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André Baroet: coordenar nadadores-salvadores é a sua praia

Sociedade

André Baroet quis tirar o curso de nadador-salvador pela necessidade de arranjar um trabalho de verão que ajudasse a fazer face às despesas. Hoje, 21 anos depois, é a sua grande paixão pela praia, pelo mar e pelo serviço aos outros que continua a movê-lo nesta missão.

André cresceu na Vista Alegre, em Ílhavo, e, como era habitual naquela comunidade, aprendeu a nadar na praia da Barquinha, no canal do Boco da Ria de Aveiro, junto à afamada fábrica de porcelanas. Os primeiros verões passou-os na Costa Nova, com a avó, na casa que esta alugava para os meses das “férias grandes”, mas à medida que adolescência ia tomando o lugar da infância, André passava a encarar cada vez mais a Barra como a “sua” praia.

Se, por um lado, era comum as famílias ilhavenses passarem os meses de verão na Costa Nova, por outro, quase todos os jovens, a certa altura das suas vidas, passavam a preferir a Barra. “Naquele tempo, a praia da Costa Nova era zona do jet-set. A Barra é que era boa para a ramboiada”, conta Baroet, admitindo que, “hoje em dia, são muito semelhantes, essa diferença já não se nota”.

André lembra-se das “idas de bicicleta de Ílhavo para a Barra com os amigos, das brincadeiras com a malta, dos nossos mergulhos. E, claro, de voltarmos para casa, ao fim do dia, pelas ruas desertas da colónia agrícola”. “Houvesse bom tempo e eram 4 meses disto”, remata, propósito dos eternos verões da sua adolescência

Apesar de ter dado as primeiras braçadas nas águas da Ria, até perto dos 14 anos de idade, André fez natação, primeiro no Sporting Clube de Aveiro e, mais tarde, já em classes de pré-competição e competição, nas piscinas do Beira-Mar. Naquela altura, André nadava, sobretudo, “por desporto e pelo convívio com o pessoal”, mas hoje reconhece que todos aqueles anos de piscina dar-lhe-iam uma prática fundamental para o ofício que, poucos anos depois, viria a abraçar.

Assim que a maioridade o permitiu, André não hesitou em tirar o curso de nadador-salvador. “Precisava de ganhar algum dinheiro. Era comum os jovens da minha idade irem para as obras, mas, na praia, não só não tínhamos de andar a acartar baldes de massa, como o trabalho era mais bem pago”, conta o nadador-salvador. Desde esse verão, não mais parou. “De 2000 até agora tive sempre o cartão válido e trabalhei em todas as épocas balneares”, exalta solene e orgulhosamente.

André estudou engenharia mecânica. De segunda a sexta-feira, trabalha numa empresa da área e, nos tempos livres, ainda desenvolve alguns projetos pessoais que lhe ocupam o tempo e o espírito. Assim, nos últimos anos, além das funções de coordenação dos nadadores-salvadores nas praias da Costa Nova e da Barra, praticamente, só tem trabalho na praia aos fins de semana e feriados. André gosta de juntar os amigos para umas partidas de futebol e, uma vez por outra, de ténis. Afinal, manter a condição física é fundamental para um nadador-salvador. E, apesar de assumir funções de gestão, este ilhavense é, antes de tudo o resto, nadador-salvador e, para isso, “há que revalidar o cartão de três em três anos”, repetindo os exames e as provas físicas.

Em conjunto, as praias da Costa Nova e da Barra têm capacidade para acolher mais de 25 mil banhistas em tempos de pandemia, de acordo com os dados da Agência Portuguesa do Ambiente e as orientações das autoridades de saúde. Números impressionantes, que fazem com que as praias ilhavenses estejam entre os maiores areais do país. São “Praias Acessíveis”, têm selo de qualidade de ouro da água e do mar e ostentam a Bandeira Azul, galardão que atesta o cumprimento de uma extensa série de critérios de natureza ambiental, segurança e conforto dos utilizadores. Ao longo dos anos, o compromisso da ResgatÍlhavo, a associação que salvaguarda a vigilância e segurança nas praias ilhavenses, tem sido fundamental para garantir estas distinções.

