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Quando as mãos que constroem o barco são as mesmas que o põem a navegar

Inovação

O provérbio diz que “filho de peixe sabe nadar” e quem somos nós para contestar a sabedoria popular? Ainda mais, quando conhecemos pessoas a quem este adágio assenta que nem uma luva. É o caso de Gilberto Conde, de 37 anos, filho do prestigiado construtor naval Delmar Conde. Gil cresceu entre as águas da Ria e o estaleiro do pai, tornou-se velejador de elite e, desde há alguns anos, tem-se dedicado a desenvolver e construir equipamentos profissionais de alta performance para kitesurf. Além do seu mais recente título mundial (o primeiro vencido “no sofá”), já garantiu presença em Paris, em 2024, como fornecedor oficial dos Jogos Olímpicos.

Quando somos pequenos, há sempre adultos bem-intencionados a querer saber o que sonhamos ser quando formos crescidos. Como qualquer criança, é provável que Gil tenha sido interpelado várias vezes com esta pergunta e, como qualquer criança, é provável que tenha respondido que queria ser bombeiro, astronauta ou jogador de futebol. O futuro, porém, tinha outros planos. Desde muito cedo que, depois da escola, os irmãos Conde (Gil e Renato) ajudavam o pai. “Vir para aqui não era uma obrigação, mas era para dar uma mão, para ajudar a família. Sabíamos que, assim, o benefício para todos era maior. Já sentíamos a responsabilidade de ajudar”, conta Gil, em entrevista à Aveiro Mag, no mesmo estaleiro de construção naval que o pai – Delmar Conde – mantém em atividade, na Gafanha da Encarnação, há mais de três décadas. “Já nessa altura o estaleiro tinha uma linha de produção e, mesmo assim, o nosso pai tinha tempo para nos acompanhar, para nos corrigir e apoiar”. A rotina mudava ao fim de semana, quando a família deixava o estaleiro empoeirado, as fibras e as ferramentas e levava as embarcações para Ria. “Com 6 ou 7 anos, já fazíamos regatas com o nosso pai. Nunca nos cansávamos”, recorda.

Com tudo isto, não se pode dizer que tenha havido um momento em que Gil tenha decidido fazer dos barcos profissão. “Nunca tive essa encruzilhada, nunca houve essa dúvida. É verdade que o nosso pai nos abriu as portas, mas nunca nos obrigou a seguirmos-lhe as pisadas. Nós é que quisemos”.

Quis construir uma prancha e acabou “a voar” sobre as águas

Durante vários anos, Gil conjugou a vela de alta competição com o trabalho de otimização de embarcações no estaleiro do pai. Por volta do ano de 2012, no entanto, decide apostar num projeto ligeiramente diferente e em nome próprio. “Não deixei as competições, não deixei de trabalhar com o meu pai, mas comecei a desenvolver um projeto meu. Como também sempre gostei de kitesurf – é água e vento na mesma –, surgiu a ideia de desenhar e construir a minha própria prancha”. Com a experiência e o conhecimento de uma vida inteira entre o estaleiro e o convés, Gil começa a fazer os primeiros esboços, a explorar compósitos de carbono e a testar níveis de construção. O resultado: uma marca – a Flying Sardine (em português, Sardinha Voadora) – de soluções de alta performance para kitesurf e uma inovadora prancha que prometia agitar o mercado. Dá-lhe o nome Olive Oil (em português, Azeite). No entanto, quando finalmente chega a altura de a colocar à venda, dá-se o boom dos hidrofólios a nível internacional, acontecimento que, em pouco tempo, revolucionaria todo o mundo da vela e do kitesurf.

“Logo agora que eu tenho um produto meu no mercado é que eles se lembraram de mudar tudo?”, terá lamentado Gil, na altura. No entanto, não se deixou desanimar e rapidamente acompanhou a mudança. “Era só mais um desafio”, relata, assegurando que todo tempo, esforço e dedicação que havia investido na criação daquela prancha não tinham sido em vão: “Não foi uma perda de tempo. Desenvolvemos conhecimento, estabelecemos processos de construção e construímos laços que viriam a ser fundamentais para o crescimento da empresa nos anos seguintes”.

