Por vezes procuramos a felicidade nos locais mais estranhos... no fundo de um copo, num último cigarro, e até numa ilusão.
Outras vezes nos mais óbvios ... na areia de uma tarde quente de outono, num abraço provável, numa tarde de amor e sempre nas páginas de um livro aberto.
Depois, com o tempo, acabamos por construir o nosso próprio livro.
Aos pequenos fragmentos de história, juntamos, mexendo bem, outras estórias que a pouco e pouco acabam por se fundir com a nossa e preenchem páginas em branco.
Até que um dia a felicidade chega sob a forma de um flare que entra de rompante e transforma a vida num simples mas sincero sorriso.
O Amor, esse ...
É um sentimento ainda mais inexplicável, e do que percebi ontem mesmo à minha frente na esplanada do Zig Zag ... O Amor OUVE-SE.
"Vai correr tudo bem" - disse ele com voz trémula de octogenário e nervoso supostamente escondido, enquanto contava umas moedas para os chás.
Ela limpou uma lágrima com o lenço de bolso dele.
Ele aconchegou a com um abraço.
Dou por mim a pensar... Como gosto desta palavra. Aconchego.
Não era o menu, era uma ecografia pulmonar.
"Vai tudo correr bem." - Ele disse com voz credível. Ela fingiu acreditar com um aceno mentiroso.
Sempre se amaram assim, misturando pequenas mentiras piedosas misturadas no mais absoluto e terno respeito e cumplicidade.
Nesse instante apeteceu-me telefonar à minha Avó Maria Clementina. Mas já não consegue atender.
Ficou transparente desde janeiro.
* Dedicado a Ana Portela