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Emídio Abrantes: “O segredo da longevidade da Banda Amizade é a capacidade de renovação”

Sociedade

Fundada em 1834, a Banda Amizade – também conhecida por Banda Sinfónica de Aveiro ou “Música Velha” – está a comemorar 190 anos de atividade em prol do ensino da música, da expressão artística e do enriquecimento cultural da comunidade aveirense. Com cerca de 70 membros ativos e sede no número 16 do Largo Conselheiro Queiroz, no bairro do Alboi, “é a mais antiga coletividade cultural em Aveiro”, introduz Emídio Abrantes, presidente da direção. A instituição conta com uma escola de música, uma orquestra juvenil, um coro de música sacra e, em novembro próximo, promete reativar a sua Big Band. 

Apesar de a música fazer parte da sua vida desde cedo – “Cheguei a ter uma banda amadora”, recorda -, Emídio Abrantes só começou a envolver-se nas dinâmicas da Banda Amizade há cerca de 20 anos e por intermédio dos filhos. “Os meus três filhos passaram pela escola de música da Banda Amizade. O mais velho e o mais novo tocam contrabaixo e a do meio toca fagote”, partilha, em entrevista à Aveiro Mag. A cumprir o seu terceiro mandato à frente dos destinos do coletivo, Emídio encara o cargo de presidente como uma missão: “A minha maior responsabilidade enquanto presidente da Banda Amizade é garantir que a instituição se mantém viva e continua a cumprir os objetivos que motivaram a sua criação no século XIX: promover a educação musical da população aveirense e garantir música e a cultura acessíveis a todos”.

Mas qual o segredo para tamanha longevidade? “O segredo da longevidade da Banda Amizade é a capacidade de renovação”, esclarece Emídio. “Hoje sou eu que aqui estou, amanhã será outro e terá o mesmo rigor e a mesma paixão para dar continuidade ao projeto. Essa é a grande riqueza desta instituição”, acredita o dirigente, convicto que a entrega e dedicação de cada membro funciona como um gole de “elixir da eterna juventude”. 

É curioso que, na canção para a qual metáfora de Emídio nos remete, Sérgio Godinho cante que essa bebida mágica “quer que tudo mude para que tudo fique igual”. De certa forma, também é assim na Banda Amizade: há que renovar para poder envelhecer. “Quando cheguei à direção, procurei saber coisas do antigamente, mas sempre que fazia alguma pergunta aos membros mais velhos a resposta que obtinha era: ‘É assim porque sempre foi assim’. Aprendi com eles a não questionar o passado. O que importa é olhar para o presente e construir o futuro. Importa, sim, levar a música para a frente”.

Ter a renovação com desígnio, porém, não é tarefa fácil no contexto em que a Banda Amizade está inserida. “A Banda Amizade é uma coletividade de bairro – nasceu na Beira-mar e depois instalou-se no Alboi – que, hoje, tenta sobreviver aos típicos dramas de um centro urbano”, afirma o presidente. A equação é tão simples quanto alarmante: a Banda Amizade vive da comunidade, contudo, num centro urbano refém do turismo, há cada vez menos famílias com condições para lá poderem morar e formar essa comunidade. “É um drama que nos preocupa”, admite Emídio Abrantes. “Tentar garantir a renovação da banda numa conjuntura em que o sentido de comunidade está posto em causa é a maior dificuldade que enfrentamos”, aponta. 

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De acordo com o presidente, a Banda Amizade tem-se esforçado por “criar pontes com a comunidade”, garantindo que a fruição cultural chega a todos. É, aliás, por isso que, segundo Emídio Abrantes, a “grande ambição” da Banda Amizade neste momento passa por conseguir completar a requalificação do seu edifício-sede, sendo, para isso, necessário, garantir a recuperação (do ponto de vista acústico) do salão do primeiro andar. Consciente de que “a autonomia financeira da Banda passará pela sua capacidade de produzir atividades culturais”, o dirigente defende que a melhoria acústica daquele equipamento faria também com que “Aveiro passasse a dispor de um espaço cultural diferenciado no centro da cidade” de portas abertas para a comunidade. “Estamos a falar de um salão com capacidade para 300 pessoas. O problema é que qualquer atividade cultural que lá se desenvolva vai sempre causar ruído e é nossa prioridade garantir boas relações de vizinhança”, explica, justificando a necessidade do tratamento acústico daquele equipamento.

Em ano de comemoração do 190.º aniversário, a Banda Amizade traçou como objetivo “ter, pelo menos, uma atividade artística por mês”. “Temos cumprido”, congratula-se Emídio Abrantes, sublinhando a “presença regular” da Banda no Teatro Aveirense, fruto da parceria com a câmara municipal, bem como as oportunidades que têm tido no âmbito de Aveiro Capital Portuguesa da Cultura.

No próximo sábado, dia 29 de junho, a Banda parte numa “Viagem Literária” à boleia da obra de Zeca Afonso – um espetáculo de homenagem ao legado do cantor, compositor e poeta aveirense nos 50 anos da Revolução de Abril – e, no dia seguinte, participa nas festas de São Paio, em Frossos, Albergaria-a-Velha. No mês de julho, a Banda Amizade promove o Estágio Internacional de Orquestras de Sopros (de 8 a 12 de julho) e participa no VII Certamen Internacional de Bandas de Música, na Plaza Mayor de Benavente, em Espanha (13 e 14 de julho). Agosto é mês de descanso, mas logo no primeiro dia de setembro o coletivo volta a tocar no Encontro de Bandas Filarmónicas que terá lugar no coreto do Parque Infante D. Pedro, em Aveiro. A Banda Amizade voltará a subir ao palco em outubro e novembro. Para o dia 14 de dezembro a banda está a preparar algo muito especial: a estreia de uma opereta, no Teatro Aveirense. “Estamos a recriar ‘A Morte do Diabo’, uma obra escrita por Eça de Queiroz há mais de um século, mas cuja parte musical nunca chegou a ser concluída – o compositor convidado faleceu antes de terminar a peça”, anuncia Emídio Abrantes. “A Banda Amizade propõe-se a concluir essa componente musical, adaptar ligeiramente o texto queirosiano – fala de um sujeito que, ao morrer, tenta convencer o Diabo a enviá-lo de volta a Lisboa alegando que a capital portuguesa é bem pior do que o Inferno – e apresentar esta opereta”, explana.

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