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Bruno Silva: entre o surf, o ténis e os desportos radicais

Artes

Já se imaginou a acordar de manhã cedo, encontrar-se com os seus amigos e, de carro, percorrer a nossa costa em busca de uma praia ideal para surfar? Pois bem, independentemente da resposta, fomos conhecer uma pessoa que o faz regularmente - “até no inverno”. Bruno Silva, natural de Esmoriz, não duvida de que o surf é a sua “grande paixão”. Assume-se “muito ligado à natureza” e procura não deixar que os dias passem sem “aproveitar a vida ao máximo”. O jovem estudante de Ciências do Desporto da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto divide o seu tempo entre o mar e os campos de ténis (enquanto treinador) e um dos seus sonhos é criar uma plataforma portuguesa de desportos radicais. Fomos ter com ele para descobrir o que o move e de que é feita a sua paixão pelo mar e pelo desporto.

Sugeriu-nos como local de encontro a Praia de Cortegaça - um dos cenários que elege frequentemente para surfar. O ponto de encontro ficou definido e a hora marcada. A reunião deu-se por volta das 17h30 de um dia de muito sol e algum calor. Bruno já havia conjeturado um percurso para fazermos a pé, à medida que conversássemos. Da entrada da praia, atravessamos a frente do Parque de Campismo de Cortegaça até ao princípio de um longo caminho de terra batida - “por onde costuma andar quem vai surfar”. Estamos diante de um longo percurso pedestre, percorrido no decorrer de mais de uma hora de conversa.

O desporto sempre esteve presente na vida de Bruno Silva. Talvez não possamos afirmar que é o homem das sete modalidades, mas é correto dizer que muitos foram os desportos que praticou. Natação, ténis e skate são alguns dos exemplos. Este gosto advém, em grande parte, da influência do seu pai, “algumas vezes” campeão nacional de Jet Ski. “Muito tempo da minha infância foi passado junto ao rio e ao mar, sentado na areia, a ver o meu pai nas competições”, recorda. Se recuarmos ao início do percurso do desportista, encontramos um fiel jogador de ténis.

De raquete na mão, começa a competir por volta dos 6 anos de idade. Mas como se terá formado jogador? A resposta não é difícil, basta ir em busca das memórias do seu crescimento. Ainda criança, uma boa parte do seu tempo era passado no Parque Municipal do Engenho Novo, em Paços de Brandão - onde está sediado o Clube de Ténis de Paços de Brandão. Nesse espaço, havia um restaurante - gerido pelo seu pai durante 14 anos - onde Bruno fazia a maior parte das suas refeições. Entre almoços e jantares, assistia a muitos dos treinos que se davam nos campos de ténis, em frente ao restaurante, e aquele que seria o cenário do seu quotidiano não tardou em converter-se num dos primeiros contactos que teve com aquele desporto.

Bruno Silva, natural de Esmoriz (Fotografia: Marcelo Pinto)

Assim que decidiu experimentar jogar ténis, rendeu-se à modalidade. Até aos 18 anos de idade foi jogador de alta competição e chegou a sonhar ser jogador de ténis profissional - ideia que viria a abandonar mais tarde. Entretanto, apesar do passar do tempo, não se desligou daquele que fora o seu amor de outros tempos: inscreveu-se num curso de treinador de ténis e deseja, no futuro, poder “acompanhar atletas de alta competição pelo mundo fora”. Esta é uma ambição que tem projetada para o início da sua vida profissional e há já um projeto pensado neste sentido, com a inauguração prevista para outubro: Cafténis - Escola de Ténis do Clube Académico da Feira, um complexo de ténis em construção que contará com 4 cortes de ténis, 4 campos de paddle cobertos, um restaurante e um parque infantil. Este será o resultado de um sonho do seu pai que juntará, no mesmo espaço, pai e filho: o pai como gerente do espaço e o filho como treinador de ténis. “Agora tudo se vai repetir, vamos voltar às origens”, comenta de sorriso esboçado no rosto.

“A minha maior paixão é o surf”

Já passámos Cortegaça e estamos a chegar à Praia dos Jerninhos, em Maceda. O mar está calmo e corre uma leve brisa. Entre a conversa e algumas paragens para captarmos fotografias, surge o tema inevitável: o surf. Bruno Silva confessa-se “muito ligado à natureza” e o surf constitui um dos motivos ideais para com ela estar em contacto. “A partir do momento em que fui para o mar com uma prancha de surf, foi paixão à primeira vista”, comenta. A Praia da Barrinha talvez seja a sua praia de eleição e desvenda que as condições ideais para a prática da modalidade envolvem a ausência de nebulosidade, “água transparente” (com a luz do sol a refletir-se nela) e, de preferência, ausência de vento - um fenómeno que nos explica denominar-se glass. O horário predileto para se fazer ao mar é “de manhã cedo, entre as 7h30 e as 8h” - ou não preferisse o nascer do sol ao pôr do sol.

