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Um balanço das leituras de 2022, para recordar alguns dos melhores!

Opinião

A páginas tantas

Filipa Matias Magalhães*

A iniciar 2023 e já com muitos livros na minha TBR faço, convosco, um balanço das minhas leituras do ano passado e espero que alguns mereçam as vossas horas de leitura. Li menos do que gostaria, mas foram muitos, e bons, os momentos que passei na boa companhia dos meus livros.

Ao olhar para a lista dos livros lidos reparo que mais de metade foram escritos por mulheres e que o número de livros escritos por autores portugueses representa menos de um terço do total, alguns dos quais, como o caso do João Tordo, repeti.

Dei destaque à Prémio Nobel da Literatura em 2022 e li “Uma paixão simples” – ainda antes de saber que tinha sido galardoada com este prémio, e fiquei logo rendida. Logo a seguir li “O acontecimento” e “Um lugar ao sol seguido de Uma mulher” e percebe-se que o prémio foi mais do que justo. Toda a sua escrita é muito impactante porque escreve muito sobre si, a sua vida, os seus pais e, ainda que de forma não totalmente autobiográfica, prende-nos pela forma sincera, por vezes dura, mas também apaixonada como conta as suas histórias.

Foi um ano em que me aventurei em muitos autores novos, gostei mais de uns do que de outros, mas elejo como os melhores “Shuggie Bain”, de Douglas Stuart – uma história tão dura como deliciosa, sobre os efeitos destrutivos do vício do álcool, do preconceito, do divórcio, da pobreza e desemprego numa família, com uma mensagem maravilhosa sobre o poder incondicional do amor de um filho pela mãe. Sem dúvida, um dos melhores livros que já li!!! Outro autor que conheci este ano foi de Fredrik Backman, que escreveu “Gente ansiosa” – um livro tão bom, tão bom que ainda não tive a coragem de ver a série.

Novas autoras que li e que gostei, mas não me apaixonei, livros bons para o verão ou, como dizem os ingleses “Chickbooks”, “Daisy Jones & the Six”, de Taylor Jenkins Reid, “Verão”, de Ali Smith e “Se fosse perfeito”, de Colleen Hoover.

Autores portugueses que me presentearam com novidades que quis ler por serem, para mim, autores que sei que nunca desiludem: li “Introdução à pintura rupestre”, de José Tolentino Mendonça – onde fui beber alguma da imensa sabedoria do nosso Cardeal e da forma serena e positiva de olhar para a vida em todas as suas manifestações.

Do João Tordo, li as novidades do ano: “Náufrágio” e “Cem anos de perdão”, que gostei muito pela forma como nos revela personagens tão complexas atrás de histórias de suspense, mas o que mais gostei de ler, pela forma como aborda a solidão e os seus efeitos foi “O livro dos homens sem luz”.

Nos primeiros meses da pandemia pensei tantas vezes que a distopia que estávamos a ler daria para escrever muitos livros. O impacto da pandemia na nossa vida real e nas nossas relações é um tema que vai dar, com certeza, para rios de tinta. “Quarentena”, de José Gardeazabal tem a pandemia como a base e o cenário de uma relação que se desgasta e termina. Gostei muito de conhecer mais um autor português que escreve muito, muito bem.

Ainda nos autores portugueses, li “Onde”, de José Luís Peixoto, mal o publicou porque sou absolutamente fã da sua escrita, gosto da forma como descreve países longínquos e culturas diferentes e não gostei menos da forma como descreve com tanta beleza lugares e monumentos do nosso país tão bonito. Obrigada, José, por esta visita guiada ao Portugal profundo, não é à toa que recebeste o prémio Saramago pois também ele tinha este amor pelo nosso país!

Estarei sempre na fila da frente para comprar os livros do Afonso Cruz e foi o que fiz com “A flor e o peixe” que li num sopro e adorei. O Afonso escreve e ilustra bem em qualquer género literário e nunca li um livro dele que me desiludisse. Por falar em gostar muito, este ano conheci a poesia de Adilia Lopes e amei, a forma contemporânea como pega e pinta com palavras bonitas temas tão banais apaixona-me e cada poema é um abanão de beleza e realidade, como acontece com “Pardais”.

Reli “O nome da rosa”, de Umberto Eco, um livro que dispensa apresentações pois é um dos livros mais lidos de sempre, mas que foi uma boa forma de introduzir nas leituras deste ano o tema dos mistérios escondidos na religião. Na verdade, ainda este ano li também “Uma Educação”, de Tara Westover, que foi o melhor do ano, onde esta questão da religião e do fanatismo é o tema central contado na primeira pessoa, com a dureza e o realismo de quem viveu e sofreu numa família de radicais religiosos e teve a sorte de escapar para poder alertar para esta questão.

Voltei a Abdulrazak Gurnah, com “Vidas seguintes” e a história de uma família ao longo de diferentes gerações, o que levamos do que nos antecederam.

