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Bruno dos Reis apresenta “Vi o Ayrton Senna morrer nos olhos do meu irmão”

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O Teatro Aveirense (TA) acolhe, este sábado (21h30) e domingo (19h00), mais uma estreia. “Vi o Ayrton Senna morrer nos olhos do meu irmão” conta com a encenação e texto de Bruno dos Reis e resulta de uma parceria entre o TA e o Teatro José Lúcio da Silva, de Leiria, integrada na Rede de Teatros e Cineteatros de Portugal. Para o efeito, a sala de espetáculos aveirense lançou um desafio à Associação Dolodo e à Orquestra Filarmonia das Beiras para a criação de um projeto a apresentar nas duas cidades.

A poucos dias de o espectáculo subir ao palco do TA, a Aveiro Mag esteve à conversa com o encenador aveiremse Bruno dos Reis, para descobrir um pouco mais sobre o espectáculo que junta Dick Steeves, João Tarrafa, Nuno dos Reis e Teresa Queirós na interpretação, e que já tem lotação esgotada.

Como surgiu a ideia para desenvolver este espectáculo?

Foi um convite do Teatro Aveirense, na tentativa de promover a cocriação entre diferentes estruturas. Neste caso, nós e a Orquestra Filarmonia das Beiras.

Para ser honesto, não foi uma coisa que me entusiasmou muito, inicialmente, sobretudo por estar um pouco desiludido com o teatro de sala, se assim lhe pudermos chamar, mas alguns dos meus colegas tinham muita vontade de o fazer, e como eu ainda não tinha planos que me impossibilitassem de tirar férias, julguei que seria a desculpa ideal.

Parece de mau tom, brincar com isso, sobretudo quando há tanta gente que quer fazer teatro e não consegue, seja porque não tem apoios para isso, seja porque não tem espaço, seja porque não tem colegas tão bons quanto os meus, mas não devemos temer a honestidade.

É, aliás, o que dá origem à temática do espectáculo, para não cair no cliché de dizer “problemática”: porque é que estou, ou estamos, a fazer isto, e porque é que isto ainda é importante fazer. No caso de o ser.

O que o público pode esperar de “Vi o Ayrton Senna Morrer nos olhos do meu irmão”?

Eu acho que é um espectáculo mais aproximado à contemporaneidade do teatro, e menos ao que eu vinha fazendo até aos “Putos no Telhado.” Pelo menos no sentido formal. Acho que os Putos, para mim, foram importantes, no sentido em que me permitiram fazer o espectáculo mais redondinho possível, onde tudo resultava na medida mais ou menos certa, a sua estética, a estrutura de pretensa imersão, os tempos de comédia, o seu ritmo, enfim. Acho que foi importante para eu perceber: ok, está feito, está provado, posso agora fazer o que me der na telha.

Este espectáculo é mais ou menos isso, assim como já foi o “Na Relva Esfola Menos”. O meu gesto, enquanto criador, é a minha vida. Não acho que seja vaidade trabalhar mais a partir dela, enquanto matéria, do que a partir da matéria do Shakespeare. Haverá quem o saiba fazer melhor, ou quem tenha mais paciência que eu. Eu tenho outra vida para gastar. E gosto de fazer qualquer tipo de coisa desde que nisso haja descoberta ou construção. Seja assentar tijolo, levantar paredes, desenhar luz, cenografia, tudo para mim é divertido, é a minha bênção, se assim o puder dizer, mas se me pedem a criação de um espectáculo então nenhuma dor, para mim, vai ser um dispositivo mais interessante do que a minha.

Se as outras pessoas conseguirem achar interesse nisso: ótimo, maravilhoso, é um momento de felicidade que me dão, em retorno da minha partilha. A criação é muitas coisas, e para os outros será outras ainda, mas para mim é isso.

Por isso, o que podem esperar é: um bocadinho das minhas dúvidas, um bocadinho da minha dor, e claro, um bocadinho do meu gozo.

O espectáculo já está esgotado. Poderá ter novas apresentações em Aveiro?

Não creio que existam muitas possibilidades para isso. É difícil, em 2023, dentro daquilo que é o panorama da criação e “circulação” artística em Portugal, haver muito espaço para a repetição de espectáculos no mesmo território. Pelo menos de forma intencional. Acontecem bastantes reagendamentos, mas por estruturas diferentes que ou são um bocadinho surdas ao que as outras vão fazendo, ou que conseguem encontrar um contexto apropriado para isso.

