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Ricardo Figueiredo: a história da LUGGit e as ideias simples

Negócios

As ideias simples são as que perduram. Quantas vezes, ao longo da vida, ouvimos esta máxima? Muitas, certamente. E a história de Ricardo Figueiredo e a sua LUGGit vem confirmar isto mesmo. Porque viajar, uns mais que outros, todos viajamos e, em algum momento, demos por nós a pensar qual a melhor forma de evitarmos andar com as malas para trás e para a frente enquanto não chega a hora de entrar no hotel ou de ir para o aeroporto.

Todos pensamos no problema, mas só uma pessoa, que depois se multiplicou em quatro, passou do problema à solução. E daí nasceu a LUGGit, um serviço que toma conta da bagagem de todos os viajantes que chegam ou partem dos aeroportos de Lisboa, Porto e Viena, e que as leva onde for preciso. Mas nem tudo foi fácil nem um mar de rosas. Nem na LUGGit nem na vida de Ricardo, um menino que cresceu com um talento imenso com a bola de futebol nos pés e que, depois, fruto das vicissitudes e das escolhas que a vida o obrigou a fazer, pegou na resiliência trazida das quatro linhas e fundou uma empresa que, em 2020, foi considerada a segunda melhor solução inovadora do mundo pela Organização Mundial de Turismo.

Do “peladão” ao Dragão

Nascido em Aveiro há 27 anos, quase 28, Ricardo Figueiredo foi uma criança como muitas outras, que só pensava em futebol e que estudou na escola primária da Vera Cruz, andou na João Afonso e, depois, na Mário Sacramento, um ano, altura em que foi jogar para o Futebol Clube do Porto. Tinha apenas 14 anos.

Até então, o único clube que conhecera tinha sido o Beira-Mar onde começara a jogar aos seis anos, treinando num pequeno pelado que existia entre os antigos campos de ténis e o campo secundário do Estádio Mário Duarte. Nessa altura, “só queria jogar com os amigos da escola, mesmo que todos fossem um ano mais novos”. Só que a “pequena mentira” foi descoberta pelo inesquecível senhor Rufino, que o mandou ir ter com os meninos nascidos no mesmo ano que ele, em 93, e não com os de 94.

“Nessa altura, passei a federado e comecei a jogar. Fiz mais cinco anos de competição até que fui para o Porto. A escolha foi pela proximidade, já que fui treinar aos três grandes. No Benfica deu em nada, mas do Sporting e do Porto tive propostas. Decidimos, em família, pelo Porto e fui, naquela que foi uma decisão que se revelou certeira e fundamental para aquilo que é a minha vida hoje”, explica.

O regresso a casa

“Quando, aos 14 anos, se muda de clube e de casa, somos obrigados a crescer na dificuldade. O que mais me moldou foi ter ido para o Porto, tão cedo, de não ter medo de ir, de arriscar e saber que as coisas custam, que se tem de sofrer. O futebol ajudou-me a ser resiliente”, assume, mesmo que apenas dois anos depois tenha decido voltar para casa.

“Não é uma decisão normal, estando a jogar com regularidade, querer sair do Porto e voltar para o Beira-Mar. Mas foi a minha decisão, porque considerei que seria mais fácil, depois, chegar ao patamar sénior. O meu erro, em termos de futebol, não foi sair do Porto. Foi, possivelmente, não ter optado por outra das opções que tinha, porque quando cheguei a sénior, não fiquei no plantel, como muitos outros”.

A lesão que o fez parar

Já como sénior representou apenas dois clubes. O Oliveira de Frades, de Viseu, e o Oliveira do Bairro. Duas experiências distintas que o fizeram crescer e, principalmente, perceber que o caminho a trilhar teria de ser outro. Uma decisão que foi acelerada pela lesão grave que sofreu na anca e que, durante alguns anos, lhe trouxe muitas dores e dificuldades, até 2019, ano em que foi operado.

“A escola foi o primeiro plano B, com a matrícula em Marketing, no ISCAA. Mas depois, antes de regressar às aulas, decidi ir trabalhar para o Autocarro Bar, que é do meu pai, porque desde sempre quis ser independente. Aquele ano e meio que lá estive fizeram-me ter a certeza de querer abrir um negócio só meu, e foi importante porque aprendi muito sobre gerir um negócio com características familiares”.

As diferentes experiências profissionais

Passado esse tempo, e com a decisão – definitiva – em não jogar mais futebol, Ricardo Figueiredo foi, finalmente, fazer a licenciatura em Marketing mas, ao mesmo tempo, trabalhar em part-time para a Decathlon, na secção de Futebol, a sua praia. “A ideia foi simples, depois do Autocarro Bar, quis ir para uma grande empresa, perceber como funcionava, qual o relacionamento e tratamento aos recursos humanos, quais as dificuldades e vantagens. Sempre com o foco de, no futuro, abrir a minha empresa”.

Na reta final da licenciatura, à entrada para o último ano, decidiu aceitar uma proposta de uma empresa da região, e ir como gestor de produto, para o departamento de marketing. “Foi importante para perceber algumas coisas, principalmente o que não fazer. A experiência, por isso mesmo, durou pouco, mas foi muito importante para o meu crescimento”.

Do Hostel à LUGGit

Curso terminado, reflexão feita, e o destino quis que o primeiro negócio fosse um hostel em Aveiro, o “Les Canaux”. “Foi uma aprendizagem tremenda, porque tomava conta de tudo. Fazia as camas, recebia os hóspedes, preparava as toalhas, todos os pormenores eram da minha responsabilidade”, explica.

