AveiroMag AveiroMag

Magazine online generalista e de âmbito regional. A Aveiro Mag aposta em conteúdos relacionados com factos e figuras de Aveiro. Feita por, e para, aveirenses, esta é uma revista que está sempre atenta ao pulsar da região!

Aveiro Mag®

Faça parte deste projeto e anuncie aqui!

Pretendemos associar-nos a marcas que se revejam na nossa ambição e pretendam ser melhores, assim como nós. Anuncie connosco.

Como anunciar

Aveiro Mag®

Avenida Dr. Lourenço Peixinho, n.º 49, 1.º Direito, Fracção J.

3800-164 Aveiro

geral@aveiromag.pt
Aveiromag

A “malvadez do fado que é a vida” destes músicos já deu lugar a um disco

Artes

Ao ouvir Fado Malvado pela primeira vez, é provável que se surpreenda pelo facto de a música deste grupo aveirense não se enquadrar no género a que estamos habituados a chamar fado. Em entrevista à Aveiro Mag, António Justiça e Davide Amaral, elementos da banda, explicam: “Além de poder referir-se ao género musical, a palavra ‘fado’ significa ‘destino’ ou ‘sorte’. A primeira sessão de gravação daquele que viria a ser o nosso disco de estreia aconteceu em dezembro de 2019, precisamente, nas vésperas de irmos todos para casa. Com a pandemia, lá se foi o estúdio e, durante muitos meses, os nossos planos tiveram de ser adiados. O disco acabou por demorar muito tempo a gravar... foi um ‘fado malvado’ que nos aconteceu”.

Em Fado Malvado, António Justiça toca guitarra e faz coros; Davide Amaral divide-se entre o baixo e a guitarra de 7 cordas e também assegura os coros, tal como Filipe Ricardo Silva que, além disso, toca acordeão; Ricardo Neves dá voz ao projeto. Para a gravação do primeiro disco, o grupo contou ainda com a participação do percussionista Quiné Teles.

À exceção de “Tempo”, o tema com o qual o grupo se deu a conhecer na primavera de 2021, e cuja letra é da autoria de Dénis Conceição, em Fado Malvado o verbo fica a cargo de António Justiça. E se o clima de sufoco e incerteza do primeiro ano de pandemia inspirou o single de estreia, “as restantes letras refletem as nossas vivências, as nossas inquietações” e “alguma da malvadez do fado que é a vida”, refletem os músicos. Quanto à composição musical, todos participam no processo. “Um lança uma ideia, todos contribuem para ela e, quando chegamos ao final, a música raramente se parece com a ideia inicial”, brincam António e Davide.

António Justiça (natural de Ílhavo) e Davide Amaral (natural de Barrô, em Águeda) conheceram-se no Conservatório de Música Calouste Gulbenkian de Aveiro, onde ambos tiveram formação em guitarra clássica, na classe do professor João Moita. A frequentar o mesmo estabelecimento, o também aguedense Filipe Ricardo Silva enveredou pelo saxofone, ainda que hoje o conheçamos principalmente como acordeonista.

Estes três músicos viriam a encontrar-se, mais tarde, e já como professores, no Conservatório de Música de Águeda. É lá que formam o Trio Porteño: “Tocávamos sobretudo tangos de Piazzolla, Gardel... Encarávamos aquilo como um projeto académico. O desafio passava por pegar em repertório originalmente escrito para grupos alargados e tocá-lo com duas guitarrinhas e uma concertina”, explica Davide Amaral. À medida que o projeto se vai desenvolvendo, “uma das guitarras passa a ter 7 cordas”, “os originais surgem naturalmente” e, logo a seguir, a vontade de “evoluir para a música cantada”. “É aí que aparece o Ricardo”.

O quarto elemento dos Fado Malvado chama-se Ricardo Neves. Dos quatro, é o único que não seguiu profissionalmente a área da música – é investigador em biomedicina, na universidade de Coimbra, e trabalha com células estaminais –, ainda que tenha feito o conservatório em canto. “O Ricardo vem de uma família de músicos de Fermentelos”, informa António Justiça. Com pouco mais de 3 mil habitantes, a vila de Fermentelos, no concelho de Águeda, tem duas bandas filarmónicas centenárias – a Banda Marcial e a Banda Nova –, o que faz com que boa parte da população tenha ligações à música. Ricardo não é exceção. “Além disso, esteve na origem da Magna Tuna Cartola da universidade de Aveiro”, acrescenta Davide Amaral, dando nota de um concerto que a antiga tuna, que se despediu dos palcos em 2018, estará a organizar para o ano de 2023, como forma de celebrar o 30.º aniversário da sua fundação. “Vão juntar-se todos para matar saudades”, antecipa Davide.

