11 de fevereiro de 1950. A região de Aveiro assistia à inauguração de uma “das melhores, mais modernas e mais luxuosas” casas de espetáculos do país, nascida da iniciativa do comendador Augusto Martins Pereira e dos seus filhos Américo e Albérico, detentores da emblemática empresa Alba. Passaram 75 anos e o Cineteatro Alba aí está, reformulado e cheio de vida. Mas sempre com o passado bem presente, levando a sério essa premissa que diz que precisamos de saber de onde viemos para saber para onde queremos ir. Alcançados os três primeiros quartos de século, a festa de aniversário promete ser especial, estendendo-se ao longo de todo o mês de fevereiro.
“A Alba estava em grande expansão e o filho do comendador, Américo Martins Pereira, que veio a ser presidente de Câmara, tinha a ideia de fazer um grande cineteatro. E assim foi. A 11 de fevereiro de 1950 era inaugurada esta casa”, introduz o historiador Delfim Bismarck, autor, juntamente com Pedro Martins Pereira, do livro “Alba – Uma marca portuguesa no mundo” – obra que dedica um capítulo à sala de espetáculos. Mais tarde, a empresa viria a fazer também uma outra sala de espetáculos, “mais pequena, em Sever do Vouga, que era a terra do comendador Martins Pereira, e chegou a ter projetado um terceiro para Águeda, só que acabou por nunca ser materializado por questões políticas”, acrescenta o investigador que foi também, até há poucos dias, vereador da Cultura e vice-presidente da Câmara de Albergaria-a-Velha – aliás, a conversa com a Aveiro Mag aconteceu exatamente no último dia em que desempenhou funções como membro do executivo.
Em 1950, quando abriu portas, “o Cineteatro Alba era considerado a melhor sala de espetáculos da província. Tinha perto de 600 lugares, fosso para orquestra, era luxuoso, era um cineteatro marcante”, recorda Delfim Bismarck. Ainda que não fosse comum ter empresas a investir em equipamentos culturais, o Cineteatro Alba já não era caso único na região. “Temos o exemplo do Teatro da Vista Alegre, ainda que seja muito anterior, mas também o Messias, na Mealhada”, nota o historiador albergariense. “No caso de Albergaria-a-Velha, o comendador Martins Pereira, com os seus filhos, começa a investir não só na parte cultural, mas também na parte desportiva e social. Criaram um clube de futebol, um rancho folclórico, uma banda filarmónica, este cineteatro e o de Sever do Vouga. Na parte social, ajudaram a criar o novo hospital da Misericórdia, a sopa dos pobres, o bairro social e depois também o bairro Alba para técnicos superiores da fábrica. Em Sever do Vouga criaram também o hospital, a casa da criança, a sopa dos pobres. Portanto, havia uma frente social, cultural e desportiva, tendo em vista a melhoria das condições de vida dos seus operários e da comunidade”, especifica.
Durante as suas primeiras décadas de atividade, o Cineteatro Alba foi sendo dinamizado com sessões de cinema e espetáculos abertos à comunidade. Mais: a empresa também ia cedendo a sala às associações que ali quisessem fazer os seus eventos para angariar dinheiro. “Tudo isto de forma gratuita e disponibilizando os funcionários para manter a sala aberta e suportando as limpezas”, recorda Delfim Bismarck, a propósito da sala que viria a passar para as mãos da Câmara Municipal de Albergaria-a-Velha em 1995, sendo depois alvo de profundas obras de requalificação, que vieram dar novas condições de conforto, segurança e técnicas, a partir de 2012 – a inauguração aconteceu a 27 de abril.
Delfim Bismarck não esconde ter um olhar crítico sobre a intervenção realizada. “A parte técnica era necessária, mas, por exemplo, ter ocultado o revestimento a pedra com estas madeiras é discutível. Com as condições de aquecimento que hoje temos as paredes podiam perfeitamente ter a pedra a vista e manter-se os candeeiros de cristal, que eram mais requintados. E na sala deviam, eventualmente, ter mantido as cadeiras originais, feitas na Alba, bem restauradas”, exemplifica.