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Fátima Alves: de “menina” do Forte da Barra a administradora do porto

Sociedade

Chegou à presidência do Conselho de Administração do Porto de Aveiro (APA) vinda diretamente da área académica, onde liderou investigações em matéria de ordenamento do espaço marítimo e das zonas costeiras. Ainda recorda com exatidão o momento em que recebeu o convite para ocupar o cargo, nunca antes assumido por uma mulher. Estava em pleno aeroporto, prestes a embarcar num avião. Já lá vão praticamente dois anos desde que foi desafiada pela ministra do Mar de então, Ana Paula Vitorino, a abraçar um novo e exigente desafio.

Fátima Lopes Alves sente o peso da responsabilidade que lhe foi confiada, mas está determinada a continuar a trilhar o caminho do crescimento. Com a ajuda da sua equipa e dos colaboradores da APA, que vai mencionando em vários pontos da conversa que teve com a Aveiro Mag. Uma entrevista com direito a um curto passeio na menina dos seus olhos: a área do Forte da Barra, onde Fátima Alves passou a sua “meninice” e que tudo fará para ver completamente renovada.

Aqueles que assistiram à sua intervenção (ou leram o seu discurso) aquando do lançamento do concurso que permitirá transformar o antigo forte num hotel de charme, perceberam que não estavam em causa apenas frases feitas. “Os meus avós eram donos da Pensão Jardim e foi aqui que eu, os meus irmãos e os meus primos, passámos a nossa infância. Recordo-me que, quando comuniquei à minha mãe que vinha ocupar este cargo, foi, para ela, uma grande emoção. Era um regressar às origens”, confessa. “Aprendi aqui a nadar, a andar na bicicleta, era aqui que brincava”, recorda numa viagem ao passado apoiada por fotografias como aquela que ousou replicar enquanto passeava com a Aveiro Mag no jardim do forte.

“Toda esta zona era procurada para férias, era um lugar muito aprazível e dá pena ver este património, este burgo, todo degradado”, repara, assegurando que a sua equipa está determinada em recuperar aquela área. A par com a requalificação do edifício do forte (que será, então, adaptado a hotel) e da antiga pensão Jardim (está agora ligada a um projeto de kytesurf), está prevista a recuperação do antigo edifício da JARBA, Junta Autónoma da Ria e Barra de Aveiro. “Há um projeto para esse imóvel que prevê um espaço de memória, não só do que foi o Porto de Aveiro, mas também com alguns dos achados encontrados na ria, e também uma pequena oficina para as escolas”, desvenda.

De trabalhadora-estudante a administradora

Fátima Alves, 58 anos, nascida e criada em Aveiro, é uma dessas mulheres que não esquece as origens. Sentada na cadeira da presidência da APA fala, sem qualquer tipo de pudor, dos seus tempos de trabalhadora-estudante. Tirou a licenciatura ao mesmo tempo que trabalhava e, antes disso, enquanto compleava o 12.º ano, já tinha passado por um consultório de dentista, trabalhando como ajudante. “Trabalhava três tardes por semana e estudava à noite”, lembra, a propósito dessa época em que acabou por conhecer o marido, na altura “um bonito jogador da bola”. Casaram cedo, com 20 anos, e já somam 38 anos de união e dois filhos.

O casamento não foi impedimento para que Fátima Alves continuasse a trabalhar e a estudar. Por sugestão da mãe, acabou por candidatar-se a uma vaga de administrativa no Hospital de Aveiro, e, igualmente influenciada pela mãe, decidiu tirar um curso superior. “A minha mãe tinha aquela vontade de que eu não me ficasse apenas por administrativa”, testemunha. Candidatou-se e entrou na licenciatura em Planeamento Regional e Urbano. Durante muito tempo, viveu a mesma rotina: trabalhava no hospital das 8h00 às 15h00 e atravessava, depois, a estrada para ir para a UA das 15 às 20h00. “Acabou por se tornar muito cansativo, tenho que confessar, e quando surgiu a oportunidade de ir dar aulas de Geografia para Esgueira aceitei, porque conseguia ter um horário mais compatível com o meu curso”, conta.

Ao contrário da maioria dos colegas que só estudavam, Fátima Alves não conseguiu acabar a licenciatura nos cinco anos de duração do curso – precisou de mais dois -, mas a verdade é que nunca mais parou. Fez mestrado em Planeamento e Projecto do Ambiente Urbano (na Faculdade de Engenharia e Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto), doutoramento em Ciências Aplicadas ao Ambiente com dissertação intitulada “Gestão Sustentável da Zona Costeira – contributos para um modelo de avaliação”, e agregação em Ciências e Engenharia do Ambiente, ambos na Universidade de Aveiro. “As oportunidades foram surgindo e fui trilhando o meu caminho, sempre com convicção”, repara, reconhecendo e agradecendo o suporte da família para que pudesse desenvolver uma carreira que a levou a viajar muito.

Fátima Alves fala com particular orgulho do tempo passado na Universidade de Aveiro, regozijando-se por ter criado um núcleo de investigação, ligado à gestão integrada das zonas costeiras, “que foi pioneiro em Portugal” e “teve um reconhecimento nacional e internacional muito grande”.

Uma mulher num mundo de homens

Quando foi confrontada com o convite endereçado por Ana Paula Vitorino, não precisou de muito tempo para decidir. Confessa que sentiu alguma surpresa, atendendo a que estes lugares são, tradicionalmente, “de nomeação política” e ela não tinha, nem tem, filiação partidária. E também era a primeira mulher a chegar à presidência – Helena Nazaré já tinha integrado a administração do Porto de Aveiro, mas não como presidente. “O mundo é muito masculinizado nos portos, há muito poucas mulheres em cargos de decisão”, admite.

Prestes a completar dois anos no cargo e nas vésperas do Porto de Aveiro comemorar o seu 213.º aniversário (foi a dia 3 de Abril de 1808 que se registou a abertura da Barra de Aveiro), Fátima Alves olha para o trabalho já realizado e também para o futuro. “Por conta da pandemia, não tivemos números brilhantes em 2020, mas também não tivemos quebras brutais. E olhamos para os meses de janeiro e de fevereiro e os números já são muito interessantes”, refere.

“No ano passado, tivemos um decréscimo na ordem dos 11 por cento, mas em janeiro já tivemos um acréscimo, face ao período homólogo, de 14 por cento, e o de fevereiro também registou em crescimento, ainda que menos acentuado, de 4 por cento. Portanto, acho que estamos numa linha ascendente e num aumento muito grande investimento por parte das empresas e dos operadores que estão no Porto de Aveiro”, evidencia.

* Créditos das fotos: Afonso Ré Lau

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