Fico muito feliz, por exemplo, com o caso do Simulacro, que veio do Leme para o GrETUA e vai agora ao Teatro Aveirense, mas é um caso raríssimo. E digo que fico feliz porque é um espectáculo brilhante, mas quando há tanta gente a bater à porta, torna-se difícil justificar a repetição.

Se haveria público para ele? Certamente. O Desvão fez 2000 e tal pessoas, e julgo que se tivéssemos continuado a fazer o espectáculo, mais teriam sido. O Putos foi um cometa que apareceu, esgotou uma sala, e logo foi para debaixo da terra, e o “Na Relva Esfola Menos”, pelo tipo de natureza da sua apresentação e a limitação de espectadores por sessão, teria pernas para correr durante um ano inteiro. Mas o paradigma cultural do nosso país é outro.

É um problema que vem muito de cima, transcende os municípios: aos equipamentos municipais é-lhes imputada a responsabilidade não só de apoiarem a criação como a de serem plataformas de acolhimento e aproximação do restante território nacional e internacional. E não há, como é evidente, nem espaço, nem recursos humanos, nem financiamento suficiente para se fazer tudo. Não há um lugar que não sofra dos mesmos constrangimentos.

Pode ser que, a correr bem, o espectáculo surja na região, noutro lugar que não o Teatro Aveirense, mas não é muito provável. Felizmente, sei que vêm ao espectáculo alguns programadores de equipamentos mais distantes, mas não tenho a mesma certeza relativamente à região. Fica o meu convite endereçado: entre uma ou outra desistência há sempre alguns lugares que surgem. Na dúvida, espero que encontrem o meu contacto.

Enquanto encenador que já esgotou outras produções, como olha para esta resposta do público aveirense? É sinal que o teatro está a ganhar o lugar que merece na cidade?

Não devemos confundir o aparente “sucesso” de um criador, ou de um coletivo, com indicadores de sucesso de um território. Menos ainda quando o respetivo criador, ou coletivo, são conterrâneos da maioria do público. Há outras relações que transcendem a reverberação do espectáculo - a familiaridade, a proximidade, enfim. Não me posso queixar, de todo, dos resultados do acolhimento dos meus trabalhos fora da minha cidade, mas seria um erro da minha parte julgar que “esgotar”, em Aveiro, é um indicador desassociado de outras leituras.

Não me interpretem mal, julgo que é verdadeiramente maravilhoso ver centenas de bilhetes vendidos passados algumas horas, através de um press lançado e um post de facebook, mas o meu trabalho é uma coisa e a minha cidade, naturalmente, é outra.

Parece-me evidente que o panorama em 2023 é melhor do que há meia dúzia de anos, mas o Teatro ganhar o lugar que merece, na cidade, estará condicionado por outras questões. No dia em que qualquer criador, seja ele quem for, não tenha que passar muitas dificuldades para conseguir criar um espectáculo - aí sim, o teatro terá definitivamente um lugar.

Foram anunciados muitos passos nesse sentido. Foram trilhados alguns. Mas só o futuro será capaz de o dizer. Trabalhemos para isso.

A ficha técnica está repleta de nomes ligados ao GrETUA, mas não tem o GrETUA. Algum motivo para isso?

A “Dolodo Teatro” é uma estrutura composta por gente que pertenceu ou que passou pelo GrETUA. Alguns ainda lá estão, outros menos, e outros já coisa nenhuma. Surgiu porque o GrETUA não é capaz de fazer tudo, nem tem essa incumbência, e menos ainda a de ficar agrilhoado ao trabalho artístico de alguém que fez este ano 40 anos. Já chega que tenha de continuar a “sofrer” a minha direção artística. E também isso terá os seus dias contados, como deve ser.

Mas o GrETUA também apoiou este projeto: com espaço para os seus ensaios, por exemplo. A alma dele está cá: e é muito bonito que os nomes sejam reconhecidamente do GrETUA. Tanto neste espetáculo como noutros que andam por aí a cirandar o país. É sinal que o projeto está a vencer.

Em frente, sempre. Mas sabendo olhar para trás.

* Crédito da foto: Grafonola
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