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Ivo Almeida: A "liberdade indescritível" que a bicicleta lhe traz

Atletas

Há sempre um dia, aquele dia, em que a nossa vida pode mudar. É preciso, se calhar, que os astros também se alinhem, porque a oportunidade pode surgir, mas a força de vontade, a perseverança e o espírito de querer ir por outro caminho, têm de estar presentes na mesma hora. Naquele segundo.

Foi assim, dessa forma, que a vida de Ivo Almeida mudou. O clique em que olhou para o lado e viu a sua (velha) bicicleta encostada numa qualquer parede da garagem lá de casa, pensou: “Se calhar é mesmo isto”. E foi. De lá para cá, primeiro foram as pequenas voltas ao fim de semana, depois uma ou outra saída a seguir ao trabalho, os quatro mil quilómetros por ano e, agora, os sete treinos por semana que correspondem aos 22 mil quilómetros anuais em cima da bicicleta, seja de dia ou de noite, faça sol, chuva ou vento. Pelo meio ficaram os ataques de pânico, o excesso de peso e a vergonha de tirar fotografias.

Mar, ondas e a prancha de bodyboard

Até à chegada da vida adulta e, com ela, as responsabilidades inerentes ao estudo e ao trabalho, Ivo Almeida, hoje com 42 anos, apenas tinha feito, com alguma regularidade, bodyboard como desporto. A presença em algumas competições, entre regionais, nacionais e até europeias, eram o culminar de uma modalidade que mais do que qualquer coisa, lhe davam “uma sensação única de liberdade”.

A escola e, consequentemente, o início da vida de trabalho fizeram com que Ivo deixasse de ter tempo para se dedicar ao desporto. E a vida sedentária trouxe naturalmente consequências: “Durante quinze anos, sensivelmente, só me dediquei ao trabalho, uma espécie de workaholic que me fazia estar focado naquilo durante dez a doze horas por dia”, explica, não se coibindo de assumir a fatura a pagar: “Deu cabo de mim física e psicologicamente”.

Da vergonha aos ataques de pânico

A paternidade chegou, as responsabilidades, naturalmente, aumentaram, mas algo não estava bem. “Era uma ‘bola’, tinha vergonha de estar na praia, de tirar fotografias, pois estava demasiado pesado. Nessa altura decidi que ia começar a praticar algum desporto e a opção foi começar a correr e, depois, ir ao ginásio”.

Só que qualquer uma dessas soluções encontradas trouxeram outros problemas, nomeadamente os ataques de pânico quando o esforço era maior do que a capacidade de o realizar. “Era um sofrimento sem fim”, garante. Até ao dia em que olhou para a bicicleta e decidiu “dar umas voltas ao fim-de-semana”.

A liberdade que a bicicleta traz

A bicicleta começou, nesse dia, a ser uma parceira de todas as horas. O hobby de sábado e domingo passou a ser levado mais a sério quando, por acaso, o “momentum” chegou: “Deu-me o clique no dia em que um amigo me emprestou uma ‘Guersan’ de ferro, de corrida, com uma roda dentada enorme e que andava muito. Olhei e pensei: ‘É mesmo isto que eu quero’, a tal sensação de liberdade indescritível”.

O passo seguinte foi comprar uma bicicleta melhor, mais adequada àquele que seria o seu plano de vida. “Comprei na altura, por mil e quinhentos euros, uma bicicleta de corrida, já em carbono. Fiz três mil quilómetros no que faltava desse ano e percebi que, ao contrário do que pensava, o ciclismo pode ser um desporto caro. As bicicletas obrigam a vestuário adequado e calçado próprio, capacete e óculos. Gastas, à vontade, dois mil euros”.

A história do GPS e a conversa com João Moreira

A diferença de ser um ciclista de fim de semana para um que treina sete vezes por semana, pode ter muitas explicações, mas para Ivo Almeida, a principal mudança deu-se quando comprou o primeiro dispositivo com GPS. Nem mais. “A partir do momento em que começas a conseguir saber o que andaste, como o fizeste, em que tempo e todos os pormenores, ao detalhe, passas imediatamente a querer fazer mais e melhor. É a lei da vida. Comigo foi assim, mas primeiro, de uma forma solitária, até encontrar o caminho certo após uma conversa com o João Moreira”.

