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As minhas descobertas literárias de 2023

Opinião

O ano de 2023 fica marcado pela atribuição do Prémio Nobel da Literatura a Jon Fosse, escritor e dramaturgo norueguês que tem a arte de captar e descrever as histórias mais simples e banais, que passam despercebidas aos mais distraídos, mas que são contadas com uma beleza que as engrandece. Tornar belo o simples, afastando-se da tendência de fazer o mundo e as pessoas a preto e branco, ao descobrir sempre alguma coisa de bom naqueles que a sociedade tem tendência para afastar.

Jon Fosse é um dos mais importantes e premiados autores ainda vivos e soma uma vastíssima e muito eclética obra composta por romances, teatro, poesia, livros para crianças e ensaios, tendo já sido traduzido em mais de 40 línguas.

O seu reconhecimento, no país de origem e noutros países, está patente nos prémios que já recebeu, antes mesmo do Prémio Nobel, como é o caso do Prémio Internacional Ibsen, do Prémio Europeu de Literatura e do Prémio de Literatura do Conselho Nórdico. No seu país, o reconhecimento da sua importância está patente no direito que lhe foi atribuído pelo Rei da Noruega, a residir numa residência honorária situada nas propriedades do Palácio Real de Oslo, onde reside desde 2011. De facto, esta é uma honra, que pretende agradecer e premiar aqueles que dão um importante contributo para a arte e cultura norueguesa - o direito a residir em “Grotten” - e Jon Fosse foi honrado com este benefício em 2011.

Dos muitos livros que o autor escreveu comecei por ler a “Trilogia”, composta por três novelas com um fio condutor que as une leve mas profundamente e nas quais o autor explora, com uma beleza e tangência muito singulares, as virtudes e os “defeitos” humanos e as mais simples histórias da vida. Gostei muito da escrita do autor, sobretudo pela ausência de grandes floreados e pela simplicidade com que aponta o dedo aos preconceitos e a tudo o que estes podem ter de mal, e desconstrói esta ideia tao enraizada de ver o mundo e as pessoas a preto e branco.

Já há alguns anos que tenho o hábito de acompanhar a lista de livros de Barack Obama, porquanto as suas sugestões, sem terem qualquer propósito comercial, dão-nos a conhecer autores emergentes, que falam sobre temas atuais e sobre os quais urge refletir, como as grandes questões sociais, as desigualdades e os preconceitos. Para 2023, Barack Obama, sugeriu “A Floresta de Birnam”, de Eleanor Catton; “Smal Mercies”, de Dennis Lehane; “The Wager”, de David Grann; “Poverty, by America”, de Matthew Desmond; “All the Sinners Bleed”, de S.A. Cosby; “Olá, linda”, de Ann Napolitano; “What Napoleon Could Not Do, a Novel”, de Dk Nnuro; “Blue Hour”, de Tiffany Clarke Harrison e “King: The Life of Martin Luther King”, de Jonathan Eig.

Infelizmente o tempo não é elástico e, de todas estas excelentes sugestões – algumas já estão na minha TBR e sei que não me vão desiludir.... –, li apenas “Olá, linda” sobre o qual falarei aqui em breve. Este livro é maravilhoso na forma como reflete sobre a importância do amor e dos gestos de amor na formação da nossa personalidade e no nosso percurso de vida, bem como nas relações que vamos estabelecendo ao longo da nossa vida. Um livro que encerra uma importante mensagem para os pais, sobre o impacto das suas palavras e gestos de amor, mais do que a sua fama, dinheiro ou projeção social, no caráter e na vida dos filhos. E, para os filhos, um apelo à compreensão e empatia e à importância dos laços de família. Este é um livro que deveria estar em todas as estantes.

O Público também costuma apresentar uma boa lista de sugestões e, este ano, incluiu na sua lista: “Gargântua & Pantagruel”, de François Rabelais; “O Eu É Um Outro”, de Jon Fosse; “Felizes Anos de Castigo”, de Fleur Jaeggy; “Acolher”, de Claire Keegan; “A Borga”, de Eduardo Blanco Amor; “Não Tenho Casa se Esta não For a Minha Casa”, de Lorrie Moore; “Memórias Encontradas numa Banheira”, de Stanislaw Lem; “Pequena Coreografia do Adeus”, de Aline Bei; “Gloria”, de NoViolet Bulawayo; “Um Lugar para Mungo”, de Douglas Stuart.

Desta extensa lista li “Um lugar para Mungo”, de Douglas Stuart, porque no início deste ano me apaixonei pela escrita deste autor com o livro Shuggie Bain e mal saiu o segundo livro quis lê-lo sem hesitar para confirmar a grandeza do autor. Este autor conquistou-me de forma inquestionável e adorei os dois livros que escreveu.

 

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Deixando as listas e os prémios e menções honrosas para os verdadeiros críticos de literatura, enquanto apaixonada pelas letras e pelos livros gostava de vos falar sobre o que descobri e me encantou este ano. Foi, sem dúvida, um ano de descobertas, de autores recentes, mas também de autores mais antigos dos quais já tinha ouvido falar, mas que estavam a aguardar o momento certo para serem lidos. Mas, essencialmente li mais autores que não conhecia do que aqueles que já conhecia e, tal como no ano anterior, mais autoras do que autores.