Fotografia: Marcelo Pinto

Se neste momento ouvisse Ace of Spades, dos Motörhead, não tardaria em pegar na prancha e entrar no carro, rumo a uma praia, ou a praticar algum outro desporto. “Quando a ouço, ganho uma energia instantânea”. Na verdade, confessa, ir surfar pode envolver um conjunto de passos anteriores à sua prática. Por norma, consulta as previsões meteorológicas e oceanográficas na noite anterior e mantém o contacto com os seus companheiros de aventura para, no dia seguinte, “de manhã cedo”, pôr em prática o ritual do costume: encontrar-se com os seus amigos e percorrer a costa desde Esmoriz até Maceda de carro. A música é um elemento essencial nesta jornada e, assim que encontram o local ideal, estacionam o carro, abrem as portas e vão observar o mar de perto.

Para o jovem de Esmoriz, surfar é também “uma forma de estar com os amigos”. Na tomada de decisão sobre o local onde praticar a modalidade, um dos aspetos que tem em consideração é a possibilidade de estar numa área onde não haja mais pessoas para além de quem o acompanha - uma sensação de que muito gosta. Para além do convívio, tem também a ambição de desenvolver as suas capacidades enquanto praticante - o que nem sempre lhe permite desfrutar do momento em pleno e se “divertir mais”. Considera-se “obcecado pela perfeição” e são muitas as vezes em que, no mar, perde a noção do tempo, na esperança de que a próxima onda seja melhor ou de que o seu desempenho corresponda às suas expectativas no momento que se segue.

Fotografia: Marcelo Pinto

Sobre a prancha, sente um “misto de sensações”. Neste “misto” estão incluídos o medo e a adrenalina. No entanto, o jovem desportista destaca a possibilidade da existência do pânico e deixa um alerta: “entrar em pânico dentro do mar é perigoso”. “Já me aconteceu chegar a pensar que ia ficar debaixo de água, afogado”, partilha. “O medo é saudável, o pânico é letal”. Inicialmente, havia vezes em que entrava no mar sozinho, mas, com o “ganho de maturidade”, que assume ter adquirido com o tempo, foi redobrando as precauções. Uma das grandes alegrias que completa as suas aventuras de prancha sob pés é aquilo que descreve como sendo uma espécie de orgulho alheio. Conta que se sente “orgulhoso e feliz” por ver os amigos a “fazerem uma boa onda” e assume que isso lhe transmite uma “energia contagiante”.

As praias às quais associa as melhores memórias, e que o fazem recordar a sua “evolução no surf”, são a Praia da Barrinha, a Praia do Paredão Barra (Praia Velha), ambas em Esmoriz, e a Praia de Cortegaça. Desta última, traz lembranças, entre outras, das vezes em que assistiu de perto ao trabalho dos pescadores: retirando o barco do mar e a vender o peixe aos presentes. “Amigos meus já chegaram a comprar. Não se compara com o que se vende em supermercados, pelo preço e pela frescura”, garante.

Fotografia: Marcelo Pinto

Regressando ao surf, Bruno já pensou em participar em competições - ponderação à qual está associado o seu amigo Gonçalo Correia. “Há algum tempo que andamos a tentar perceber se faz sentido participar em torneios ou competições, na desportiva, só para ver como corre e ter uma experiência nova”, afirma. Esta é uma decisão que assume exigir mais tempo e reflexão, mas que, se for para avançar com a “aventura”, é inquestionável que se fará acompanhar dos seus amigos.

Na opinião de Bruno, ainda que o surf em Portugal esteja a “evoluir drasticamente”, há pelo menos um aspeto que carece de algum trabalho e aperfeiçoamento, para que esta seja uma modalidade mais desenvolvida no nosso país: “as mentalidades”. Considera haver enraizada na população uma perspetiva muito negativa associada ao mar, que impede o progresso do surf português. Ainda que o mar seja perigoso e que “ninguém o consiga controlar”, tomando as devidas precauções, é possível nele praticar desporto com os riscos minimizados. “A partir do momento em que se mudar esta mentalidade, surgirão mais pessoas a praticar surf e bodyboard (ou outras modalidades), o que, provavelmente, trará novos atletas e pessoas interessadas na sua prática”, partilha.

O jovem desportista tem uma perspetiva otimista quanto ao futuro da modalidade no país “à beira mar plantado” e acredita estar em emergência uma nova geração de praticantes “que estão e vão fazer frente a nível mundial”. Para todos os que gostassem de se aventurar mar adentro, deixa alguns conselhos. No entanto, antes de tudo, sugere que cada pessoa perceba os motivos pelos quais pretende praticar a modalidade - “porque é que queres fazer surf?” - e ressalva que “se for para tirar fotos para o Instagram com uma prancha no braço”, é melhor abandonar a ideia. Uma vez tomada a decisão de avançar, aconselha a procura de pessoas com experiência - como é o caso dos monitores de escolas de surf - para que possam experimentar a modalidade com segurança. “Nunca tentes ir sozinho para o mar com uma prancha”. “A partir daí, desfruta e vais ver que o surf é excelente”, comenta.