André Baroet é presidente da ResgatÍlhavo e responsável pela gestão das praias marítimas da Costa Nova e da Barra, bem como da praia fluvial do Jardim Oudinot. A cada verão, lidera uma equipa que ronda as 30 pessoas e que se organiza, num sistema rotativo, garantindo a vigilância de vários quilómetros de areal. Na Barra (na Praia Velha, também conhecida por Meia Laranja, e nas praias a sul do paredão) trabalham 11 nadadores-salvadores em época baixa (correspondente aos meses de junho e setembro) e, em época alta (nos meses de julho e agosto), o dispositivo aumenta para 12 elementos. Na Costa Nova, são 7 nadadores-salvadores na época baixa e 8 na época alta. No entanto, de há três anos a esta parte, a ResgatÍlhavo vigia também aquela extensão de areal não-concessionada que vai da rua do Banho à Avenida do Mar. “O município de Ílhavo acarreta com 100 por cento dos custos inerentes à atividade dos nadadores-salvadores que lá colocamos. São 2 em época baixa e 3 em época alta”, refere Baroet. Note-se que, neste momento, está a ser construído um novo apoio de praia em frente ao Cais Criativo da Costa Nova, mas, por ora, essa ainda é zona não-concessionada.

Feitas as contas, sem considerar a praia fluvial do Jardim Oudinot, nos meses de maior afluência, e cumprindo uma jornada de trabalho diária de normal duração, são necessários mais de 23 nadadores-salvadores por dia nas praias da Costa Nova e da Barra.

Segundo André Baroet, 90 por cento dos nadadores-salvadores em atividade nas praias ilhavenses são estudantes universitários; dois terços, são rapazes; há jovens naturais da região e outros que chegam de localidades como a Figueira da Foz ou a Guarda. Para os acolher, a ResgatÍlhavo utiliza umas instalações no porto de pesca costeira, na Gafanha da Nazaré, cedidas pela Administração do Porto de Aveiro. “É um espaço com cerca de 100 metros quadrados que nos foi cedido com isenção de taxas. Só pagamos água, luz e saneamento. Equipámo-lo e está preparado para acolher 4 pessoas com todas as condições. Em casos pontuais e de curta duração, chegamos a admitir que a lotação vá até às seis pessoas”, descreve o coordenador.

A profissão de nadador-salvador é sazonal e, salvo algumas exceções – como André, que se mantém em atividade ininterrupta há mais de duas décadas –, renova-se em ciclos de 3 a 4 anos. Para os jovens, a primeira época balnear enquanto nadador-salvador costuma coincidir com o último ano do ensino secundário. E, uma vez concluída a sua formação superior, no momento em que começam a querer entrar no mercado de trabalho, é habitual afastarem-se do ofício de nadador-salvador ou, pelo menos, restringirem a sua disponibilidade a ocasiões pontuais.

A Aveiro Mag esteve à conversa com André Baroet no primeiro dia da época balnear que, rapidamente se percebeu, é também dia de partidas entre colegas de praia. “Há bocado telefonou-me um dos mais novos a dizer que já foi recolher água a cem metros da costa para análise e a perguntar-me quando é que eu vou recolher a amostra. Já sei que foi tanga da malta mais velha. Disse-lhe para guardar a água à sombra que, mais ao fim do dia, passava lá, só para não estragar a piada aos mais velhos”, conta o coordenador. “Amanhã, os novatos contam uns aos outros e já não voltam a cair”, acrescenta.

Este ano, há 12 novos nadadores-salvadores nas praias do município de Ílhavo.

Muitos dos nadadores-salvadores que, em 2019, haviam comunicado a Baroet a intenção de se retirarem no final daquele verão, acabariam por voltar em 2020. “A pandemia trouxe muita incerteza ao mundo do trabalho e das empresas e isso fez com eles demonstrassem disponibilidade para assegurar mais uma época balnear”, diz Baroet, que confessa ter estado “à rasca para arranjar gente” a tempo do arranque da época. Com a declaração do estado de emergência, na primavera de 2020, e todas as restrições associadas à primeira vaga da pandemia, os cursos de nadador-salvador foram interrompidos e acabaram por se atrasar bastante. “Quando finalmente terminaram, em julho, já nós estávamos com a equipa completa e o verão planeado”, ressalva o coordenador. Isto acabaria por implicar que esses potenciais candidatos, cuja formação só terminou a meio do verão passado, transitassem para o 2021.

