Os pais Padavano são muito diferentes dos pais de William, financeiramente enfrentam muito mais dificuldades, mas estas não se refletem na sua relação com as filhas que sentem, todos os dias, o quanto os pais as amam, apesar de o fazerem de forma diferente: “Rose nunca pronunciara a palavra ‘amor’ diante das raparigas; estas simplesmente sabiam que ela as amava devido à atenção furiosa que lhes dedicava”. Já o pai Padavano era, tal como Sylvie, um apaixonado pela arte e tratava as suas filhas com um amor muito especial, valorizando aquilo que eram as suas singularidades, conhecendo-as e valorizando-as mais do que elas próprias. “Sylvie e as irmãs tinham-se conhecido a elas próprias sob o olhar do pai. E, sem esse olhar, os fios que uniam tao estreitamente a família tinham-se quebrado. O que era natural exigiria agora esforço.” A mãe, mais ambiciosa do que o pai, lamentava a falta de ambição deste, mas o pai não se deixava afetar por essa crítica e dedicava-se às suas quatro mulheres, as três filhas e mulher, com uma devoção única. “(...) Mas porque culpava a poesia dentro de Charlie pela falta de sucesso na vida. A razão para o seu salário se manter pequeno, a razão para ele não se chatear quando a caldeira avariava e preferir levá-la a admirar uma lua cheia, a razão para não se preocupar com o que as pessoas pensavam dele e, apesar disso, ter centenas de pessoas no seu funeral.”
Mais do que irmãs, as Padavano eram as melhores amigas umas das outras e viviam numa cumplicidade que parecia indestrutível, “(...) as quatro raparigas Padavano partilhavam as suas vidas, celebrando e utilizando as forças umas das outras, cobrindo as fraquezas umas das outras. Júlia era a organizadora e líder, Sylvie, a leitora e voz sensata, Emeline, a cuidadora, e Cecilia, a artista.”
Julia, determinada e obstinada traçou um projeto para a sua vida, no qual todos os passos já estavam definidos e temporalizados e William, que era uma peça neste projeto de vida, só teria que os seguir “Julia acreditava em vários passos diretos: a educação levava a um casamento melhor, que, por sua vez, levava a um número razoável de filhos, à segurança financeira e, depois, à propriedade imobiliária.” William, perdido na vida e recém chegado ao mundo dos afetos em que é introduzido pela ãao de Julia, segue o seu plano sem questionar e casa-se com Julia como planeado: “William teve certa vez a sensação de que a sua noiva andava pelo mundo com a batuta de maestro, enquanto Sylvie empunhava um livro, e Cecilia, um pincel; Emeline, contudo, mantinha as mãos livres para poder ser útil ou pegar ao colo e confortar uma criança da vizinhança.”
Tudo parecia correr conforme planeado, até a vida de William e a cumplicidade das irmãs Padavano sofrem uma prova de força quando William se apaixona pela irmã da mulher e depois de muito resistirem ambos, acabam por ceder ao amor. “Foi-me difícil aceitar o facto de que não escolhemos quem amamos, porque quem amamos muda tudo.” Este amor, que tem mais de genuíno do que o amor de William e Julia que se inseria num projeto de vida. Na verdade, William e Sylvie tinham em comum a ausência de certezas, ao contrário de Julia, a procura da parte que lhes faltava para se sentirem completos. “Quando o nosso amor por uma pessoa é tão profundo que é parte de quem somos, então, a ausência da pessoa torna-se parte do nosso ADN, dos nossos ossos, da nossa pele.” “Eu e tu somos farinha do mesmo saco, querida. Nenhum de nós espera que a escola ou o trabalho nos preencha. Olhamos pela janela, ou para dentro de nós mesmos, em busca de algo mais. (...) Sabes que és mais do que uma auxiliar de biblioteca e uma estudante universitária, não sabes? És Sylvie Padavano. (...) É por saberes que é possível conseguir algo mais que vês sempre quão inútil é seguir uma regra estúpida ou estar presente numa aula chata. A maioria das pessoas não percebe esta distinção, por isso faz apenas o que lhe mandam.”
E se as “quatro irmãs tinham batido a um só coração a maior parte das suas vidas”, quando Sylvie e William se apaixonam, a personalidade determinada e previsível de Julia vacila, ao compreender que nem tudo pode ser antecipado e previsto e a vida tem surpresas, às vezes muito amargas e difíceis de resolver. Julia “passara toda a vida a tentar resolver os problemas das outras pessoas – dos pais, das irmãs, de William -, mas esse fora um empreendimento infrutífero, via-o agora. Não conseguira manter o pai vivo, nem a mãe em Chicago, nem Cecília celibatária, nem tornar William ambicioso. Tinha estado apenas a aperfeiçoar as suas capacidades para agora, para o que importava, a maternidade.”
Ao sentir que o seu plano enfrentava uma reviravolta, Julia vai, com a sua filha, viver para longe das irmãs e testa aquilo que era, até então, certo e inabalável: a amizade e cumplicidade indestrutível entre as quatro irmãs. “O facto de ter falhado significava que tinha de começar a avançar com a sua história de vida – os seus erros -, pendurada ao ombro como uma mochila pesada. Este facto exauria-o, mas ele exauria-o, mas ele estava demasiado cansado para o rejeitar.” Julia afasta-se das irmãs porque não consegue viver diariamente com a realidade do seu marido se ter apaixonado pela irmã e espera, ao afastar-se, viver o seu projeto de vida mas, a verdade, é que mesmo separadas por centenas de quilómetros, a ausência da irmãs a deixa triste e incompleta. “Seria possível que ela estivesse a desmoronar em Nova Iorque porque a irmã estava a morrer em Chicago? Que houvesse fios invisíveis que as conectassem, que elas não pudessem ver e, portanto, não pudessem cortar?”
Além desta bonita história e elogio ao amor dos pais e à busca pelo amor verdadeiro, este livro revela-nos também o olhar atento da autora ao mundo de hoje em que o que mais importa é parecer alegre e estupidamente feliz, ocultando qualquer momento de tristeza ou depressão pelo qual possamos estar a passar. “Estás deprimido, não louco. Não é insanidade estar deprimido neste mundo. É mais são do que estar feliz. Nunca confiei naqueles indivíduos sempre animados que sorriem aconteça o que acontecer. Esses é que têm um parafuso a menos, se queres saber.” “Não suporto fingir felicidade.”
Retive ainda deste livro, a forma como a sociedade olha para os homens e as mulheres num caso de divórcio, em que as mulheres acabam por sofrer muito mais com os estigmas da sociedade e as consequências do divórcio. “É uma coisa horrível, ser uma mulher divorciada. Os homens podem recuperar do fim de um casamento, mas as mulheres não. Queres mesmo deitar a tua vida para o lixo? Só tens 23 anos.”
Com a leitura de “Olá linda!” vão valorizar mais ainda o amor pelos filhos e pela pessoa que vos completa, pois é esse amor que nos preenche e nos traz a força e felicidade para vivermos com a certeza de que a vida é um presente que merece ser desembrulhado e partilhado com aqueles que nos amam. E todas as leituras que nos ajudam a amar mais e a não temer o amor, valem a pena!
Boas leituras e até às próximas páginas.