No entanto, foi através desse primeiro negócio que surgiu a LUGGit. A ideia chegou através de conversas com os hóspedes, que expunham as suas dificuldades nas questões da bagagem. Num primeiro momento, Ricardo Figueiredo “ofereceu” esse serviço a quem ficava alojado no “Les Canaux”: “Foi muito engraçado porque quem queria o serviço, chegava à estação e eu estava à espera, com o meu carro, para carregar as malas. E depois, na hora do check-in, os hóspedes chegavam e viam-me ao balcão, a recebê-los, e ficavam espantados. Nessa altura, eu explicava a minha ideia e foi também com esse feedback positivo que percebi que tinha pernas para andar. Mas o mais engraçado é que eu deixava as malas guardadas no hall de entrada de casa dos meus pais, que de repente foram invadidos por coisas que não eram deles”.

Os primeiros tempos

Com a ideia bem definida, o passo seguinte foi registar o nome e a marca. Depois, encontrar as pessoas certas para encaminharem o projeto: “Eu já tinha estado numa outra start-up, mas com colegas da mesma área de estudos, o marketing. E não tinha corrido muito bem porque éramos todos iguais. Na LUGGit, a ideia foi encontrar alguém diferenciado e o Diogo Correia foi a solução certa, porque ele era de Engenharia e Gestão Industrial e trazia consigo já conhecimento de uma área fundamental para este negócio, a logística. O Diogo, que já trabalhava, conhecia o João Pedrosa, especialista em apps, e o João conhecia o Hugo Fonseca, também da mesma área, mas com competências diferentes. Ainda demorou algum tempo até conseguir convencer o João, mas acabou por acontecer”.

De Lisboa ao Porto

Já com a app da LUGGit feita, Ricardo e Diogo mudaram-se, de armas e bagagens para Lisboa, para apresentar o projeto ao mercado. Os primeiros tempos foram difíceis mas trouxeram ao de cima a resiliência “herdada” dos campos de futebol. “Durante mais de um mês quase que acampámos nas imediações da Luggage Store, em Lisboa, rivais na mesma área de negócio, a abordar as pessoas que lá iam deixar ficar as malas. Mas nem assim estávamos a ter sucesso, até que um dia, já em desespero e dentro da loja deles, tive um feeling de abordar duas miúdas e um miúdo que estavam a chegar. Lá apresentámos o projeto e conseguimos convencê-los, mas foi um filme, porque a app era em Android, eles só tinham iOS, e tivemos de marcar o serviço por eles e confirmá-lo no mesmo telemóvel. Demorou, mas conseguimos, e eles deixaram-nos ficar as malas e foram embora”.

Em Lisboa, era Ricardo que servia de motorista e que fazia a recolha, e no Porto, quando alargaram o negócio, passou a ser Diogo a fazê-lo. Foram assim, em causa e casa própria, os primeiros tempos. Depois o negócio cresceu, também suportado pelos prémios que ganharam, um deles no valor de 400 mil euros, de quatro passaram para 8, de 8 para 11, de uma situação em que asseguravam o transporte das malas, até acordos com transportadoras profissionais, tudo num espaço reduzido de tempo.

A pandemia, a oportunidade e a solidariedade

Entretanto, com o negócio a crescer chegou a pandemia. Com ela, o volume baixou ao nível zero. No entanto, trouxe oportunidades e Ricardo assume que nem tudo foi mal. As dores de crescimento, que poderiam ter ocorrido devido ao “boom” que o negócio teve, não chegaram, praticamente a existir.

“Aproveitou-se para fazer duas coisas. A primeira para agilizar procedimentos, melhorar tudo o que tínhamos feito sem ser em cima da pressão do trabalho, o que nos permitiu crescer na logística, nos procedimentos, nas parcerias. A segunda, aproveitámos e criámos o “WeMoveIt” e foi brutal, porque era um serviço que permitiu os nossos condutores continuarem a ter trabalho, e passaram a levar bens e serviços a quem precisasse, no âmbito da Tech4Covid, uma comunidade que juntou mais de 4 mil e quinhentas pessoas ao serviço de um bem comum”.

De Viena para o resto da Europa

Apesar da situação da Covid-19 ainda não estar resolvida e, nesta altura, ter obrigado a uma paragem no projeto, a LUGGit chegou neste verão a Viena, na Áustria: “É uma capital parecida com Lisboa e Porto, porque tem um aeroporto central, com as mesmas características e que, naturalmente, era o passo certo. Fui para lá viver, já com algumas parcerias feitas, mas agora parou. Queremos agora estruturar e fortalecer a LUGGit em Viena, porque as pessoas desconfiam sempre de nós numa fase mais inicial, mas nós estamos mais maduros, somos mais e mais conscientes das dificuldades”.

Quanto ao futuro, Ricardo é taxativo: “Queremos continuar a resolver os problemas das pessoas nas primeiras e últimas horas da sua estadia, aumentando a confiança no serviço que já prestamos. Nesta altura, temos seguros que cobrem os bens que nos deixam. Com a app, todas as pessoas sabem, através de tracking, onde é que estão as suas bagagens em tempo real. Depois, queremos chegar a mais capitais, na Europa, mas a seu tempo. Com tempo”, conclui.

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