AveiroMag AveiroMag

Magazine online generalista e de âmbito regional. A Aveiro Mag aposta em conteúdos relacionados com factos e figuras de Aveiro. Feita por, e para, aveirenses, esta é uma revista que está sempre atenta ao pulsar da região!

Aveiro Mag®

Faça parte deste projeto e anuncie aqui!

Pretendemos associar-nos a marcas que se revejam na nossa ambição e pretendam ser melhores, assim como nós. Anuncie connosco.

Como anunciar

Aveiro Mag®

Avenida Dr. Lourenço Peixinho, n.º 49, 1.º Direito, Fracção J.

3800-164 Aveiro

geral@aveiromag.pt
Aveiromag

Miriam Julião: o mar está-lhe no sangue e o coração bate ao ritmo das ondas

Artes

Decorre até amanhã, na praia da Costa Nova, em Ílhavo, a 18.ª edição do Miss Prio Cup, a única prova exclusivamente feminina do surf nacional. Organizado pela ASA – Associação de Surf de Aveiro –, este é um evento especial, que pontua para o ranking nacional e se realiza à margem da Liga MEO Surf, a principal competição de surf em Portugal. Na última década, só nos últimos dois anos é que a campeã nacional não foi coroada na Costa Nova, algo que, este ano, também não vai acontecer. Teresa Bonvalot sagrou-se campeã em junho passado, no Allianz Ribeira Grande Pro – é a quarta vez na carreira da atleta do Sporting CP. Na Costa Nova, o título também não poderá ser conquistado pela campeã das últimas edições, Yolanda Hopkins, quinta classificada nos Jogos Olímpicos de 2020, em Tóquio. Com estas ausências, o lugar cimeiro do pódio pode mesmo vir a ser ocupado por uma estreante.

Quem está em competição nas ondas da Costa Nova é Miriam Julião, da Associação de Surfistas de Vagos. Com apenas 14 anos, Miriam é uma das mais promissoras jovens surfistas em Portugal. Além de ser a atleta mais nova a competir na Liga MEO Surf, recentemente, venceu as duas etapas do Rip Curl GromSearch (sub14 feminino) – respetivamente, na Costa da Caparica e em Leça da Palmeira –, apurando-se para a final europeia daquela competição, que terá lugar em janeiro de 2023, em Taghazout (Marrocos).

Natural da Vigia, em Santo André de Vagos, Miriam Julião tinha apenas seis anos quando fez a sua “primeira surfada”, na praia do Labrego. Miriam tinha acabado de abandonar o basquetebol, por incompatibilidade de horários com a escola, e estava à procura de uma nova modalidade desportiva à qual pudesse dedicar o seu tempo e energia. O pai – Rui Julião –, que, ao serviço dos bombeiros de Vagos, cuidava da vigilância das praias do concelho – sugeriu-lhe um batismo de surf com um instrutor amigo. À primeira experiência, Miriam não teve dúvidas: tinha encontrado no surf uma vocação apaixonante. “Sempre adorei o mar e senti que, com o surf, ia poder estar ainda mais próxima dele”.

Antes das primeiras aventuras em cima de uma prancha, Miriam já era adepta de visitas à praia com os pais. “Uma vez, na escola, pediram-nos para escrever sobre o que mais gostávamos de fazer nas férias de verão... Ainda guardo o caderno onde descrevi a minha paixão pela praia, pelo mar, pelos castelos na areia, pelas conchas”, relata a jovem, constatando que “a praia sempre foi um local essencial para o meu bem-estar”.

Quanto ao mar, é como se lhe corresse nas veias. O avô embarcou em navios da pesca do bacalhau e o pai foi praticante e treinador de vela. É como se o seu próprio sangue fosse salgado e o coração batesse ao ritmo das ondas. À conversa com a Aveiro Mag, facilmente Miriam se perde em descrições de fascínio, entusiasmo e comoção, referindo-se ao mar como se de uma pessoa querida se tratasse. “E trata!”, confirma Miriam. “Sei que isto pode parecer estranho para muita gente, mas, para mim, o mar é uma pessoa. Quando estou no mar sinto que estou com o meu avô. Falo com ele, ele acalma-me, ajuda-me a tomar as melhores decisões e dá-me a força para querer sempre melhorar o meu surf”, descreve, emocionada. Não deixa de ser curioso que o avô de Miriam tenha falecido quando a surfista ainda era bebé. Todavia, a ligação estabelecida entre avô e neta era tão forte e singular que venceu o tempo e a separação física, perdurando nas memórias que a família sempre fez questão de eternizar. “Eu era uma bebé que chorava muito e só o colo dele é que me conseguia acalmar e arrancar-me um sorriso”, conta Miriam.

