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Famílias da região prontas para receber meninas de Chernobyl

Sociedade

Depois de várias semanas de tensão, na madrugada desta quinta-feira, a Rússia lançou uma ofensiva sob a Ucrânia. Os bombardeamentos atingiram alvos militares, mas também áreas civis e, de acordo com as autoridades ucranianas, há já mais de cinco dezenas de mortos a lamentar. À hora da publicação deste artigo, de acordo com a LUSA,as forças miliares russas já terão tomado a central nuclear de Chernobyl. Recorde-se que, apesar de permanecer sob acesso restrito desde o desastre nuclear de 1986 – devido aos elevados níveis de radioatividade – a zona em torno da central situa-se na rota mais direta entre Kiev e a fronteira bielorrussa, o que confere à área especial relevância estratégica em tempo de conflito.

É também nessa área, entre Chernobyl e a capital ucraniana, que vivem Kateryna, Diana e Anastacya. Ao longo de vários anos, estas adolescentes ucranianas foram acolhidas por famílias aveirenses, ao abrigo de um programa solidário de uma empresa de seguros, para um mês de férias longe das radiações. E mesmo depois de o projeto ser extinto, estas famílias conseguiram vencer todas as contrariedades burocráticas, o corte no patrocínio e as contingências da situação pandémica, voltando a acolher as “suas” meninas no Natal passado.

É, por isso, com particular alarme e preocupação que Alice Sardo e Pedro Viçoso têm acompanhado os desenvolvimentos do conflito entre a Rússia e a Ucrânia. Kateryna, por sua vez, tem tentado tranquilizar o casal ilhavense. “Quando, no domingo, falámos com a Kateryna, disse-nos que estava tudo calmo por lá e isso descansou-nos. Ainda pensámos que podiam ser as televisões e as agências de notícias a exagerar nos relatos que nos faziam chegar”. Esta madrugada, contudo, o cenário mudou de figura.

Nesta quinta-feira, Alice saiu de casa cedo, sem ter tido a oportunidade de ver as notícias da manhã. Pouco tempo depois, uma chamada de Pedro, que tinha trocado algumas mensagens com Kateryna, apanha-a de surpresa. “A Kateryna contou-nos que estava a sair de casa com a mãe, que estavam com muito medo e que iam refugiar-se numa aldeia”, partilha Alice, não escondendo a aflição e desassossego que lhe apertam o coração. “Ficámos verdadeiramente assustados. Parece que, desta vez, é mesmo a sério”, comenta, relativamente à ofensiva militar russa sobre a Ucrânia. “Quando a Kateryna esteve cá pela última vez, em dezembro e janeiro, dizia que o Putin era mesmo assim, que fazia muitas ameaças, mas nunca acontecia nada”, recorda a ilhavense, em entrevista à Aveiro Mag, lamentando: “De repente, fez-se valer da sua força e prepotência e a guerra está mesmo a acontecer”.

Kateryna reside em Ivankiv, a pouco mais de oitenta quilómetros a noroeste de Kiev. Ainda mais a norte, em Radynka, vive Diana, a menina que Lurdes Vieira acolhe em sua casa, todos os anos, e com a qual também tem trocado várias mensagens nas últimas semanas. “Ela dizia-me que estava tudo calmo, que o conflito era só a Leste”, conta Lurdes. “Hoje de manhã, quando acordo, vejo que tenho uma mensagem dela, enviada às cinco e quarenta da madrugada . Dizia que tinham começado os bombardeamentos”. Tal como Alice, àquela hora, ainda Lurdes não sabia dos mais recentes acontecimentos. “Fiquei desesperada! Trocámos logo algumas mensagens, percebi que ela estava em casa e que, embora estivessem a ser bombardeados, estava bem”.

Sem nada poder fazer para que Diana viaje para Portugal, Lurdes sente-se “de mãos e pés atados”. “Ainda estive para os aconselhar a contactar a embaixada portuguesa na Ucrânia, mas só estão a garantir transporte a partir da Polónia. Como é que eles vão para a Polónia?”, questiona-se. A fronteira com a Polónia está a cerca de 500 quilómetros da zona onde vivem estas adolescentes. Consternada, Lurdes continuará em contacto com Diana, confessando, todavia, o receio de que, a qualquer momento, as comunicações sejam cortadas.

Kateryna com Alice e Pedro e Diana com Lurdes, em dezembro de 2021

Lurdes acredita que o pai de Diana possa já ter sido convocado para a frente de batalha. Militar na reserva, esteve até há um ano em Donbass, a região do sudeste da Ucrânia que compreende as províncias de Donetsk e Lugansk, ocupadas por grupos separatistas apoiados pela Rússia. Quem também já se despediu da família para rumar à frente de combate foi o pai de Anastacya. A menina que, todos os anos, é acolhida por Tânia Pinto e Tiago Sousa, em Ovar, está em casa com a irmã, a mãe e a avó. Em conversa com a Aveiro Mag, Tânia relata um dos últimos contactos com Anastacya: “Atendi o telefone e ela disse-me ‘Tânia, a guerra começou’... Há pouco, mandou-me uma mensagem a dizer que um avião russo tinha acabado de cair próximo da vila onde ela mora”. Em videochamada, Anastacya “ainda não chorou”, mas Tânia compreende-lhe o olhar triste e assustado. “Trata-se de uma família com algumas dificuldades financeiras. Não têm carro, para tentar sair da Ucrânia. Estão entregues à sua sorte”.

Caso Kateryna, Diana ou Anastacya consigam abandonar a Ucrânia, é quase escusado dizer-se que estas famílias estão “de portas e braços abertos” para as acolher. “Recebo-a a ela, ao irmão e à mãe, se for preciso!”, disponibiliza-se Lurdes. No caso de Anastacya, a vinda para Portugal até esteve prestes a acontecer no início desta semana. No entanto, à última hora, motivados pelos apelos à calma e à união dos ucranianos e pelas garantias de segurança veiculadas por Volodymyr Zelenskyy, presidente da Ucrânia, a família acabou por voltar atrás, decidindo que não havia necessidade de a menina sair do país. “É um sentimento de impotência enorme”, descreve Tânia. “Na altura em que podíamos ter feito alguma coisa, não nos permitiram; agora, que a ajuda é tão necessária, não conseguimos fazer nada”, sublinha a ovarense, com revolta e desalento.

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