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Vasco Calixto: o que é que eu, enquanto ser humano, posso fazer pelo mundo?

Sociedade

Tem 19 anos e uma vontade incessante de ter, de alguma forma, um impacto positivo no mundo em que se move. E não se fica pela vontade.

Ainda antes de terminar o Ensino Secundário, Vasco Calixto, com origens em Oliveira de Azeméis, começou a estudar opções de voluntariado noutros pontos do globo. Sabendo querer seguir Medicina – tendo-se até inscrito no curso na Universidade do Minho –, decidiu que a melhor altura para um gap year seria o ano após terminar o Ensino Secundário. Sentou-se ao computador a explorar potenciais experiências fora e deparou-se com o workaway.info, uma plataforma onde se concentram vários projetos, desde quintas biológicas ao ensino de línguas em países distintos.

Centrou energias na procura, com o apoio dos que o rodeavam, e começou a trabalhar numa agência de viagens de finalistas para, assim, tecer o seu pé de meia.

Em janeiro de 2019, partia para a sua primeira aventura – Cabo Verde e uma oportunidade de voluntariado na área da proteção animal. Seguiram-se Israel, Palestina, Índia, Myanmar e, por fim, Quénia, país que permanece no seu imaginário e dá corpo a projetos no presente.

Hoje, ao contrário do que havia planeado, Vasco estuda Economia no ISCTE, em Lisboa, uma escolha que, com os quilómetros e as experiências que foi colecionando, se fez inesperadamente inevitável.

A zona de conforto e o colecionar de perspetivas

Nas pesquisas que realizou, Vasco encontrou em Cabo Verde um primeiro projeto que se decidiu a abraçar: uma oportunidade de voluntariado com uma organização dedicada à proteção animal na ilha de São Vicente, cidade do Mindelo. Aí, na Simabo, organização fundada por dois italianos, Vasco era responsável por passear os cães e fazer parcerias com Associações de Estudantes de Medicina Veterinária portuguesas, fazendo a ponte para que outros pudessem fazer voluntariado com a organização detentora de abrigos animais, uma clínica e um hostel que, com os turistas que vão e vêm, garante a sustentabilidade dos projetos.

Terminado o período com a Simabo, viajou por Cabo Verde e retornou a Portugal, para mais tarde partir rumo a Israel, país que sempre o fascinou pelo contexto político e social em que se aninha. “Sempre achei que temos uma visão muito superficial das coisas”, conta o jovem, que sempre se viu curioso em relação àquele pedaço de mundo e ao que com ele faz fronteira – a Palestina. “Quis ir e falar com as pessoas, perceber as dinâmicas, e fazê-lo de mente aberta”. Vasco aventurou-se no couchsurfing, cruzando caminho com pessoas e perspetivas diferentes, fez voluntariado num hostel e viajou de boleia com um amigo de Jericho até Ailat, no sul do país. “É muito fácil catalogar”, explica, “mas convém querer perceber o que motiva as pessoas a agirem desta ou daquela forma”.

Terminada a expedição em Israel e na Palestina, tornou a terras lusas para, pouco depois, rumar à Índia. Em Nova Deli, fez voluntariado numa favela, com uma organização que procura garantir que crianças da pré-primária e primária têm forma de usufruir do seu direito à educação. Aí, Vasco, que dinamizava atividades com os pequenos, lançou uma campanha de angariação fundos para dar continuidade a um programa que assegurava a alimentação diária dessas crianças, certo de que uma refeição completa e nutritiva pode ser porta para o vasto universo das letras.

Em território indiano, nada mais tinha planeado à exceção de um voo marcado com partida de Goa. As três semanas que se seguiram foram passadas a viajar “à toa”, de transportes públicos e a pernoitar em hostéis baratos. Esteve em Agra, no estado de Uttar Pradesh, e seguiu para o Rajastão, onde apanhou os dias mais quentes da sua viagem. Esteve também em Mumbai e depois Goa, onde se deixou fascinar pelos edifícios que faziam lembrar casa. “Parecia Lisboa no meio da selva”, conta. Procurou ativamente pessoas que falassem Português e acabou por entrar num restaurante de nome Caravela, onde o homem que o atendeu ficou de tal forma feliz pela troca de palavras na língua de Pessoa que se sentou à mesa com Vasco, como qualquer bom Português, a comer e a conversar incansavelmente.

