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As conquistas de Marc dos Santos, da Gafanha à Major League Soccer

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Há alturas na vida que nos marcam mais do que outras, ou que têm uma importância maior dadas as circunstâncias. Para Marc dos Santos, os anos que viveu na Gafanha da Nazaré, dos 13 aos 21, marcaram de forma indelével aquilo que é hoje: um cidadão do mundo e treinador de futebol.

Na altura em que Marc dos Santos chegou à fala com a Aveiro Mag tinha acabado de sair dos Vancouver Whitecaps, equipa canadiana que joga na Major League Soccer (MLS), o principal campeonato americano de futebol, e encontrava-se em Belfast, na Irlanda do Norte, a realizar o UEFA Pro, o nível mais alto de treinador de futebol.

Um sonho que nasceu na Gafanha

Aos 13 anos, Marc saiu de Montreal, no Canadá, e veio morar para a Gafanha da Nazaré, terra dos avós maternos. O pai, que trabalhava com materiais de construção, na área da cerâmica, teve uma proposta de emprego em Coimbra, mas acreditou que, apesar da distância, era mais fácil estar a residir na Gafanha, junto da família.

Até essa altura, Marc só queria saber de Fórmula 1. Foi na Gafanha da Nazaré que o encantamento pelo futebol falou mais alto. Começou a jogar no Grupo Desportivo da Gafanha e a sonhar com a possibilidade de ser treinador, a ambição maior. Os cadernos da escola eram todos campos de futebol, nos quais escolhia os melhores onzes de sempre, de jogadores de várias nacionalidades, equipas, credos e raças. Num desses dias, alguém lhe disse para ele acordar para a realidade, que o futebol nunca lhe daria dinheiro para viver. Essas palavras e quem as proferiu, marcaram o jovem Marc, que perseverante e resiliente, nunca as esqueceu e, em cima delas, começou a construir uma carreira.

De Moçambique ao Canadá

Aos 21 anos, o pai teve a possibilidade de ir trabalhar para Moçambique. Em vez de considerar um problema, Marc dos Santos acreditou que seria mais uma oportunidade para crescer. Jogou na Académica de Maputo e, como treinador, esteve envolvido, com a Federação Moçambicana de Futebol e a FIFA, no projeto Goal.

Três anos se passaram e o chamamento surgiu do Canadá: “existiam muitos clubes de formação a precisarem de diretores técnicos e, para mim, foi a oportunidade de regressar a casa e continuar a fazer formação. Sou muito grato a pessoas como o Ricardo Silva, o Vítor Frade o José Guilherme Oliveira, pela oportunidade que me deram para crescer, pelo impacto na forma diferente de ver o jogo e o treino. Eu não era da universidade, não treinava nenhum clube de Liga. Era diretor técnico de clubes de formação”.

Impact: o primeiro desafio sénior

A oportunidade certa surgiu no timing perfeito. Do Montreal Impact ligaram-lhe para assumir a equipa B. Um convite que se veio revelar fundamental na carreira: “Tínhamos uma geração fenomenal de jogadores, grande parte deles com pais estrangeiros, nascidos no Canadá, uma equipa muito boa. Ganhámos a Open Canada Cup e, entretanto, fui promovido a adjunto da equipa A. Em 2009, o treinador foi mandado embora e estávamos em último, sendo que só os primeiros seis iam ao play-off de subida. Fui convidado a assumir a equipa, mas de forma interina. Lutei muito com o lado da lealdade ao treinador principal, mas depois de falar com a família fiquei. As vitórias começaram a aparecer, ficámos em quinto e, depois, vencemos o campeonato. Só depois dessa conquista é que me ofereceram contrato. Fiquei dois anos, o Impact foi para a MLS e eu fui para o Brasil”.

O título ganho no Palmeiras

Um telefonema, vindo do nada, de César Sampaio, um antigo campeão do mundo, para o convidar a ir para o Palmeiras, no Brasil, foi mais um desafio, mais um futebol diferente que, mesmo sendo em formação, trouxe pressão extra: “Seis meses depois daquela chamada estava no Palmeiras. É um clube enorme, com uma base de adeptos enorme. A única forma de poder sobreviver, é ganhar. Até na formação. Não se pode perder três jogos seguidos, até como treinador de infantis. Senti isso, no campeonato Paulista, em dez jogos e quando perdi no Corinthians, até me deixaram de falar”.

