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Viagens na nossa terra: O país do café a 65 cêntimos

Roteiro

Estou sentado a escrever no meu café preferido de Aveiro. É um sítio bonito, confortável e acolhedor com amplos janelões que o fazem ser intensamente banhado pela claridade e pelo calor, como agora. Neste dia de inverno tão frio, em que saio de casa vestido como se estivesse de partida para uma expedição ao Pólo Sul, receber o sol pelas costas é como abrir as portas do paraíso terrestre. Uma jovem sentada noutra mesa, talvez aluna da universidade, consulta o menu em inglês e faz o pedido nessa língua. Noutra mesa, encostado a uma parede revestida por um grande espelho que parece esticar o espaço, um casal pouco mais do que adolescente pede cafés americanos, um croissant e uma fatia de bolo de chocolate, que eu cobiço avidamente com o olhar. Também perto da janela virada para a frente do café, como eu, uma mulher trabalha ao computador e lá fora, na rua, passam bandos de alunos das escolas vizinhas, no intervalo de uma aula de Português ou Físico-Química.

A minha chávena de café jaz vazia no tampo da mesa, ao lado do meu pc, um daqueles símbolos de modernidade que são quase como apêndices dos nossos corpos. Por ela pagarei 90 cêntimos, quando me devolver ao mundo lá fora.

Este é um país. Outro país é aquele por onde passeei no dia anterior. Já quase no final de um itinerário sem rumo certo, na estrada que desce da Serra do Arestal até Sever do Vouga, encostei o carro junto a um edifício de Vila Seca em cujos toldos vermelhos se lia “Alegria da terra” e “O seu café de excelência”, com quatro cadeiras encostadas à fachada, ao sol de Dezembro. Entrei no pequeno estabelecimento, café, mercearia e churrascaria em simultâneo. A uma mulher de atalaia ao grelhador, atarefada a assar frangos de churrasco, pedi um café, que bebi numa das cadeiras do exterior, a ver passar carro nenhum e consolado com o som do silêncio que impera por aquelas bandas. De regresso à penumbra do interior, um homem entretanto aparecido das profundezas do estabelecimento conta a já longa história da loja. Ao fim de uns minutos de conversa, pago 65 cêntimos e despeço-me. Deixo para trás o casal, já com muitas voltas ao sol, e os frangos, já com muitas voltas à brasa, e vou à minha vida, regressando a Aveiro pela magnífica EN16.

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É nestas zonas serranas que se encontram algumas das mais bonitas estradas da região, sinuosas e ladeadas por árvores majestosas: a EN16-3, cruzando Valmaior, Rendo, Busturenga e Ribeira de Fráguas; a M553, atravessando Vilarinho de São Roque; a M552 e a M1479, serpenteando pelas pequenas aldeias da Serra do Arestal, como Decide, Chã, Arestal, Folhense e Zibreiros, partilhadas por Sever do Vouga e Vale de Cambra. Pelo meio, furando o nevoeiro, que parece des-solidificar as árvores e o alcatrão dando-lhes uma consistência quase incorpórea, faço ainda curtos desvios até Vilarinho de São Luís e Felgueira, antes de atingir o Santuário de Nossa Senhora da Saúde da Serra, em Gestoso, que o Turismo do Porto e Norte de Portugal diz ser “um dos mais importantes santuários de devoção mariana do distrito de Aveiro”.

À chegada, cruzo-me com um casal a vender velharias numa carrinha na berma da estrada, estaciono o carro e dirijo-me ao templo, pisando um imenso tapete de folhas castanhas que amortecem cada passo. Há bastantes fiéis por ali, ou no interior da igreja ou no tocheiro, onde depositam as suas velas ao lado de outras já ardidas e que são agora torrões de cera com formas bizarras. Eu, pouco dado a experiências místicas, opto por ir indagar o que está à venda nas bancas montadas num dos caminhos junto ao santuário. A uma velha vendedora ambulante compro castanhas e bolos de coco e nem um minuto depois, Nossa Senhora da Saúde me perdoe, estou alegremente a perpetrar um dos pecados capitais.

Abandono o bonito santuário, atravessado pelo roteiro pedestre PR5 – Aldeias do Arestal, conduzo por mais uns quilómetros por povoações ali à volta e empreendo o caminho de regresso a casa. Neste outro Portugal encontro coisas maravilhosas – as pequenas aldeias, o parque de merendas de Ribeira de Fráguas, o santuário, as estradas, os ribeiros, as árvores, o silêncio, a paz. Mas também abundantes sinais de despovoamento: pouca gente, casas abandonadas, velhos negócios encerrados. Como eu tanto gosto deste país recôndito, voltarei sempre que puder a percorrer as suas estradas.

 

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