AveiroMag AveiroMag

Magazine online generalista e de âmbito regional. A Aveiro Mag aposta em conteúdos relacionados com factos e figuras de Aveiro. Feita por, e para, aveirenses, esta é uma revista que está sempre atenta ao pulsar da região!

Aveiro Mag®

Faça parte deste projeto e anuncie aqui!

Pretendemos associar-nos a marcas que se revejam na nossa ambição e pretendam ser melhores, assim como nós. Anuncie connosco.

Como anunciar

Aveiro Mag®

Avenida Dr. Lourenço Peixinho, n.º 49, 1.º Direito, Fracção J.

3800-164 Aveiro

geral@aveiromag.pt
Aveiromag

Joaquim Pavão, por entre o cinema e a música, pela liberdade

Artes

 

Cineasta, compositor e guitarrista, Joaquim Pavão é, sobretudo, “alguém que está sempre, esteve sempre e estará sempre à procura dos caminhos da paixão”. Caminhos que celebram a liberdade e o espírito crítico, que percorre sem “sentir medo”. Caminhos que se vão tecendo sem nostalgia do Passado e com os olhos postos no Presente. “Esta coisa de nos mantermos vivos enquanto estamos cá é a base de todo o meu pensamento e de toda a minha vida”, partilha. Porque, “de repente, tudo é pó”, importa não nos levarmos “muito a sério”, explica. “É que se nós acreditarmos no lado risível da vida, a existência é fácil e é feliz. E é para isso que cá estou, acho”.

Nascido no Porto, em 1975, Joaquim diz ter uma “doença” – uma insatisfação que sempre existiu e que o faz querer “olhar e pensar as coisas”, atentando aos detalhes e procurando construir, a partir delas, algo novo. Foi no Conservatório de Música de Aveiro que encontrou espaço para construir uma linguagem própria, a partir da experimentação, do risco, do confronto.

Diz vivermos em tempos de “tédio”, de “sofás confortáveis” que imprimem em nós uma certa “preguiça intelectual”. Tempos em que a crítica se mostra cada vez mais ausente. Tempos, também, de “oportunidade”, partilha. Em Aveiro, Capital Portuguesa da Cultura, “há investimento, há vontade, há coisas a acontecer e, se as pessoas se deixarem contaminar por isso e se desligarem um pouco das coisas que têm em casa, há todo um mundo por descobrir”.

24 fotografias

Essa doença, de nome insatisfação, leva-o a “apaixonar-se” pelas mais diversas coisas. Recorda-se de uma história em particular, de quando era mais novo, que envolve um rolo inteiro de fotografias e pedras. As mesmas pedras, 24 fotografias e uma ânsia de captar algo que existia já na sua imaginação.

Essa insatisfação ter-se-á agudizado com o crescer também do descontentamento com o sistema educativo – naquele Portugal dos anos 80 –, que parecia não conseguir dar resposta à sua vontade de aprender. “Estávamos sempre a falar da mesma coisa”, conta. “Com 14/15 anos, eu queria o mundo. Eu não queria nada menos do que o mundo”. Com essa certeza impressa, deixou Setúbal, onde vivia na altura, e rumou então a Aveiro, onde encontrou, no Conservatório de Música, aquilo que procurava: um professor – Carlos Abreu – e uma metodologia que, criando espaço para as suas dúvidas e vontades, lhe permitiu aprender a aprender. 

Confronto, diferença e conhecimento

 Hoje, profissional “à procura dos caminhos da paixão”, por entre o cinema e a música, diz continuar “a querer o mundo”. “Eu quero fazer tudo”, conta. Joaquim Pavão tem uma relação particular com o tempo. Centrando-se no Presente, não parece olhar o Passado com nostalgia. “Acontece de tudo” quando o revisita, explica, mas o “impacto do ofício” jaz, sobretudo, no “grau de conhecimento e exigência” no uso de um determinado conjunto de ferramentas. “Não me interessa muito se, por acaso, é melhor ou se, por acaso, é pior. Interessa-me desenvolver”, partilha. Há nele uma vontade incessante de criar e experimentar. Afinal, a sua “gaveta de projetos está cheia”.

Enquanto realizador, assinou diversos filmes, como Sonhos (2020), Antes que a noite venha: falas de Antígona (2017) e Miragem (2014), sendo também um guitarrista exímio e compondo música para cinema, teatro e concerto. Para Joaquim, todos os projetos são diferentes. “Gosto muito de fazer isto, (...) de poder experimentar”, explica. O trabalho – este trabalho, que desenvolve com uma “disponibilidade” que o “faz sentir bem” – é uma necessidade, “quase como se fosse um café”. “Eu preciso mesmo de fazer este tipo de coisas”, afirma. E isso envolve, necessariamente, a disponibilidade para arriscar e para lidar com a frustração. Hoje, partilha, parece estar instalada a ideia de que qualquer pessoa é ou pode ser artista, desde que capaz de justificar as suas ações ou criações. Joaquim discorda. Não basta justificar, é necessário compreender o que já foi feito para se poder criar algo novo, algo que não constitua uma “cópia duma cópia”. Afinal, “pensar no novo sem história é ridículo”. É necessário que se construa uma linguagem e, essa, como se constrói? “Arriscando e falhando”, partilha. “Arriscando numa opinião. Arriscando num conjunto de ideias. E falhando continuamente. E aceitando essa falha. Aceitando a frustração. Aceitando uma série de coisas que não é fácil”.

