Deixando as listas e os prémios e menções honrosas para os verdadeiros críticos de literatura, enquanto apaixonada pelas letras e pelos livros gostava de vos falar sobre o que descobri e me encantou este ano. Foi, sem dúvida, um ano de descobertas, de autores recentes, mas também de autores mais antigos dos quais já tinha ouvido falar, mas que estavam a aguardar o momento certo para serem lidos. Mas, essencialmente li mais autores que não conhecia do que aqueles que já conhecia e, tal como no ano anterior, mais autoras do que autores.
Na categoria das novidades e autores que me arrebataram na primeira leitura e confirmaram o lugar no pódio com o segundo livro, não hesito minimamente em colocar Douglas Stuart – amei “Shuggie Bain” e mantive o mesmo amor com “Um lugar para Mungo” – e Hanya Yanagihara. Uma pequena vida foi o primeiro livro que li da autora e confesso que me fez sentir aquilo que poucos livros fizeram sentir, um misto de angústia e dor, mas também de empatia, esperança e alegria. Um livro absolutamente essencial para nos pormos no lugar do outro e relativizarmos os nossos problemas. Por isso, assim que a autora publicou “Ao paraíso”, este livro veio de imediato parar às minhas mãos e já me conquistou.
Em 2023, assumi o propósito de sair da minha zona de conforto literário, claramente o romance e a ficção, e tentar um novo género: a poesia. Confesso que me sentia um bocadinho incapaz de me deixar levar pela poesia, mas este ano cultivei este gosto por este estilo, venci esta barreira e conheci poetas, nacionais e estrangeiros, que me mostraram que, com o mood certo, a poesia é uma guloseima para a alma.
Descobri poetas portugueses de que fiquei fã, como João Luís Barreto Guimarães, com “O tempo avança por sílabas” e “Aberto todos os dias”. Fiquei absolutamente rendida à forma como Adília Lopes pega em temas banais e os engrandece com as palavras, e faz isso, tão bem em “Dias e dias”, “Manhã” e “O ar da manhã”. A mesma capacidade de tornar belo o simples, encontrei-a em Maria do Rosário Pedreira, com “O meu corpo humano”, já para não falar da beleza que não passa de moda de Sophia de Mello Breyner Andresen, em “Mar novo”, Emily Dickinson, em “Duzentos Poemas” ou ainda da atualidade de Filipa Leal, em “Fósforos e metal sobre imitação de ser humano” ou “A importância do pequeno-almoço” de Francisca Camelo. Na poesia, a sensibilidade feminina conquistou claramente o meu coração e ensinou-me a gostar e saborear a calma que os poemas nos trazem e a oportunidade de pensar, sonhar e escrever nas entrelinhas dos poetas.
Ao fazer este balanço das minhas leituras de 2023, constato que não foi só na poesia que as mulheres me conquistaram. Também na ficção, o lugar de destaque, depois do pódio bem distribuído entre Douglas Stuart e Hanya Hanaghiara, vai para a minha tardia descoberta de duas autoras maravilhosas: Rosa Montero e Isabela Figueiredo. Confesso que senti um misto de vergonha e pena por só agora as ter lido, quando tudo o que ouvia delas era fantástico e foi isto que confirmei em “A louca da Casa” e “O perigo de estar no meu perfeito juízo”, de Rosa Montero e “A gorda”, de Isabela Figueiredo, foram dos livros mais surpreendentes que li.
Sou uma fã confessa de Annie Ernaux e, em 2023, li vários livros da autora: “Os anos”, “Um lugar ao sol seguido de uma mulher” e “Memória de rapariga” e não consigo escolher um para destacar pois, todos retratam períodos intensos da vida da autora e todos estão escritos de uma forma genial.
Autoras que amei, foram ainda Leila Slimani com “Vejam como dançamos”, Jesamine Chann, com “Escola para boas mães” e “Olive Kittridge”, de Elisabeth Strout.
Já conhecia e gostava muito de Javier Marias e, por isso, apesar de ter adorado, não me surpreendeu o seu livro “Quando os tontos mandam” - este desconcertante livro é a prova que o autor nunca desilude em estilo nenhum.
E, por último, descobri dois grandes autores, que apesar de não serem recentes, foram para mim uma boa descoberta e fiquei rendida à sua genialidade. Foi o caso de Edward St Aubyn, cujo génio, ironia e sagacidade em “The Patrick Melrose Novels” o colocaram num dos autores que mais gostei de ler desde sempre. Outro livro muito bom, embora com caraterísticas diferentes, foi “Vida mortal e imortal da rapariga de Milão”, de Domenico Starnone e ainda fiquei absolutamente encantada com a descoberta de Carta Madeira, em “A natureza da Mordida” e Aurora Venturini em “As primas”.
Por último, e porque sou absolutamente fá do que se escreve em Portugal e acho que nem sempre valorizamos os nossos autores, adorei o livro “Misericórdia”, de Lídia Jorge, não só porque o livro retrata uma realidade que conheço bem, mas sobretudo porque aborda a questão do envelhecimento e do significado e sentido da vida, com um humanismo, humor, sagacidade e alguma ligeireza muito interessante.
Foi essencialmente, um ano de descobertas e de me aventurar por áreas onde não estava tão familiarizada, como a poesia, e terminei o ano a agradecer a todos estes belíssimos autores que me fizeram companhia, me arrancaram gargalhadas fortes e sobretudo me fizeram pensar sobre questões tão importantes. As horas que passei na companhia destes livros foram, de facto, horas muito felizes!
Que 2024 traga boas leituras e boas partilhas.