De facto, a família é peça fundamental no percurso que Miriam tem vindo a trilhar. À cabeça, o pai, que começou a trabalhar à noite para poder acompanhá-la durante o dia. Rui Julião é motorista, videógrafo, assessor de imprensa, gestor das redes sociais de Miriam, tratando também de angariar apoios e negociar patrocínios para fazer face aos elevados custos associados à prática da modalidade. Durante algum tempo, chegou mesmo a assumir a função de treinador. Hoje em dia, porém, Miriam trabalha com um personal trainer e é acompanhada à distância por Manuel Gameiro, o mesmo treinador da consagrada Teresa Bonvalot.“À medida que fomos abraçando o surf, isto começou a tomar proporções cada vez maiores. Passou de uma simples aula, para competições internacionais, de uma rotina onde só havia um treino por semana, para um quotidiano de treinos diários”, esclarece Rui Julião.

Se há município na região de Aveiro que ostenta o surf como um cartão de visita de excelência, é o município de Vagos. Esta é a terra “onde o surf começa” – como sugere uma campanha municipal de promoção turística daquele território. Da Vagueira ao Areão, passando, claro, pelo Labrego, há praias onde o lazer, o desporto e a diversão se conjugam facilmente. Pelo meio há ainda refúgios por descobrir, como um spot especial onde, há dois anos, Miriam gostava particularmente de surfar. “Foi uma onda que deu o verão todo e que, por isso mesmo, me permitiu melhorar bastante. Era uma daquelas ondas em que dá para fazer todas as manobras. Tinha uma secção para tubos, outra para batidas, outra para cutbacks – as várias manobras do surf. Era uma praia com a qual eu nem tinha uma ligação particular porque já não dava boas ondas há algum tempo e, naquele ano, fiquei maravilhada com aquilo”, recorda a jovem surfista que elege as praias da Barra e do Areão como as suas favoritas.

Este ano, Miriam foi chamada à Seleção Nacional pela primeira vez e, com os olhos postos no futuro, vive com expectativa a possibilidade de, em breve, poder vir a representar Portugal. A chegada aos Jogos Olímpicos também é uma ambição. Mas se há meta que a jovem não hesita em assumir, é a de se tornar “surfista profissional e viver da prática do surf”. “E, se não der certo, terei sempre um plano B”, completa, logo a seguir, ajuizadamente. “Quero tirar o curso de nadadora-salvadora, formar-me em Desporto e tornar-me juiz ”, avança, reiterando que, dê lá por onde der, o seu percurso passará sempre pela praia e pelo mar.

A conversa já estava perto do fim quando uma criança, fintando o microfone da Aveiro Mag, consegue chegar a Miriam para a abraçar, sussurrando-lhe qualquer coisa ao ouvido. Desfazem o abraço com um sorriso brilhante e um “até já” comprometido e, cheia de orgulho, Miriam acaba por desvendar aquela inadiável mensagem: “Disse-me que veio à praia para surfar comigo”.

O futuro aguarda Miriam com a mesma paciência com que a jovem, deitada sobre a prancha e atenta à pulsação do oceano, espera a próxima onda, mas é notável que, com apenas 14 anos, o seu exemplo de garra e determinação já inspire e movimente gerações mais novas.

*Foto da capa: André Neto

Automobilia Publicidade

Apelo a contribuição dos leitores

O artigo que está a ler resulta de um trabalho desenvolvido pela redação da Aveiro Mag. Se puder, contribua para esta aposta no jornalismo regional (a Aveiro Mag mantém os seus conteúdos abertos a todos os leitores). A partir de 1 euro pode fazer toda a diferença.

IBAN: PT50 0033 0000 4555 2395 4290 5

MB Way: 913 851 503

Deixa um comentário

O teu endereço de e-mail não será publicado. Todos os campos são de preenchimento obrigatório.