Aníbal Costa
Professor aposentado do Departamento de Engenharia Civil da Universidade de Aveiro
Os sismos, também conhecidos como terramotos, são fenómenos naturais que ocorrem quando há uma libertação repentina de energia na crosta terrestre, causando vibrações e movimentos no solo. Essas perturbações sísmicas podem variar em intensidade, desde tremores leves e impercetíveis até terramotos devastadores que podem causar danos significativos em edifícios e infraestruturas e, o mais importante, perdas de vidas humanas.
O risco sísmico refere-se à probabilidade de ocorrência de sismos em determinada região e aos possíveis impactos que esses eventos podem causar. Este tipo de risco é determinado por diversos fatores, salientando-se a perigosidade sísmica, traduzida pela atividade sísmica, a vulnerabilidade das construções e das infraestruturas, associada à qualidade da construção, e a exposição, associada à densidade populacional, uma vez que maior densidade populacional significa que mais vidas e propriedades estão em risco durante um terramoto.
Em áreas com alto risco sísmico, é importante adotar medidas de prevenção, mitigação e preparação para minimizar os danos. Isso inclui a implementação de regulamentação que garanta a resistência sísmica das estruturas. Felizmente, em Portugal essa regulamentação existe há muitos anos. O que é discutível é a sua correta aplicação.
A sensibilização da população e, essencialmente, dos políticos para implementarem medidas preventivas e de reforço, principalmente nos edifícios que se devem manter em funcionamento após a ocorrência de um sismo, como é o caso dos hospitais, é ainda muito reduzida. Veja-se o exemplo do novo hospital que está a ser construído em Lisboa. Não houve vontade política para instalar isolamento sísmico no mesmo. É também importante educar a população sobre medidas de segurança durante a ocorrência de um sismo e implementar sistemas de alerta precoce para fornecer avisos prévios sobre a ocorrência de sismos.
O papel dos técnicos na mitigação do risco sísmico passa pela realização de estudos minuciosos para identificar áreas com maior risco de ocorrência de sismos e avaliar a potencial intensidade e impacto dos mesmos. O conhecimento da perigosidade sísmica, através da monitorização da atividade e da análise da história sísmica do país, permitirá compreender e interpretar os sismos que ocorreram e, assim, prevenir os futuros. Do ponto de vista da engenharia, passa pelo desenvolvimento de ferramentas que diminuam a vulnerabilidade das construções e das infraestruturas e pela transferência desse conhecimento para a prática, para que a construção tenha qualidade para resistir ao valor da ação transmitida pelo sismo às construções e que está definida na regulamentação portuguesa.
Veja-se o caso recente do sismo na Turquia, em que muitos edifícios novos colapsaram como baralhos de cartas. Esta é uma área em que a Universidade tem e deve desempenhar um papel ativo e produtivo. Outra situação em que a Universidade pode ter uma intervenção ativa é no planeamento urbano, procurando estudar as áreas onde a atividade sísmica é intensa e prevenindo a construção nessas áreas, através da produção de conhecimento que sustente os instrumentos de planeamento.
Só um planeamento cuidadoso do uso do solo, considerando o risco sísmico, pode evitar a construção em áreas de alto risco, nomeadamente perto de falhas ativas ou em solo instável. Por outro lado, é fundamental que governos, comunidades e indivíduos estejam conscientes do risco sísmico nas suas áreas e tomem as medidas apropriadas para se prepararem e responderem a esses eventos. A coordenação entre as autoridades de proteção civil, as equipas de resgate e os serviços de emergência é essencial para garantir uma resposta eficaz e minimizar o impacto dos sismos na população, na construção e nas infraestruturas.
* Texto originalmente publicado na revista Linhas, nº 39, da Universidade de Aveiro