Vencedor de 15 Granfondos e um dos melhores do país, João Moreira foi assertivo na tal troca de ideias com Ivo Almeida que, à Aveiro Mag, relata o teor da conversa que foi, sem qualquer dúvida, o principal passo para se transformar no ciclista que é hoje: “Se é isto que quero, porque não arriscar? Nunca quis ser o melhor, mas ele aceitou treinar-me. Perguntou-me: ‘Tens noção que a tua vida vai mudar? Vais começar a treinar e não a andar de bicicleta’. Era isso que eu queria. Com menos de um mês de treino, senti logo as melhoras. A partir daí o objetivo era conquistar melhores resultados. E rápido, se possível. Mas o João foi-me sempre avisando: ‘as coisas têm de ser feitas de forma consistente. Às vezes, tens de dar dois passos atrás para dar um à frente’ e isso custou, mas entrou e agora tudo é diferente”.

O upgrade seguinte

Em todas as provas de ciclismo que se vê na televisão, uma das imagens que mais se destaca é o sofrimento da subida. Ivo Almeida explica que ao longo dos anos, a forma como se sobe, o tempo que se leva a subir uma qualquer montanha, também serve de termo de comparação, para se perceber a evolução.

Essa analogia da subida também serve para o crescimento do ciclista e o que ele tem de fazer para ser cada vez melhor. No caso do Ivo depois do GPS e do treinador João Moreira, foi a “parceria” feita com Manuel Gonçalves, um homem só, mas com valências de preparador físico, personal trainer, massagista e que também ajuda nas questões da nutrição. “Tudo conta”, garante, ao assumir que a partir desse momento, começou a “adaptar o corpo e os músculos para conseguir mais força e uma preparação mais adequada e adaptada à bicicleta. E isso nota-se perfeitamente, sente-se que o corpo e a bicicleta são um só”.

Os Granfondos e a vitória

Qual a sensação de participar num Granfondo e estar, como no Douro, 162 quilómetros em cima de uma bicicleta, num percurso duro e cheio de contrariedades? A resposta é taxativa: “É o mais concorrido do país. E no arranque só pensas em sobreviver. Depois é saber que tens de sofrer até ao final. E se vais aguentar o ritmo que vai ser colocado na prova. Depois é superação. O primeiro objetivo é não cair e não furar. Depois é fazer melhor que o ano anterior e tentar aguentar o ritmo dos melhores que estão à tua volta”.

Se às vezes as coisas resultam menos bem, outras são quase perfeitas. Um dos melhores momentos em cima da bicicleta foi vivido em Montejunto, no Granfondo de Torres Vedras, do passado 5 de setembro: “Ouvir o meu nome quando cortei a meta em terceiro no meu escalão, M40, foi uma sensação muito boa, sentir que estamos no caminho certo e que apesar de os resultados não serem o principal motivo, ajudam muito nos dias piores”.

O reverso da medalha

Se as vitórias trazem medalhas e são a face visível do sucesso, há sempre um reverso, o lado em que alguma coisa fica para trás. Apesar dos ganhos em saúde física e mental, a família “sofre” com a ausência de quem “sai do trabalho às 19h00 e vai treinar” e que tem provas “nos dias de descanso normalmente dedicados à família”.

Ivo Almeida sabe disso e assume que em casa “nem sempre compreendem, mas aceitam”, e por isso, o conselho que deixa é que “se tente encontrar um equilíbrio” para que se esteja “presente” nas horas certas. Isso e que o filho, agora com 8 anos, também goste de andar de bicicleta: “Já vem fazer comigo pequenos percursos de dez quilómetros”, explica, com a esperança de que esse gosto do mais novo, o ajude também a alcançar um último sonho, o de participar “numa prova internacional”, para a qual se chegue “através de um apuramento”. O sonho, mais uma vez, “comanda a vida”, conclui.

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