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Directamente de 2024

Opinião

Ricardo Ferreira de Mascarenhas *

Aveiro, 25 de Agosto de 2024

Uma tal ética republicana, muito aclamada mas que andava pelas ruas da amargura, tem por estes dias a hipótese de ressuscitar. E não é que agora todos, mas mesmo todos, podem dizer o que pensam e apresentar as suas ideias por mais malucas que sejam. Nas últimas legislativas houve candidatos vindos das extremas e até monárquicos. Houve gente a defender o fim dos pobres, o fim dos ricos, o regresso do rei, enfim, houve tudo.

Passam agora seis meses desde as últimas eleições legislativas em Portugal. As primeiras efectivamente livres em mais de cem anos desde o golpe final da carbonária. Nunca pensei que fosse acontecer tal dia. Uma glória que foi notícia em todo o mundo como uma referência: um povo que evoluiu e é hoje uma referência. Magnânimo.

Pela primeira vez houve candidatos livres, independentes, que apresentaram as suas ideias e as discutiram. Foram notáveis os embates que houve, como por exemplo o de Oliveira do Hospital, onde se mostrou a relevância do investimento na cultura. Os concidadãos presentes, independentemente do estrato económico ou social, conheciam os programas dos candidatos e a discussão centrou-se nas ideias, na estratégia, na ambição.

E isto foi assim por todo o país, desde o Funchal até Vila Real. As pessoas participavam activamente, sabiam o que estavam a discutir e faziam-no fundamentadamente. Encheram-se pavilhões de gente ávida por participar no futuro do nosso país de forma genuína, como há muito não se sentia. Não se falou de cores, clubes, interesses, corrupção. Não se difamou, não houve intriga, não houve jogos de bastidores. Não houve jogos de sondagens, não houve dinheiro esbanjado em cartazes e propaganda de fancaria. Não houve pagamento de favores.

No fim da campanha os candidatos anunciaram o compromisso de, quem quer que ganhasse, adoptar as melhores ideias, mesmo que fossem as de um adversário. A política ainda pode ser nobre.

Assim aconteceu. O candidato que ganhou apresentou um programa reformulado, uma estratégia, onde englobava as melhores ideias apresentadas pelos adversários e discutidas ao longo da campanha.

E o que dizer da equipa governamental? Esplêndida. Composta por pessoas de real valor e competência. Uns de direita, uns de esquerda, nobres e pobres. Nunca imaginei ser possível em Portugal um governo escolhido com base na qualidade e no mérito e com o foco na melhor gestão do país. Será que o tempo da desgovernação partidária e política terminou mesmo? Afinal é possível ter diferentes posições políticas num só governo. Afinal a discussão permite-nos avançar mais fortes.

Ao fim de três meses de trabalho o governo anunciou a situação verdadeira. As contas não são as melhores, fruto de cinquenta anos de desvarios, mas há uma estratégia que permite inverter a situação. Dá para acreditar que o governo pediu que houvesse um referendo sobre a sua estratégia política e económica? E que partilhou toda a informação com todos?

O parlamento, onde há cem deputados em exclusividade que, tal como o primeiro-ministro, se submeteram à escolha popular em nome próprio e assim foram escrutinados, tem-se mostrado uma força activa quer de controlo do governo quer na apresentação de legislação válida, bem-feita e sem recorrer à sub-contratação. Hoje sente-se o parlamento como uma força viva no dia-a-dia do país e a trabalhar com base em lealdade, honestidade e mérito. Acredita que as leis que foram “cozinhadas” nas sociedades de advogados estão a ser todas analisadas e revistas?

Claro que andam por aí os gritos do costume. Aqueles habituados ao esquema partidário andam possessos. Pois, ainda não disse, os partidos foram afastados das listas de candidatos. No referendo do ano passado, com mais de três quartos de votos a favor, foi aprovada a decisão de não permitir a participação em actos eleitorais de partidos políticos em Portugal. Os candidatos a cargos políticos terão que ser pessoas.

Era público que democracia interna nos partidos não existia, que valia tudo para ganhar e para ter poder. Toda a gente sabia que os partidos não eram mais que espaços de conveniências e pressões pouco claras. A escolha era feita por compadrio e por interesse. O mérito não tinha lugar e depois era esta gente que era escolhida para lugares de responsabilidade e gestão do país. Favores que tinham que se pagar… Estes e os outros, pois a vida de um partido era muito cara e de algures vinha o dinheiro. E quem punha o dinheiro não esperava somente pelos milagres de Fátima! Foi, obviamente, um fim lamentável. Tinham sido criados com o propósito inverso, de serem espaços de discussão, mas ao longo do tempo transformaram-se no que eram agora. Estavam pejados de gente sem categoria que percebeu que através dos partidos se podia governar e ascender sem controlo.

Ao fim de cinquenta anos de um novo estado, onde a democracia a muitos serviu para se servirem em vez de servir o país, onde houve sangue derramado à custa de transições políticas mal conduzidas pelos infantes de Lisboa há, finalmente, um modelo de gestão indiscutivelmente democrático.

Tal acontece como um reflexo da evolução social que houve. Nos últimos anos as conversas de café deixaram de lado as contratações da bola e os resultados do futebol e passaram a ser mais abrangentes. Discute-se música, literatura, pintura, engenharia, enfim temas da enorme tela que enche a vida. As pessoas conhecem a história do país e do mundo, discutem factos. Os serões nos cafés, mesmos os das pequenas aldeias e bairros, são animados com teatro, boa música e outras artes. Se se deixou totalmente de falar de futebol? Não, claro que não, mas desporto não é só futebol e agora as pessoas também se interessam e falam sobre esgrima, hóquei em patins, judo e tantas outras modalidades… Tem crescido por todo o país a prática desportiva diversificada.

E tanto tinha ainda para escrever mas, enfim, estes parágrafos não passaram de exercício de sonho que não será realidade em Portugal num futuro tão breve quanto o desejável.

* O autor escreve ao abrigo do antigo Acordo Ortográfico
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