De olhos postos no futuro

Chegamos à Praia de Maceda. O mar está calmo e o tempo ameno. Sobre o paredão, paramos algum tempo a contemplar as ondas e a recuperar o fôlego. “Vamos voltar?”, pergunta Bruno. Reagimos com uma resposta afirmativa e fizemo-nos ao caminho, desta vez, percorrendo as diferente Ciclovias de Ovar (de Maceda até Cortegaça), entre a estrada e a floresta. Daqui para a frente falamos sobre música, das suas recordações enquanto nadador-salvador e dos seus planos para o futuro. Entre as palavras e os passos firmados no asfalto, fomos fazendo alguns desvios para que passassem os viajantes de bicicleta, corredores e grupos de pessoas em caminhada - parando para captar algumas fotografias sempre que à nossa frente surgisse um cenário adequado para tal.

Fotografia: Marcelo Pinto

Para Bruno, a sua forma de viver, o surf e a música não estão dissociados. Assume ter uma “alma de Rock and Roll” e elege os grupos Motörhead e Metallica como sendo alguns dos mais marcantes na sua vida. Tem preferência por punk rock e speed rock e conta-nos que se não tivesse seguido Desporto, ter-se-ia dedicado à Música. Não o tendo feito, esta incorpora um papel motivador no seu dia-a-dia - tanto que, conta, há noites em que ouvir música despoleta a “vontade de ir surfar outra vez”, mesmo sabendo que não o pode fazer. Sempre gostou de ver concertos e uma das músicas que o marcou na fase da adolescência foi “Best Day Ever”, de Mac Miller. O jovem desportista confessa que quando vai para o mar também pensa em música e que o skate é um dos seus companheiros nos tempos livres.

Em tempos, desempenhou a função de nadador-salvador e, desses tempos, muitas são as recordações que guarda na memória - algumas das quais foi partilhando no decorrer da conversa. Muito antes de imergir naquela profissão, tinha naqueles profissionais uma companhia e um “porto seguro” de muitas idas à praia. “Quando era pequeno, deixava as minhas coisas guardadas com os nadadores-salvadores e ia surfar. Às vezes ía almoçar com eles na praia, lanchava, conversava, conhecia a vida deles e eles conheciam a minha”, recorda.

Antes de se ter tornado num, conhecera “quase todos” os salva-vidas das praias que frequentava. O jovem natural de Esmoriz recorda a vontade de seguir os seus passos, ainda que nunca imaginando que hoje os classificaria como uma “segunda família”. “O verão passado foi das melhores fases da minha vida, porque conheci muitas pessoas. Adoro cada nadador-salvador e tenho uma grande relação com todos”, sublinha. No exercício daquela função nunca teve de intervir em algum salvamento e diz ter sempre procurado evitar que algum problema acontecesse - até porque “um bom nadador-salvador deve apostar na prevenção”.

Estamos a chegar à Praia de Cortegaça - o ponto de partida desta longa viagem. O olhar eleva-se, agora, além-horizonte: para o futuro. Se voltássemos ao universo musical da adolescência de Bruno Silva, nos seus auscultadores, ouviríamos, sob a voz de Mac Miller, “No matter where life takes me, find me with a smile” (em português: não importa onde me levará a vida, encontra-me com um sorriso”). Mais de uma hora de conversa bastou para percebermos que, independentemente do que estiver por vir, a vida será vivida “ao máximo” e que o “sorriso” - o tal grito da adolescência - estará sempre presente e servirá de arma para a batalha dos dias menos bons.A curto prazo, o jovem esmorizense prevê concluir a licenciatura e seguir para mestrado. Entre os seus objetivos está também o desafio de conciliar a vida universitária com o surf, os hobbies, o trabalho e estar com os amigos. A aposta no Cafténis será igualmente central, “levando o melhor para o clube, captando cada vez mais pessoas e apostando na sua publicidade e promoção”.

Fotografias: Marcelo Pinto

Falando de sonhos, estes não faltam e um dos seus maiores é “criar uma plataforma de desportos radicais em Portugal”. E porquê sonhar? Encontramos a resposta no (seu) hino de outros tempos: “If it ain’t about a dream, then it ain’t about me” (em português: se não se trata de um sonho, então não se trata de mim). Embora estas palavras não sejam suas, não é difícil chegar a esta conclusão com base na sua “grande vontade de viver” - como se aquela mensagem estivesse imprimida em todos os seus passos e nada mais fosse que o perpetuar de um sonho, convertido na realidade dos seus dias. Estamos agora sobre o paredão da Praia de Cortegaça. Estamos nós e o jovem carregado de sonhos, de prancha na mão. O sol começa o movimento descendente e sente-se o vento. O amanhã prepara-se, o mar está agitado. Recolhemos à origem.

* Créditos da foto de capa: Marcelo Pinto
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