Festivais Outono Publicidade

Afirmando que o “confronto o faz sentir vivo”, mostra-se desapontado com a ausência de uma crítica cultural significativa e com a aceitação passiva – e acrítica – de tudo o que se apresenta como arte. “Falamos muito sobre a diferença”, explica, “mas não há nada que nos assuste mais” e, por isso, tendemos a mergulhar numa narrativa coletiva que acomode, de alguma forma, a “preguiça intelectual” que parecemos sentir. Hoje, “temos a perceção das coisas, mas não sabemos como é que elas funcionam. Somos utilizadores de um conjunto de ferramentas, mas são elas a fazer o trabalho por nós”. A ideia, explica, que é “uma ideia bonita”, é que fiquemos “livres para”. Mas como é que podemos ser livres se não sabemos como as coisas funcionam?, questiona-se. É aí que começamos a cair numa série de prisões, partilha: “a prisão da ignorância, a prisão da apatia, a prisão do tédio”.

A arte implica trabalho, implica tempo, garante Joaquim. Caso contrário, o público é defraudado. Assusta-o a ideia de “as pessoas não levarem nada para casa”, quando, afinal, a arte tem o poder de fazer borbulhar conhecimento. “Por exemplo, conhecendo a tragédia de Antígona, um jovem consegue decidir melhor o seu futuro”. Com acesso a este tipo de conhecimento, explica, “seria tão mais fácil a vida”. “Porquê? Porque as pessoas deixavam de ter medo. A arte tem capacidade de destruir o medo”.

Aveiro, Capital Portuguesa da Cultura

 “Aveiro é uma cidade muito interessante”, partilha, “porque tem uma Universidade com cursos ligados às artes, tem um teatro regional e tem depois um conjunto de espaços onde podem, de facto, acontecer coisas”. Enquanto Capital Portuguesa da Cultura, é também um lugar de oportunidade, visto que “há investimento, há vontade, há coisas a acontecer”. Aveiro Capital Portuguesa da Cultura é também um convite: “se as pessoas se deixarem contaminar por isso e se desligarem um bocadinho das coisas que têm em casa, há todo um mundo para descobrir. E o mundo não é só o nosso umbigo, a nossa bolha, as nossas coisas. Tudo isso envelhece muito rapidamente”, explora.

Após a exibição da longa-metragem Sonhos e do filme-concerto Dentre 3.28, no âmbito da Capital Portuguesa da Cultura, estreará, no dia 19 de novembro, no Teatro Aveirense, a primeira comédia de Joaquim Pavão (ainda em processo de construção), uma curta-metragem sobre “esta torre de Babel” do tédio, “em que as pessoas têm problemas, em que falamos de tudo e de nada”. “É sobre um casal” ao qual “a terapeuta aconselha arte. Porque não arte? Porque não outros mundos? Porque não deixarem-se envolver? E a arte chega [ri-se] e eu não vou dizer nada, mas quando a arte chega…”.

Também em mãos tem Dentre, um projeto que está “a filmar há seis anos” e que é “a soma” de tudo aquilo que tem “feito e pensado até agora”. “Feito como um puzzle”, por partes, é um filme que procura “mostrar o indivíduo na sua condição de pessoa que cumpre a pena do juízo dos outros”. Projeto que espera concluir em 2025, com o lançamento de uma longa-metragem e de um filme-concerto.

Joaquim vai “vivendo tudo isto”, movido a uma paixão que não se esgota na criação artística, mas que se estende a uma visão crítica sobre o Mundo e o estado das coisas. Para o realizador, compositor e guitarrista, a arte pode e deve gerar confronto. Quem sabe não poderá ser um antídoto para o tédio, para a preguiça e para o medo?

 

 

Apelo a contribuição dos leitores

O artigo que está a ler resulta de um trabalho desenvolvido pela redação da Aveiro Mag. Se puder, contribua para esta aposta no jornalismo regional (a Aveiro Mag mantém os seus conteúdos abertos a todos os leitores). A partir de 1 euro pode fazer toda a diferença.

IBAN: PT50 0033 0000 4555 2395 4290 5

MB Way: 913 851 503

1 Comentário(s)

olga freitas
10 out, 2024

difícil pôr em palavras uma "cabeça" destas! mas tão bem conseguido, lindo!!

Deixa um comentário

O teu endereço de e-mail não será publicado. Todos os campos são de preenchimento obrigatório.