Um dos melhores livros que li este ano, também de uma autora que não conhecia, “A breve vida das flores”, de Valerie Perrin, um livro de esperança no amor e que tem a capacidade de nos revelar o lado bom da vida, mesmo quando o cenário não é o mais favorável!

Defender os direitos humanos exige, antes de mais, conhecer o papel das mulheres no mundo e a luta que temos travado pela igualdade e por muito que saibamos sobre o tema nunca esgota o conhecimento e as perspetivas. “Um quarto só seu”, de Virginia Woolf e “Todos devemos ser feministas”, de Chimamanda Ngozi Adichie, são excelentes livros que mostram que ser feminista não é coisa de mulheres, deve ser uma batalha de todos os que querem um mundo melhor.

Mais uma autora nova, encantou-me com a dureza de “O desassossego da noite”, Marjere Lucas Rijneveld e, mais uma vez, uma história sobre uma família e a forma como reage e se vai destruindo com a perda de um filho e o sofrimento dos que ficam órfãos de pais vivos, que não os veem, não os mimam e não os tratam como tal. A negligência tem muitos rostos e a ausência dos que estão ao pé de nós e a recusa de afetos e de cuidado são armas que magoam e deixam marcas para a vida. Um ótimo livro para ler e compreender o impacto das nossas omissões!

Porque não gosto de falar sobre o que não sei, e sei pouco sobre tantas coisas, quando começou a guerra na Ucrânia quis perceber um pouco mais sobre a origem do que estamos a viver e se – apesar de a guerra não ter justificação possível – conseguia encontrar alguma razão que não fosse apenas a decisão de um louco com vontade de querer construir um império à escala dos dias de hoje. “A mais breve história da Rússia – dos Eslavos a Putin”, de José Milhazes ajudou-me a compreender melhor a história deste país que não aceita as fronteiras definidas e tem uma longa história de lutas e conquistas.

“A educação de Eleanor”, de Gail Honeyman, salta para o pódio de um dos melhores livros que já li. Um livro sobre a dureza da infância sem mãe e dos pilares essenciais para a construção de uma pessoa, mas também sobre a força que todos temos para superar as adversidades e não nos tornarmos o reflexo das nossas ausências.

Leila Slimani é claramente uma das minhas autoras contemporâneas preferidas, gosto quando assume um papel mais autobiográfico, como em “O perfume das flores à noite” e quando recria histórias reais que embeleza e nos conta de forma empática e numa perspetiva muito de “nem todos somos 100% maus ou 100% bons” e foi isso que retive de “No jardim do ogre”.

Gosto de Julian Barnes e o seu “Elizabeth Finch”, que conta a história de uma paixão feita de cumplicidades e admiração, foi uma boa companhia de piscina no Verão.

Já conhecia e gostava muito de Bernardine Evaristo pela forma bonita como desconstrói e derruba os preconceitos de género. Acho impossível alguém ler um dos seus livros e continuar a olhar para esta questão da mesma forma e “Mr. Loverman” é a prova disso, aliada a um grande sentido de humor e à força das palavras que nos marcam.\

Falando em palavras que marcam, “Todas as almas”, de Javier Marías, é um dos últimos livros escritos pelo autor que nos deixou este ano, um livro muito bonito sobre o amor, a solidão e sobretudo a nossa necessidade de nos sentirmos “em casa” e o que é sermos estrangeiros e sentirmos a falta que nos faz o nosso país, os seus costumes e os nossos amigos e parentes.

Deixei para o fim dois livros tão inteligentes como divertidos, aliás, é impossível conceber o sentido de humor sem inteligência e a prova disso é o livro de crónicas de Woody Allen “Gravidade zero”, cronicas do fantástico e do banal mas onde a ironia e o humor estão presentes da primeira à ultima palavra.

Mas apesar da consagração e da fama universal de Woody Allen, que não só não nego, como considero mais do que justa, não fiquei menos fã da brasileira Maria Ribeiro em “Trinta e oito e meio”, um livro para rir sozinha e em voz alta do início até ao fim. Encontrei na Maria Ribeiro muito do sentido de humor e da inteligência que tanto gosto na “Porta dos Fundos”.

E termino com estes dois livros muito, muito divertidos, mas sem dúvida que no meu top 5 deste ano e sobre os quais já falei aqui neste espaço, sugiro para quem ainda não leu – e garanto que não se arrependerão:

“Uma Educação”, de Tara Westover

“Shuggie Bain”, de Douglas Stuart

“A breve vida das flores”, de Valerie Perrin

“A educação de Eleanor”, de Gail Honeyman

“Todas as almas”, de Javier Marías

Que seja para todos um ano de muita saúde, paz, amor e muitos sucessos pessoais e profissionais e que os livros sejam o nosso lugar seguro mas também fonte de crescimento, diversão, beleza, encantamento, conhecimento, cultura e sobretudo que nos abram a mente e os horizontes e derrubem os preconceitos!

Boas leituras em 2023!

* Escreve, regularmente, a crónica literária "A Páginas Tantas"
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