Mas o sucesso aconteceu com a vitória no campeonato nacional: “Outra história de sorte. Ganhámos a nossa meia-final por penaltis e fui ver a outra. O Fluminense era de uma qualidade terrível e por isso, não tirei nenhuma nota sobre o Vasco da Gama. Só que eles ganharam, foram massacrados e no último minuto fizeram golo. Na final ganhámos nos penaltis, tínhamos na baliza o Fuzato, guarda-redes que agora está na Roma”.

Os projetos de livro aberto

Nos anos seguintes, Marc foi o responsável direto pelo início de dois projetos na NASL (North American Soccer League). O primeiro, em Otava, e o segundo em São Francisco, dois clubes que lhe deram carta branca para decidir tudo. A diferença, e grande, foi o orçamento disponível, que no segundo caso era o dobro. “Hoje sou uma pessoa incrivelmente organizada, muito por essa experiência do Otava, na gestão de recursos, independentemente do que me dão. Têm é de ser honestos no número que dão. Estive dois anos lá. Na segunda época fomos à final e perdemos com os New York Cosmos, 3-2, na despedida do Raul e do Marcos Senna. Fui nomeado treinador do ano da NASL”.

Antes da ida para São Francisco, passou ainda pela equipa B do Sporting Kansas City. “Era o primeiro ano da equipa B deles, que jogava na USL. Queria conhecer e sentir a MLS e estaria a trabalhar muito perto da equipa principal. Foi um ano espetacular em termos desportivos, pois fomos à final, mas senti falta de controlar o processo e decidi sair”. Com o convite dos San Francisco Deltas proporcionou-se o regresso à NASL e a chegada à final daquela que seria a última edição da prova: “durante o ano de 2017 enquanto estávamos a jogar, recebemos a notícia que era o último ano da NASL. O discurso foi simples, nada podemos mudar quanto ao destino. Mas se aquela ia ser a última taça, tínhamos de ser nós a fazê-lo. E isso tornou-se algo único do balneário. A final incrível em nossa casa, a minha terceira final consecutiva, com três equipas diferentes. Ganhámos 2-0, numa noite incrível”.

A chegada à MLS

Se a chamada de César Sampaio tinha sido do nada, a de Bob Bradley, um dos principais nomes da modalidade dos Estados Unidos da América foi a concretização de outra ambição, a chegada à MLS, mesmo que como adjunto, nos Los Angeles FC. “Quando entrei foi com a certeza que a minha hora de assumir uma equipa na MLS iria chegar. A conversa com o Bob foi nesse sentido e correu bem. Fui adjunto e adorei. Um momento em que aprendi muito, abriu-me os olhos em algumas áreas diferentes. É uma pessoa incrível. Ele sempre me dizia: ‘Vais treinar na MLS e eu vou-te apoiar’. E em 2019 o telefone tocou e fui para Vancouver”.

O projeto terminou dois anos depois, grande parte deles partilhados com a pandemia de Covid-19. Ainda assim, Marc dos Santos faz um balanço positivo: “Vancouver foi um clube que nos últimos dez anos sempre sofreu com a visão de formar jovens jogadores canadianos, com 2026 no horizonte. Alfonso Davies é um caso raro, mas ainda assim, na vitória que conseguimos contra o LA de Ibrahimovic, tínhamos oito em onze, formados no clube. E agora, quando saí, vínhamos de nove jogos seguidos sem perder, mas aproveitaram a derrota na Taça do Canadá para mudar de rumo. Sem problema, sou muito orgulhoso do meu percurso. Anunciei no balneário, dei um abraço a todos e recebi uma mensagem de volta de 23 jogadores”.

Portugal no horizonte

“Eu não quero ser só treinador, quero ter influência na vida das pessoas. Sou assim. Não digo se é certo ou errado, apenas que tenho essa luta interna. A minha vida tem de ser mais do que a bola entrar ou ir ao poste. Por isso é que não sou um treinador de egos, não tenho problema em ser, por exemplo, treinador de equipa B em Portugal. Ou então o melhor pode ser uma Segunda Liga, nunca se sabe. Eu digo sempre, depende do que é apresentado. Colocar rótulos é perigoso até porque, na minha opinião, não há projetos menores. Há projetos com os quais tu te revês ou não. Em que tu acreditas ou não. As pessoas têm de ser honestas e quando prometem, que cumpram. Não me interessa se há pouco ou muito dinheiro, têm é de se manter o compromisso”, explica Marc dos Santos.

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