O que inicialmente a atraiu para esta arte?
Sempre gostei de cozinhar e de fazer sobremesas; havia sempre as festas de aldeia e de família; no Natal era sempre muita gente à mesa, havia sempre muita comida e sempre me senti atraída pela confeção, principalmente de doces. Desde pequenina que ajudava a minha mãe e as brincadeiras com o meu irmão passavam muito por fazer programas de televisão onde fazíamos de conta que cozinhávamos.
Como se inspira para criar novos formatos e sabores?
Comecei com poucas variedades, fui pesquisando receitas e fui alterando; por exemplo, as bolachas de aveia/laranja surgiram de uns biscoitos que fazia quando era adolescente, que levavam cereais integrais e raspa de laranja, e esse sabor ficou; mas depois queria um sabor mais de verão e lembrei-me dos sabores de coco e lima; então vou criando receitas sempre nessa base. As brigadeiroscas, que são as que se vendem mais, surgiram porque achei que tinha que criar umas bolachas para os amantes de chocolate; então pensei numa bolacha de chocolate com recheio de brigadeiro. Ultimamente, tenho lançado bolachas mais tradicionais, como as raivas, os húngaros e os almendrados.
Como descreve esse processo criativo?
Sou sempre a primeira pessoa no crivo; com os almendrados, por exemplo, foi um processo difícil, porque já existia muita oferta no mercado; então acaba por ser por experiência, vou tentando, adaptando as receitas e alterando os ingredientes até chegar à receita que considero perfeita para colocar à venda.
Quais os maiores desafios que enfrenta no processo de produção?
São o tempo e o nível de investimento necessário. Este negócio da área alimentar obedece a muitas regras; as embalagens têm que ter tabelas nutricionais; também valorizo muito a imagem, portanto cada variedade de bolachas tem a sua etiqueta correspondente, com padrões diferentes que permitam a sua identificação. O facto de neste momento dispor de 17 variedades também dificulta que esteja sempre a criar novas, até porque as pessoas conhecem as que já existem e gostam, pelo que tenho dificuldade em retirar, mesmo as menos vendidas, e substitui-las, porque sei que aquelas bolachas também têm clientes. Só nas fases em que tenho menos trabalho é que me vou conseguindo reinventar. Na época do Natal, por exemplo, é impossível, porque começo em setembro e não paro mais.
Que aspetos considera que fazem uma grande diferença na qualidade das suas bolachas?
Para já, o facto de acompanhar todo o processo, também porque tenho alguma dificuldade em delegar tarefas; confio muito em mim, apesar de ser perfecionista e achar que as coisas podem sempre ficar melhores, sei que o que sai daqui está no ponto. Depois é o facto de as minhas bolachas não terem quaisquer conservantes ou aromas artificiais adicionados. Também a grande variedade de sabores naturais e, finalmente, a forma como me aproximo das pessoas; vejo-me como uma pessoa naturalmente simpática e crio uma ligação verdadeira com os meus clientes.
Quais foram os primeiros passos na transformação desta paixão num negócio?
Eu trabalhava com design, a empresa para a qual trabalhava fechou, e decidi continuar a trabalhar por conta própria nessa área, ficando com mais tempo para acompanhar o meu filho (na altura ainda só tinha um). Com a crise na construção, fiquei sem trabalho e tive que me reinventar: “O que é que eu vou fazer agora?”. Passado duas ou três semanas, a ideia das bolachas surgiu de forma natural. Não só achei logo a ideia espetacular, como foi o meu intuito de sobrevivência a funcionar naquele momento.
Qual o papel que a sustentabilidade desempenha na sua prática?
Desde o início sempre tive a preocupação de que as minhas embalagens fossem compostas pelo mínimo de materiais possível; ainda não encontrei nada melhor para conservar as bolachas do que o plástico, mas o que uso é reciclável. Também reutilizo sempre as caixas para enviar as encomendas, de forma a não imputar custos ao consumidor.
Como gostaria de ver o seu negócio evoluir nos próximos anos?
Quero que continue a ser um negócio pequeno, com uma produção limitada. Trata-se de bolachas artesanais, com uma identidade muito própria, e é um projeto muito meu. Também me permite ter tempo para me poder dedicar a outras paixões que tenho, como dar aulas de desenho ou pintar os meus quadros. Para mim é muito importante sentir, mesmo que seja apenas teoricamente, a liberdade do tempo.