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Votos solsticiais

Opinião

António Salavessa*

É comum a muitas culturas e tradições do hemisfério norte, desde há milénios, que após o solstício de inverno e passada a noite mais longa do calendário, se celebrem a vida e a renovação e se formulem votos e desejos para o novo ano. Anseios porventura repletos da esperança de que se venham a transformar, miraculosamente, em realidade.

Vamos repetindo o ritual estabelecido, esquecendo a nossa própria natureza, pois creio que não existe ser humano, que não imagine quotidianamente o que seria bom para si e, concedamos, para os outros. Aquilo que acontece de verdadeiramente diferente, nesta época, é que exteriorizamos parte do que desejamos ou do que julgamos ser conveniente que se deseje. Por vezes até por escrito, como acontece nesta breve crónica.

Na voracidade dos dias, quase esquecemos que, ressalvada uma ou outra exceção, os nossos votos são, afinal, votos repetidos. Mais repetidos do que deveriam ser.

Apenas um exemplo: Nos finais de 1973 desejei que, no ano a seguir, Portugal reconquistasse a liberdade. E a grande festa aconteceu, com alegria e entusiasmo. No entanto, pensando bem, desde meados dos anos sessenta que esse meu desejo se repetia, ano após ano. Um desejo afinal comum a tantos portugueses, formulado por alguns deles desde o início da ditadura, em 1928.

A propósito disso é bom lembrar que, se a liberdade nasceu de novo, o parto não se deveu apenas ao desejo coletivo. Nasceu porque não faltaram aqueles que se empenharam, pela ação, na materialização da ideia. “Quem sabe faz a hora, não espera acontecer” reza a canção.

Falemos também dos sonhos, esses devaneios que tanto envolvem como vêm embrulhados nos desejos. Recordo que uma vez, recém saído da infância, entre histórias aos quadradinhos e livros de Júlio Verne, ter desejado chegar ao então longínquo ano 2000, para pudesse ver e viver as maravilhas pré-anunciadas para essa idade de ouro.

Está visto, porque aqui escrevo, que atingi e ultrapassei aquela meta temporal. E o sonho? Esse vai fugindo, escapando de nós como a areia numa mão aberta. Está claro que esse ainda não!

Desde os anos sessenta até agora passaram mais de cinco décadas de transformações, cada vez mais vertiginosas, nos domínios do conhecimento técnico e científico, com repercussões (in)questionáveis nas nossas vidas. Mas o mundo que imaginava naquele início da adolescência era um mundo de equilíbrio. Equilíbrio entre os homens e também entre os homens a e a natureza. Um mundo em que todos beneficiariam dos passos gigantescos que entretanto fossem dados.

Sei hoje – sabemos hoje – que afinal os passos em frente também podem ser passos para um abismo em que todos poderemos cair. Sabemos também que nunca foram tão largos e profundos os fossos que separam o que produzimos, o que temos e o que somos. E que a maioria dos que ocupam transitoriamente esta enorme nave que gira à volta do Sol, continua a ter, por desejos, o que deveriam ser direitos há muito garantidos: ao trabalho, ao pão, à habitação, à saúde, ao lazer… por muito que se vão entremeando outras aspirações mais comezinhas, que vão ajudando a preencher vazios e a “aceitar” o quotidiano.

Assim, embora muito menos inocente do que era no tempo em que o Bob Dylan, então profeta, cantava que os tempos estavam a mudar, continuo a desejar, profundamente, o cumprimento do sonho de então. Por isso importa somar força e energias aos que seguem construindo as peças, porventura minúsculas, mas imprescindíveis para construir e resolver o gigantesco puzzle de uma vida diferente, de uma vida melhor.

E que 2022 permita, a cada uma e a cada um, bons passos naquele sentido.

*Professor/formador
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