Tal como Ricardo, também Davide contou com a influência da família para o seu despertar para a música. No seu caso, as primeiras memórias musicais têm como palco a igreja: “Os meus pais andavam no coro e lembro-me de os acompanhar aos ensaios”. Além disso, foram os pais que, querendo proporcionar-lhe uma oportunidade de formação paralela à escola, lhe propuseram o caminho da música. Filipe Ricardo, por seu turno, “começou na música popular tradicional”. Quanto a António Justiça, não deveria ter mais de 10 anos quando formou a primeira de várias bandas que viria a ter ao longo da adolescência e da juventude – algumas mantém-se em atividade nos dias de hoje. “Eram bandas de amigos. Compúnhamos originais, mas tocávamos tudo de ouvido. Quando entrei no conservatório, já com 18 ou 19 anos, fui aprender o bê-á-bá”. Ao explorar a coleção das suas memórias mais antigas, o músico recorda as vezes em que ouvia o pai a tocar, os discos que este lhe dava para ouvir e as viagens ao Algarve que fazia na sua companhia – e em que um pequeno aparelho a pilhas fazia a vez do rádio com que o carro ainda não vinha equipado. “O meu pai comprava uma remessa de pilhas e íamos a viagem toda a ouvir uma cassete dos Rolling Stones. Volta e meia, lá tínhamos de trocar as pilhas”. Por casa, o ilhavense lembra-se de ouvir “os vinis do James Brown, do Ottis Redding e do Elvis Presley... também ouvíamos Roberto Carlos e Dire Straits... e uma compilação de compositores clássicos – Mozart, Beethoven, Brahms, Wagner”.

Com vasta carreira no mundo da música, António, Davide e Filipe Ricardo participaram de variadíssimos projetos musicais ainda antes de formarem os Fado Malvado. Filipe Ricardo é membro-fundador do grupo Danças Ocultas. António já passou pelos Vulto, pelos Caracóis com Cio e, mais recentemente, toca com os Patinho Feio. Do seu percurso destaca-se ainda o grupo de música contemporânea Síntese, a composição de músicas para teatro de marionetas e o duo de guitarras que forma com Davide Amaral. Davide, por sua vez, tem-se dedicado à composição de bandas sonoras para livros infantis – “Jota Ginja, o Quase Ninja” e “A misteriosa coleção de bolinhas de cotão do umbigo” são alguns dos títulos que o aguedense já musicou. No entender de Davide, à semelhança de todos estes projetos e bandas, “Fado Malvado representa a nossa vontade constante de sair da nossa zona de conforto e de explorar coisas diferentes”.

O primeiro single dos Fado Malvado foi lançado em abril 2021, numa altura em que o país começava timidamente a desconfinar, a máscara ainda era de utilização obrigatória e decorria a primeira fase da vacinação contra a Covid-19. “Tempo” – assim se chama o tema de estreia – serviu de homenagem a todos aqueles que trabalham na área da cultura – não só artistas, mas também pessoal técnico e assistentes – que viram as suas vidas paradas devido à pandemia. O vídeo de apresentação foi filmado no Centro de Artes de Águeda e contou com a colaboração e participação de alguns funcionários daquele equipamento cultural.

Em dezembro de 2022, chegou a vez de apresentarem o álbum de estreia – “Pontos de Passagem”. Uma seleção de 10 músicas (5 temas instrumentais, 5 temas cantados) que tocaram ao vivo, a 26 de março deste ano, na Fnac de Aveiro. “Tínhamos a loja cheia. Depois de termos demorado tanto tempo a gravar, a sensação de finalmente apresentar este disco foi muito boa”, avança Davide. “Posso dizer que me arrepiei”, confessa, esclarecendo que “aquela ideia de que, como já andamos a ‘virar frangos’ há muitos anos, cada concerto é só mais um concerto, está errada”. António é da mesma opinião: “Eu fico sempre uma pilha de nervos”. “A cada projeto novo parece que estamos a começar do zero e, com a idade, parece que a responsabilidade é ainda maior”, considera Davide.

Seja com Fado Malvado ou qualquer outro projeto em que participem, quem não perde uma oportunidade para acompanhar estes músicos são os seus alunos. Recorde-se que António, Davide e Filipe são professores de música no Conservatório de Música de Águeda, que Davide e Filipe também lecionam no Conservatório de Música da Bairrada e António na Academia de Artes de Chaves. “ acompanham-nos com alegria. Acho que é importante para eles verem que os professores não estão parados. Isto ajuda a desfazer aquele conceito do professor inalcançável. Estes veem que professores experimentam como eles, expõem-se ao erro como eles”, refere António. “E também ajuda a desmistificar a ideia de que, lá porque estão a aprender guitarra clássica, têm de seguir o caminho da música erudita. Nada disso! Nós damos-lhes ferramentas para que eles possam explorar aquilo que quiserem no que à música diz respeito”, completa Davide. “Para mim, essa é a mensagem mais importante que podemos passar com a nossa vida artística”, reforça. Tendo por base a sua experiência como professor, António faz questão de elogiar as novas gerações de músicos: “Nunca tivemos músicos tão bons, cada vez mais novos, fruto do investimento no ensino artístico. Temos alunos de 16 anos a tocar guitarra como, há 30 anos, só grandes mestres tocavam. É impressionante!”, reconhece.

Para os Fado Malvado, os próximos tempos servirão para “apresentar o disco e levá-lo ao maior número de pessoas”, afirma António Justiça, admitindo que, além das “várias músicas que ficaram de fora”, já há “composições novas” capazes de assegurar um segundo registo de longa duração.

*Fotos: Inês de Carvalho

Automobilia Publicidade

Apelo a contribuição dos leitores

O artigo que está a ler resulta de um trabalho desenvolvido pela redação da Aveiro Mag. Se puder, contribua para esta aposta no jornalismo regional (a Aveiro Mag mantém os seus conteúdos abertos a todos os leitores). A partir de 1 euro pode fazer toda a diferença.

IBAN: PT50 0033 0000 4555 2395 4290 5

MB Way: 913 851 503

Deixa um comentário

O teu endereço de e-mail não será publicado. Todos os campos são de preenchimento obrigatório.