“Felizmente, temos conseguido assegurar , mas todos os anos temos dificuldades no recrutamento”, lamenta André Baroet. Antes de mais, para tentar reverter esta tendência, “era importante que as entidades formadoras da região apostassem numa melhor divulgação dos cursos nas escolas secundárias, nas piscinas municipais, nos ginásios”, elenca o recrutador. Mas também há que considerar o facto de boa parte dos potenciais candidatos, cujo perfil já aqui traçado revela serem maioritariamente estudantes, “não querer trabalhar muitas horas para não atingir valores que façam com que percam as bolsas de estudo ou não querer assinar contratos de trabalho para garantir que não perdem a oportunidade de, aquando da entrada para o mercado de trabalho, serem elegíveis para estágio profissional”. Ora, tudo isto implica uma gestão de horários de trabalho e disponibilidade de recursos muito mais complexa, agravada pelo facto de serem cada vez menos candidatos.

Como se tudo isto não bastasse, há que ter em atenção que, cada vez mais, as praias do sul, com a região do Algarve à cabeça, são mais atrativas, já que têm uma estrutura e capacidade para pagar valores mais elevados do que aqueles que se praticam no centro e norte do país. “Com os números que apresenta, o Algarve consegue recrutar muito mais gente, ainda que as condições prometidas nem sempre sejam aquelas que depois se verificam no local”, esclarece Baroet.

Que os nadadores-salvadores são garantia para os banhistas de uma praia mais segura ninguém têm dúvidas. Mas será que, em tempos de pandemia, os nadadores-salvadores se sentem seguros?

Por serem jovens saudáveis, a grande maioria dos nadadores-salvadores que estão no ativo nas praias ainda não foram vacinados contra a Covid-19. Muitos consideram, no entanto, que, pelas exigências da sua atividade e pela necessidade de contacto com pessoas no areal e, principalmente, no mar, muitas vezes em situações de grande aflição, deviam ter merecido prioridade na vacinação tal como aconteceu com as forças de segurança e os agentes de socorro. “Parece que essa possibilidade chegou a ser ventilada em reuniões das entidades competentes, mas nunca chegou a ir para a frente. O que é certo é que a época balnear já começou e os nadadores-salvadores não foram vacinados”, lamenta André Baroet.

No ano passado, para tentar prevenir a transmissão do novo coronavírus, a FEPONS – Federação Portuguesa de Nadadores-Salvadores – recomendava que os nadadores-salvadores privilegiassem salvamentos à distância, sem entrar na água. Nos casos em que isso não fosse possível, deviam fazer-se acompanhar de equipamentos que ajudassem a manter uma distância de segurança para com o náufrago e seguir todo um protocolo que, tanto quanto possível, minimizava o risco de eventuais contágios. Da mesma forma, apelava-se para que o socorro prestado na areia nunca descurasse a utilização de luvas e máscara de proteção.

Pela experiência de André Baroet, estas recomendações foram cumpridas, mas agora, um ano volvido, “a malta começa a facilitar”. “Além do problema que seria se um deles contraísse o vírus, tendo, por isso, de cumprir a obrigatória quarentena, receio que baste um acusar positivo para que o mesmo venha a acontecer a outros. Eles convivem ao final do dia, ainda que em grupos pequenos. Se tiverem de ficar 4 ou 5 em quarentena em simultâneo teremos um grande problema”, alerta. “E se, por uma destas contingências inesperadas impostas pela pandemia, a ResgatÍlhavo não conseguir cumprir o dispositivo ao qual se propôs, o que é acontece? Pois bem, a esta pergunta ainda ninguém me conseguiu responder”, adianta Baroet, inquieto.

À medida que se aproximam os primeiros dias de verão, o bom tempo começa a atrair cada vez mais pessoas às praias ilhavenses. André Baroet apela a que os banhistas frequentem zonas vigiadas e que respeitem as indicações dadas pelos nadadores-salvadores e pelas bandeiras, não só no que diz respeito às “idas a banhos”, mas também no concerne à lotação das praias.

André mantém uma boa relação com os banhistas e incentiva a que a sua equipa se esforce por fazer o mesmo. A sensibilização é fulcral. São as atitudes de prevenção que mais ajudam a evitar possíveis acidentes ou situações de perigo.

A época balnear começou no passado dia 10 de junho e decorre ao dia 19 de setembro.

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