Aos 18 anos, Margarida Estanqueiro Silva está a dar os primeiros passos no mundo da moda com uma maturidade, sensibilidade e sentido de propósito raros para a idade. Natural da Gafanha da Nazaré, a jovem designer estuda Design de Moda desde os 15 anos numa escola profissional, no Porto. Ainda assim, mantém uma ligação diária à sua terra natal, regressando sempre a casa, num gesto que reflete o seu forte apego à identidade local — uma característica que se traduz diretamente no seu trabalho criativo.
No passado mês de março, apresentou “Bela”, a sua coleção de final de curso, um projeto profundamente pessoal que presta homenagem à sua avó, Maria Manuela Nunes Estanqueiro. Mulher de coragem invulgar, Maria Manuela foi cabeleireira, professora de têxteis e vendedora, enfrentou adversidades como a violência doméstica, o divórcio num tempo em que tal era tabu, e uma luta contra a leucemia. Margarida não chegou a conhecê-la, mas sente uma ligação visceral com a sua história de resiliência, que serviu de base emocional e estética para o desenvolvimento da coleção.
“Bela” é muito mais do que um conjunto de peças de roupa. É uma narrativa visual sobre o feminino, a memória e o território. Com tecidos associados ao lar, detalhes manuais como pérolas e crochês, e uma paleta de cores suaves — onde o rosa representa a delicadeza da mulher, o branco a leveza e a autoconfiança, e o vermelho-vinho a força —, cada peça conta uma história de resistência e ternura. “Eu olho para a coleção e lembro-me da casa da minha avó”, explica Margarida.
A ligação com a avó não se esgota na temática: o nome da futura marca da jovem criadora será MEstanqueiro, uma referência direta à sua assinatura e legado. Esta marca pessoal surge como uma promessa de continuidade, mas também como ponto de partida para novas abordagens que, embora partam da tradição, caminham em direção ao futuro.
Mas o trabalho de Margarida vai muito além de uma homenagem familiar. A jovem designer afirma-se com uma missão clara: usar a moda como ferramenta de empoderamento feminino. Com consciência crítica e sensibilidade social, quer que cada peça conte uma história, que ajude a desafiar os padrões impostos à mulher, e que promova a diversidade, a aceitação e a liberdade de expressão.
Atualmente, Margarida prepara a próxima coleção da sua marca, dedicada ao upcycling de ganga. Esta nova linha inclui tops personalizados e feitos à medida, pensados para mulheres reais, com corpos, peles e estilos diversos. O casting da coleção foi cuidadosamente escolhido: mulheres fora dos padrões tradicionais da moda, que representam a beleza da diferença. Para Margarida, “a moda deve ser para todos” — uma convicção que tem vindo a fortalecer enquanto modelo numa agência, onde reconhece os limites e pressões do padrão estético dominante.
Com uma paixão que começou aos 10 anos, quando recebeu a sua primeira máquina de costura — ainda que de brincar —, Margarida começou por coser roupas para bonecos e a explorar os livros antigos da avó com pontos, bordados e moldes. Desde então, nunca mais parou. A criatividade que demonstra vai muito além da roupa: brincos, anéis, acessórios — tudo passa pelas suas mãos com dedicação e autenticidade.