Gil passou, então, a dedicar-se ao desenvolvimento de hidrofólios. Para os menos entendidos, um hidrofólio é uma espécie de barbatana subaquática com uma superfície semelhante às asas de um planador que se adapta à parte inferior das pranchas de kitesurf. À medida que a prancha ganha andamento, o hidrofólio eleva-a para fora de água e, ao reduzir o atrito, ajuda o atleta a “voar sobre a água”, atingindo maiores velocidades. “É curioso que o nome ‘Flying Sardine’ tenha surgido ainda antes de nos dedicarmos aos hidrofólios”, repara Gil. “Parece que já há 10 anos queríamos voar, ainda longe de sabermos que íamos acabar a desenvolver estas peças. Parece que era suposto vir aqui ter”, comenta. A Flying Sardine é uma marca registada da empresa DC Performance, batizada em homenagem a Delmar Conde e à sua DC Construções Navais. “Quis pegar no legado e tentar elevá-lo, tirar proveito de tudo aquilo que aprendemos e aplicá-lo aos hidrofólios”.

É importante realçar que os produtos Flyind Sardine são 100 por cento de origem portuguesa, ainda que o mercado nacional represente apenas “2 a 3 por cento da faturação” da empresa. Ainda assim, reitera Gil, “queríamos afirmar a nossa marca como portuguesa, daí a referência à sardinha. Afinal, é um produto totalmente português: conceção, produção, acabamento, embalagem, tudo é feito em Portugal, e boa parte do processo passa-se aqui mesmo, na Gafanha da Encarnação” – a produção é feita em Vila do Conde, na empresa Nelo, a maior referência mundial na construção de caiaques de competição.

Um campeonato vencido “no sofá”

Como quase todas as boas ideias, também esta surgiu no seio de um grupo de amigos reunidos à volta de uma mesa com uma bebida à frente. Com o foco na qualidade e atenção aos mais ínfimos pormenores, o sonho materializou-se e já há atletas com produtos desenvolvidos e construídos por Gil e pela sua equipa a alcançar importantes títulos internacionais. O melhor exemplo é o de Nina Arcisz, jovem atleta polaca, que acompanha a Flying Sardine desde a primeira hora. “A Nina foi uma das nossas primeiras clientes. Com apenas 17 anos, veio cá de propósito para experimentar os nossos hidrofólios. Deu-se bem e decidiu apostar em nós. Ora, para uma empresa que se estava a lançar nos hidrofólios com o seu primeiro produto e corria contra marcas que estavam no mercado há 4 ou 5 anos, que já tinham experiência e clientes fidelizados, foi excelente”. Dois anos depois, Nina Arcisz não só continua a treinar e a competir com os hidrofólios Flying Sardine, como se sagrou, em maio passado, campeã mundial sub-21, na Sardenha (Itália). “Foi o primeiro campeonato do mundo que ganhei no sofá”, brinca Gil, confessando que a vitória da jovem polaca “teve um sabor muito especial”. “Depois de tantas horas de trabalho, de sacrifício, depois de uma aposta em que arriscámos tanto, foi uma grande gratificação”.

Se, para a empresa, este é o primeiro galardão, Gil conta já com outros títulos no palmarés. Uns dos primeiros, em 2014, foi “o campeonato do mundo da classe Platu 25, na Galiza ”. “Um projeto montado em cima do joelho com amigos que acabou da melhor forma. A primeira vez que navegámos todos juntos foi no primeiro dia esse campeonato e chegámos ao fim vencedores”, lembra. No entender de Gil, a característica mais distintiva da família Conde e do trabalho que desenvolvem é o facto de conseguirem conjugar “as técnicas de construção naval com a experiência da vela competitiva”. “As mãos que constroem o barco no estaleiro são as mesmas que o navegam em águas abertas. Somos nós os primeiros a sentir a afinação que damos às embarcações. Essa ligação tem um valor incalculável. És velejador e construtor. Em todo o mundo, há pessoas muito boas a navegar à vela e pessoas muito boas a afinar embarcações. A fazer as duas coisas, não haverá muitos casos”, sublinha.

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