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Vasco Branco: A ética da irreverência

Opinião

Rosa Alice Branco*

Falo tanto contigo, a propósito de tudo e de nada, que escrever-te é um modo de tornar menos efémeras as palavras que a laguna engole, nestes dias em que a tua cidade ostensivamente festeja o teu nascimento de há cem anos. A tua presença calcorreia as ruas através das artes espalhadas pelos dias e lugares, e acho que te encontro à beira de um canal de Aveiro, ou num museu de Paris, ou Barcelona, nessas viagens que a família fazia à procura de Arte, aberto o teu sorriso de uma irreverência cheia de bondade e inteligência.

Acho que a cidade gosta da irreverência do teu amor, da impopularidade dos teus percursos dilectos, da singularidade das tuas deambulações, seja na vida, no cinema, na escrita ou nas artes plásticas. No Roteiro Impopular de uma cidade, os devaneios e convicções são atirados como uma provocação a cindir a cidade em duas, mas creio que só desamaste nela algumas atitudes e hábitos pantanosos que iam contra a ética que a própria cidade emanava da claridade do seu espelho de água, porque dizes querer-lhe tanto que até os mais censuráveis defeitos te enfeitiçam.

Ao ver-te em tudo o que nos legaste, percebo que devo sair a ti no meu amor pelas pequenas imperfeições, pela assimetria, as aparentes contradições que tornam a arte mais desafiante e a vida mais apaixonante.

Atiras a cabeça para trás, enquanto me explicas com uma vivacidade luminosa a técnica dos engobes e argumentas contra a improbabilidade de haver unicamente vida neste planeta. É bom ouvir-te, pai, caminhar ao teu lado e partilhar o toque irreverente da tua perspectiva cubista de ver os factos, como se emergissem de uma nova experiência pictórica. É nas horas da noite que eu e a mãe fazemos à vez o déclic para o novo filme de animação, em que és exímio. E é depois do almoço que nos sentamos a ouvir um capítulo dos Generosos delírios da Burguesia, ainda sentados à mesa cheia de páginas que eu desfolhava, sofregamente, na minha cabeça.

E depois fazes uma pirueta e vais até ao Trianon, porque a arte da vida nem sempre é fácil para todos e é preciso velar pelos desagasalhos e lutar pela vinda de um amanhã. E contas-me de como a fome custa menos para desaparecer do que uma parcela do dinheiro esbanjado em armamento nuclear, abres o gira-discos e começamos a dançar, porque és um homem de coexistências improváveis e benéficas.

Digo-te isto enquanto deambulo pela cidade líquida que te fez aquilo que serás para nós e volto à infância. Sinto que vou pequena pela tua mão, pelas tuas histórias que são sempre ensinamentos salpicados de um humor risonho.

Os teus feitos, o amor visível pelas gentes, permanecem na nossa casa, que continua a casa aberta que a cidade sempre vivenciou, agora como VIC, lugar de encontros na VIC e projectos conspirados na VIC. E os encontros culturais e as conspirações contra o regime para um mundo melhor tomaram hoje, na VIC //Aveiro Arts House, a forma da irreverência ética e estécica que nos legaste.

Pai, estamos debruçados sobre a ria, ali em frende às casas Arte Nova, sobre as quais desenhas comentários e eu fico presa ao teu olhar límpido e não sei se é mais líquida a cidade ou a transparência dos teus olhos.

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