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José António Christo: Santa Joana trouxe “prestígio e notoriedade” a Aveiro

Património

Qualquer referência a Santa Joana tem que vir, obrigatoriamente, acompanhada de uma menção ao Museu de Aveiro, antigo Mosteiro de Jesus. Foi ali que a princesa, filha de D. Afonso V e de D. Isabel, escolheu viver até à sua morte, a 12 de maio de 1490. Já lá vão mais de 500 anos mas a presença da princesa naquela que foi a sua casa na então vila de Aveiro continua muito vincada. Que o digam os muitos aveirenses (e não só) que ali afluem, com regularidade, em sinal de devoção. José António Rebocho Christo, diretor do Museu de Aveiro – Santa Joana, é testemunha dessa veneração. Na verdade, é mais do que isso. Cresceu a adorar a padroeira da cidade e talvez tenha sido essa vivência a grande responsável pela carreira que escolheu.

Nesta semana em que a cidade e o município de Aveiro se voltam para Santa Joana (com o auge no dia 12 de maio, feriado municipal), fomos conhecer a sua casa, guiados por aquele que é o seu principal guardião. “Esta é, efetivamente, a casa que ela escolheu”, realça o diretor do museu, recordando que, quando decidiu ingressar num convento, a princesa ainda passou por Odivelas e teve programada a ida para Santa Clara, em Coimbra. “Durante a viagem para Coimbra, eis a surpresa das surpresas para o nosso rei, ela anuncia que quer vir para Aveiro”, recorda. Joana ingressaria assim, em 1472, no Mosteiro de Jesus, na então vila de Aveiro. “A ama de leite da princesa estava a viver aqui no convento e aquilo que sabemos é que, seria através de cartas que trocaram, que ela tem a nota de que esta era uma casa de grande humildade e espiritualidade”, acrescenta José António Christo.

Dentro do convento, e segundo é relatado no Memorial da Princesa Santa Joana - documento produzido no Convento de Jesus, que serviu de base à sua beatificação em 1693 e hoje é o documento principal para a sua canonização (em curso) -, a filha de D. Afonso V viveu da forma “mais discreta, dentro do possível”. “Ela nunca pode professar, uma vez que o pai só lhe permitiu fazer dois votos, o de pobreza e de obediência. O terceiro voto, o de castidade, é apenas um voto interior, que ela faz perante uma imagem de um crucificado, que ainda hoje existe no nosso Coro Alto. E isto porquê? Na iminência de ela ter de ser chamada à sucessão no trono, seria muito complicado se ela tivesse feito o voto de castidade”, desvenda o diretor do museu. Quer isto dizer que “o estatuto que ela teve dentro da casa foi sempre de noviça” e também “nunca deixou de ser quem era”. “Tinha um jardim privativo, teve a prerrogativa de criar cá o D. Jorge, filho bastardo de D. João II”, explica.

A princesa viria a falecer a 12 de maio de 1490, aos 38 anos de idade, na Sala do Lavor do convento. “Ela morre às 2h00, amparada pela D. Maria de Ataíde, filha da fundadora do convento e que viria a ser uma das prioresas mais importantes do convento. E a descrição que nós temos é que a sua morte pesou brutalmente, não só no convento mas em toda a vila de Aveiro pela generosidade que ela tinha para com os pobres”, descreve aquele responsável. “Havia um espectro muito grande de gente que ela auxiliava”, acrescenta.

E se essa magnanimidade já era motivo mais que suficiente para as gentes da vila lhe estarem eternamente agradecidas, também é verdade que Santa Joana – que viria a ser beatificada em 1963 - fez com que a vila de Aveiro adquirisse um “prestígio e notoriedade” que não tinha até à sua vinda para o Convento de Jesus.

Um museu que também é um local de culto

Desde 1711 que os restos mortais da princesa repousam no Museu de Aveiro, sendo o seu túmulo, ainda hoje, um dos principais atrativos do antigo convento. “Temos essa excecionalidade de sermos um museu e também um local de culto. Felizmente, tem havido sempre da parte das entidades que presidem ao museu esta compreensão de que é incontornável a parte cultual da existência do museu. E temos a prerrogativa de que, quem entra no museu em termos de culto, tem sempre acesso e entrada livre à igreja e ao túmulo”, repara o diretor.

José Luís Christo garante que são muitos aqueles que ali afluem com o objetivo de venerar ou pagar promessas a Santa Joana. “O tapete de arraiolos que temos neste momento junto ao túmulo, foi bordado por uma senhora que o veio oferecer”, exemplificada. “Há dois, três anos, veio parar ao museu um ex voto de uma senhora do Algarve, que tinha psoríase já numa fase muito dolorosa, que pediu as melhoras e três meses depois estava quase curada”, acrescenta.

Um diretor criado como “irmão” da princesa

José António Rebocho Christo, 53 anos, não esconde a sua ligação à padroeira da cidade onde cresceu. Natural de Angola, veio para Portugal com 3 anos e um dos primeiros acontecimentos da sua vida passou por tornar-se "irmão" da princesa - passou a integrar a Irmandade de Santa Joana. “Em termos familiares há uma grande ligação. O meu avô, além de ser um grande devoto, era também investigador acerca de Santa Joana, e a minha avó foi, durante muito tempo, quem tomou conta do altar de Santa Joana aqui na Igreja de Jesus”, enquadra. “Acabei por apanhar desde miúdo todas estas dinâmicas”, confessa, reconhecendo que esta vivência teve forte influência no seu percurso profissional. “A minha presença nesta casa é quase que uma influência natural. Eu vivia portas meias, quando era pequenito vinha brincar ou para o jardim ou para dentro do museu. Santa Joana acompanhou-me desde sempre e é um privilégio ter este à-vontade dentro da casa dela”, testemunha.

Licenciado em História da Arte pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, José António Rebocho Christo exerce, desde 1993, as funções de conservador do Museu de Aveiro, unidade à qual começou por ligar-se ainda como voluntário. “Ainda estava a tirar o curso quando estive aqui a fazer voluntariado, a estudar a coleção de escultura”, recorda. Pouco tempo depois, viria a ser convidado, pela então diretora Maria Lobato Guimarães, a integrar a equipa do museu. “Ela não tinha maneira de me contratar, a não ser que fosse como pessoal de limpeza a tempo parcial (risos). Foi o meu primeiro emprego e eu fiquei feliz da vida porque estava a trabalhar no museu”, lembra, sem pudor. Em 2015, assumiu a direção do museu.

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