Na categoria das novidades e autores que me arrebataram na primeira leitura e confirmaram o lugar no pódio com o segundo livro, não hesito minimamente em colocar Douglas Stuart – amei “Shuggie Bain” e mantive o mesmo amor com “Um lugar para Mungo” – e Hanya Yanagihara. Uma pequena vida foi o primeiro livro que li da autora e confesso que me fez sentir aquilo que poucos livros fizeram sentir, um misto de angústia e dor, mas também de empatia, esperança e alegria. Um livro absolutamente essencial para nos pormos no lugar do outro e relativizarmos os nossos problemas. Por isso, assim que a autora publicou “Ao paraíso”, este livro veio de imediato parar às minhas mãos e já me conquistou.

Em 2023, assumi o propósito de sair da minha zona de conforto literário, claramente o romance e a ficção, e tentar um novo género: a poesia. Confesso que me sentia um bocadinho incapaz de me deixar levar pela poesia, mas este ano cultivei este gosto por este estilo, venci esta barreira e conheci poetas, nacionais e estrangeiros, que me mostraram que, com o mood certo, a poesia é uma guloseima para a alma.

Descobri poetas portugueses de que fiquei fã, como João Luís Barreto Guimarães, com “O tempo avança por sílabas” e “Aberto todos os dias”. Fiquei absolutamente rendida à forma como Adília Lopes pega em temas banais e os engrandece com as palavras, e faz isso, tão bem em “Dias e dias”, “Manhã” e “O ar da manhã”. A mesma capacidade de tornar belo o simples, encontrei-a em Maria do Rosário Pedreira, com “O meu corpo humano”, já para não falar da beleza que não passa de moda de Sophia de Mello Breyner Andresen, em “Mar novo”, Emily Dickinson, em “Duzentos Poemas” ou ainda da atualidade de Filipa Leal, em “Fósforos e metal sobre imitação de ser humano” ou “A importância do pequeno-almoço” de Francisca Camelo. Na poesia, a sensibilidade feminina conquistou claramente o meu coração e ensinou-me a gostar e saborear a calma que os poemas nos trazem e a oportunidade de pensar, sonhar e escrever nas entrelinhas dos poetas.

Ao fazer este balanço das minhas leituras de 2023, constato que não foi só na poesia que as mulheres me conquistaram. Também na ficção, o lugar de destaque, depois do pódio bem distribuído entre Douglas Stuart e Hanya Hanaghiara, vai para a minha tardia descoberta de duas autoras maravilhosas: Rosa Montero e Isabela Figueiredo. Confesso que senti um misto de vergonha e pena por só agora as ter lido, quando tudo o que ouvia delas era fantástico e foi isto que confirmei em “A louca da Casa” e “O perigo de estar no meu perfeito juízo”, de Rosa Montero e “A gorda”, de Isabela Figueiredo, foram dos livros mais surpreendentes que li.

Sou uma fã confessa de Annie Ernaux e, em 2023, li vários livros da autora: “Os anos”, “Um lugar ao sol seguido de uma mulher” e “Memória de rapariga” e não consigo escolher um para destacar pois, todos retratam períodos intensos da vida da autora e todos estão escritos de uma forma genial.

Autoras que amei, foram ainda Leila Slimani com “Vejam como dançamos”, Jesamine Chann, com “Escola para boas mães” e “Olive Kittridge”, de Elisabeth Strout.

Já conhecia e gostava muito de Javier Marias e, por isso, apesar de ter adorado, não me surpreendeu o seu livro “Quando os tontos mandam” - este desconcertante livro é a prova que o autor nunca desilude em estilo nenhum.

E, por último, descobri dois grandes autores, que apesar de não serem recentes, foram para mim uma boa descoberta e fiquei rendida à sua genialidade. Foi o caso de Edward St Aubyn, cujo génio, ironia e sagacidade em “The Patrick Melrose Novels” o colocaram num dos autores que mais gostei de ler desde sempre. Outro livro muito bom, embora com caraterísticas diferentes, foi “Vida mortal e imortal da rapariga de Milão”, de Domenico Starnone e ainda fiquei absolutamente encantada com a descoberta de Carta Madeira, em “A natureza da Mordida” e Aurora Venturini em “As primas”.

Por último, e porque sou absolutamente fá do que se escreve em Portugal e acho que nem sempre valorizamos os nossos autores, adorei o livro “Misericórdia”, de Lídia Jorge, não só porque o livro retrata uma realidade que conheço bem, mas sobretudo porque aborda a questão do envelhecimento e do significado e sentido da vida, com um humanismo, humor, sagacidade e alguma ligeireza muito interessante.

Foi essencialmente, um ano de descobertas e de me aventurar por áreas onde não estava tão familiarizada, como a poesia, e terminei o ano a agradecer a todos estes belíssimos autores que me fizeram companhia, me arrancaram gargalhadas fortes e sobretudo me fizeram pensar sobre questões tão importantes. As horas que passei na companhia destes livros foram, de facto, horas muito felizes!

Que 2024 traga boas leituras e boas partilhas.

 

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