É uma espécie de hino aos produtores vitivinícolas da Bairrada, e aos néctares que eles têm vindo a produzir ao longo da história, mas é também uma casa da cultura de excelência. Basta olhar para a lista de artistas que já tiveram ali expostos para arriscar a classificação: Júlio Pomar, Nadir Afonso, Manuel Cargaleiro, Cruzeiro Seixas, Amália Rodrigues, Siza Vieira e Fernanda Fragateiro, entre outros. A estes juntam-se também uns quantos vultos da escrita que deixaram os seus registos e testemunhos criativos nos catálogos e livros do museu, tais como: Valter Hugo Mãe, José-Augusto França, Irene Pimentel, Agustina Bessa Luís e Alexandra Lucas Coelho. Situado em Anadia, o Museu do Vinho Bairrada chega aos 20 anos com um passado invejável - é caso para dizer que amadureceu bem - e uma vontade tremenda de prosseguir o seu caminho de crescimento.
A abertura ao público aconteceu em 2003, fruto de uma aposta da Câmara Municipal de Anadia. Pedro Dias, de 51 anos, diretor da unidade museológica, lembra-se bem desses tempos, assim como dos momentos que antecederam a inauguração. “Fiz parte da equipa que esteve a trabalhar na curadoria para desenvolver o projeto museológico”, recorda, antes de guiar a Aveiro Mag numa visita à unidade museológica. “Já passaram por aqui muitas exposições e eventos. Em 20 anos conseguimos solidificar o nome do museu, quer no sector vitivinícola, do enoturismo, mas também a nível cultural”, sustenta.
As novas exposições temporárias, inauguradas precisamente no âmbito do 20º aniversário do museu, ajudam a comprovar a importância que Museu do Vinho Bairrada vai tendo, também, na área das artes plásticas: uma delas, “Artistas Portugueses na Tapeçaria de Portalegre” apresenta obras de consagrados artistas portugueses em Tapeçaria de Portalegre (exemplo: Almada Negreiros, Joana Vasconcelos, Maria Keil, Vieira da Silva, Graça Morais, Júlio Resende, entre outros); a outra, “José d’Almeida – O Poeta da Luz”, é uma homenagem póstuma ao artista José d’Almeida, falecido em outubro de 2022.
Pedro Dias reconhece que não tem sido fácil trazer a Anadia artistas e obras que raramente saem das grandes cidades, mas “o trabalho tem sido muito gratificante”, assevera. “Este equipa, apesar de ser muito pequena, sempre teve esse princípio: não há impossíveis”, realça, enquanto nos conduz ao longo das salas localizadas no rés-do-chão e onde são apresentadas as exposições temporárias.
Maquinaria antiga e importantes coleções
Instalado num edifício construído de raiz, ao lado de uma vinha e da Estação Vitivinícola da Bairrada, o Museu do Vinho Bairrada vai desvendando grande parte do seu espólio no piso abaixo do solo. De entre os vários artefactos expostos é de salientar a primeira maquinaria de espumantes utilizada em Portugal (finais do século XIX) para a produção do espumante. O espaço acolhe ainda um importante conjunto de coleções, designadamente, uma das maiores coleções mundiais de saca-rolhas (Adolfo Roque), a maior coleção nacional de tamboladeiras em prata desde o século XVIII até à atualidade (Comandante José Rafeiro), e ainda uma enorme coleção de rótulos de vinho, cartazes publicitários e garrafas representativas da história secular da Bairrada.
Do acervo do museu faz ainda parte um conjunto diversificado de equipamentos e vidraria secular, bem como uma vasta coleção de obras de arte contemporânea, onde se incluem algumas das maiores telas alusivas à temática do vinho alguma vez concebidas em Portugal.
São milhares de peças que têm ajudado a afirmar o museu no panorama nacional e internacional, atraindo novos públicos, mas também uns quantos repetentes. “Temos pessoas que nos revisitam constantemente, são presença assídua na nossa programação”, nota Pedro Dias, recordando que aquele equipamento cultural é também palco de vários eventos e atividades, de que são exemplo as “Quintas no Museu” e as masterclasses de vinhos.
Tudo isto para ver e aproveitar, de terça a sexta-feira, das 14h00 às 17h00, e, ao sábado e domingo, das 10h00 às 17h00 (encerra à segunda-feira e feriados).