do livro, em jeito de reconhecimento. Para que saibam que o contributo que eles deram não se extinguiu com o desaparecimento deles”, remata.

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