Seguiu-se o Myanmar, país de uma miscelânea de etnias e realidades, que encantaram o espírito curioso de Vasco. No mês que aí passou, viajou, de Mandalay, para Norte, num pequeno comboio que em muito se parecia com o Vouguinha. Passou vários dias em zonas remotas, onde fez trekkings por paisagens de uma beleza quase inexplorada e onde, curiosamente, encontrou uma fotografia de Cristiano Ronaldo, tirada de um velho anúncio publicitário. “Não queria acreditar”, conta Vasco, que tão longe estava de tudo o que se assemelhasse a casa.

Esteve na capital, a cidade fantasma de Naypyidaw, e daí foi à boleia até Yangon, onde fez voluntariado num centro que, fundado por um monge budista, acolhe pessoas que precisam de algum tipo de apoio e cuidado.

“Foi o sítio onde lidei com maior degradação humana”, conta Vasco, que, juntamente com outros voluntários, dava banho a pessoas que não o conseguiam fazer sozinhas, dava apoio na fisioterapia e prestava o chamado patient basic care. O jovem garante, porém, que aquele é um projeto “incrível”, que salva muitos do abandono e, até, da morte.

Quénia e a Soweto Youth Initiative

Do Myanmar, Vasco partiu para o Quénia, onde viria a integrar um projeto que traria nas algibeiras de volta ao ninho. A Soweto Youth Initiative, organização comunitária de origens no movimento escutista, procura devolver alguma normalidade a crianças de uma “comunidade que vive na pobreza extrema”, conta Vasco, que ali percebeu haver necessidades muito reais e palpáveis. “Muitas crianças só comem uma ou duas vezes por dia. Muitas deixam de ir à escola. Muitas adolescentes engravidam”. A organização faz o que pode e garante, pelo menos, uma refeição por semana para cada uma das duzentas crianças com quem trabalha. O que de mais importante faz, porém, reflete Vasco, é funcionar como espaço seguro para essas crianças. Um espaço feito de pessoas que se preocupam realmente. Pessoas que nasceram no bairro e, ainda assim, conseguiram alargar horizontes e quebrar o ciclo de pobreza que mantém gerações inteiras aprisionadas.

Vasco não pôde deixar de refletir sobre o quão todos temos em comum, ainda que vivamos realidades tão distantes. “Os miúdos têm uma alegria pura. As pessoas sentem, tal como nós”.

O regresso, com sabor a outras paragens

Hoje, já em território luso, depois de decidir seguir Economia e não Medicina – porque a viagem lhe ensinou que “para ajudar, não é preciso ser médico” –, Vasco continua a querer fazer crescer as oportunidades das crianças com quem cruzou caminho no Quénia, certo de que há muito para fazer também por cá.

Com a ajuda de uma amiga que fez voluntariado com a organização queniana e de um amigo programador, está a criar um site para a Soweto Youth Initiative, onde serão incentivados os donativos mensais e o apadrinhamento e lançado um programa de alimentação que pretende assegurar que todas as crianças têm acesso a, pelo menos, uma refeição por dia.

“Vamos tentar fazer o nosso melhor para que chegue a muitas pessoas”, diz Vasco, que garante que não temos de ser super-heróis para podermos ter algum impacto positivo no mundo. Para isso, convida à reflexão: “o que é que eu, enquanto ser humano, posso fazer por outros seres humanos que vivem, respiram, sentem amor e medo, como eu?”

E, para alguns, talvez, a resposta envolva partir. Conhecer novas perspetivas, realidades, pessoas e pensamentos. Sair da zona de conforto. Colocar rostos nas notícias que lemos. Ou não. Vasco, que conversa sobre partir, com a consciência de que essa é uma vontade que só pode partir de cada um de nós, confessa que estava “muito nervoso no início”. Mas “faz parte”, reflete. “Temos de ir com essa mentalidade: vai custar e vai haver momentos difíceis, mas vamos crescer muito enquanto pessoas”. E isso compensa. Compensa sempre.

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