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É dentista e vai lançar uma linha de biquínis de produção sustentável

Gastronomia

Sara Arrais cresceu na Gafanha de Aquém, em Ílhavo, e sempre teve o mar à distância de um passeio de bicicleta. Há cerca de cinco anos, mudou-se para Paris e o mar deixou de habitar o horizonte para passar a servir de anfitrião a cada regresso a casa, mantendo-se como ator recorrente nas melhores memórias da sua infância e adolescência.

Sara recorda aqueles eternos verões por altura do secundário em que os amigos se juntavam de toalha ao ombro e formavam autênticos cortejos de bicicletas rumo às praias da Barra ou da Costa Nova. Eram tardes de areia quente, pele salgada e maresia, quase sempre acompanhadas de um gelado ou de uma tripa, e que só terminavam ao anoitecer, já depois de Sara, de câmara em punho, ter juntado mais um registo do pôr-do-sol à sua coleção.

“Já reparaste que não há dois pores-do-sol iguais?”, comenta a ilhavense, em conversa com a Aveiro Mag. “Eu tirava imensas fotos ao pôr-do-sol. Gostava de eternizar aqueles momentos e de os partilhar com a minha família ao chegar a casa”, lembra.

Este gosto pela fotografia levá-la-ia a investir o seu primeiro salário numa máquina fotográfica, bem como a criar o blog Kalimera Concept, onde partilha fotografias das suas viagens, sugestões sobre os melhores itinerários ou dicas para uma escapadela de fim de semana.

Aos 28 anos, a antiga paixão pelo mar e pela praia deu mote ao seu mais recente projeto: uma coleção de biquínis e fatos de banho com o seu cunho pessoal e a garantia de uma produção ambientalmente sustentável e 100 por cento portuguesa.

A princípio, Sara quis ser médica. Com apenas dez anos, estava convicta que “queria ser prestável, queria ajudar os outros” e que isso passaria por uma profissão na área da saúde. O curso de medicina escapar-lhe-ia por algumas décimas, mas hoje reconhece que “há males que vêm por bem”. Ao ingressar em medicina dentária, na Universidade do Porto, Sara descobriu uma vocação ainda maior. “Como dentista, consigo mudar vidas, trabalhando sorrisos e sinto-me muito realizada a fazer isso. Olhando para trás, acho que fiz uma boa escolha”.

No último ano do curso, passou seis meses em Maceió, na região nordeste do Brasil, ao abrigo de um programa ibero-americano de mobilidade de estudantes. Uma experiência “muito enriquecedora”, atenta a jovem, tanto a nível académico e profissional, como do ponto de vista pessoal.

Se, em Portugal, é raro os estudantes de medicina dentária terem formação prática com pacientes, não podendo treinar os procedimentos mais complexos, naquele município do estado de Alagoas o cenário era bem diferente. Em Maceió, “eram os próprios professores que pagavam o autocarro e as refeições do dia para que aquela comunidade pudesse vir à faculdade para ser tratada por nós ”, recorda Sara. “Aquelas pessoas dificilmente teriam acesso a cuidados de saúde oral se não fosse pela faculdade, o que fazia com que sentíssemos que os nossos tratamentos iam mesmo fazer a diferença”.

Sara é, por natureza, ponderada. Gosta de considerar todas as variáveis e pesar prós e contras. Ainda assim, olhando em perspetiva, algumas das maiores decisões da sua vida foram tomadas de impulso.

Naquele “ano sem inverno” em que terminou o curso – a ilhavense viajara para o outro lado do Atlântico no início do outono e, meio ano depois, ao regressar a Portugal, já a primavera se impunha no hemisfério norte –, e ainda com a jornada por terras brasileiras muito presente, Sara percebeu que queria viver outra experiência fora de portas. Por influência de uma amiga, o destino final viria a ser Paris, todavia, é curioso notar que a capital francesa não foi, à partida, uma das hipóteses consideradas. Por um lado, “tinha muito aquela ideia de que os franceses são arrogantes, altivos, fechados ou antipáticos”; depois, havia a questão da língua. “Tive francês na escola, mas sabia dizer o meu nome, a minha idade e pouco mais”, confessa. “A parte boa do meu trabalho é que assim que o paciente abre a boca, acabou-se a conversa”, acrescenta, entre risos.

Ainda em Portugal, Sara teve de esperar alguns meses pela documentação necessária a embarcar em mais esta aventura no estrangeiro e utilizou esse período não só para trabalhar algumas horas por semana numa clínica de medicina dentária em Ílhavo, mas também para se dedicar a um curso intensivo de francês. Uma vez em Paris, o tempo e a prática seriam suficientes para quebrar as barreiras linguísticas que ainda existissem. Quanto à ideia que tinha do povo francês, Sara admite que, ao contrário do que antecipara, nunca se sentiu excluída e sempre foi tratada com respeito e consideração por colegas de profissão e pacientes.

Atualmente, as suas rotinas passam pelos tratamentos estéticos e pelos procedimentos de prótese fixa, mas antes do despontar da pandemia dedicava-se quase exclusivamente à ortodontia, área na qual se havia especializado. Ao longo dos anos, Sara já encontrou todo o tipo de pacientes: uns mais tímidos ou retraídos, outros verdadeiramente receosos. “Ainda há muita gente que associa uma ida ao dentista a dor e sofrimento e isso atormenta as pessoas”, partilha. E se o preconceito é comum nas gerações mais velhas, por vezes, também vive na mente, no discurso e nas atitudes dos mais novos. “Cheguei a ver pais a advertir os miúdos, dizendo-lhes que se não se portassem bem os levavam ao dentista, como se fosse um castigo”, conta Sara.

“A parte psicológica” é, por isso, “o maior desafio” da sua profissão, entende Sara. “Os dentes não servem só para comer. Uma boa dentição é essencial para falar corretamente, ajuda a rir sem vergonhas e é fundamental para a autoestima das pessoas”, enquadra.

Outra das paixões de Sara são as viagens. “Mudar de cenário, conhecer novos sítios, ouvir outras línguas, provar diferentes sabores” são tudo coisas que a entusiasmam, desafiam e realizam. Se, até à idade adulta, não teve muitas oportunidades de sair do país, à medida que foi conquistando a sua independência financeira, Sara fez questão de começar a investir em viagens. Foi também neste contexto que, pouco tempo antes de se mudar para Paris, Sara criou, com a ajuda do irmão, o blog Kalimera Concept, onde partilha textos e fotografias, de forma a manter um registo das suas viagens e das experiências que vai vivendo a cada paragem.

Kalimera é uma saudação em grego que significa “bom dia” e, de acordo com Sara, esta é também “uma expressão de boa energia e boa disposição. É desejar tudo de bom a alguém”.

Hoje em dia, Sara já não partilha tantos conteúdos como outrora. Por um lado, há a febre do Instagram - “O blog requer mais tempo e dedicação. No Instagram é tudo mais imediato e, de facto, é lá que as pessoas estão”; por outro, houve algumas alterações ao site que fizeram com que perdesse bastantes publicações e Sara ainda não teve oportunidade de repor os conteúdos.

Para Sara, “a viagem perfeita tem de ser com as pessoas perfeitas”. A jovem viajante defende que “são as pessoas que fazem os lugares” pelo que a companhia é, de facto, elemento fulcral.Dos vários locais que já visitou, há três destinos que elege como os seus preferidos: Tóquio, que visitou em 2019, é o seu destino urbano de eleição. A viajante deixa rasgados elogios à cultura nipónica, à gastronomia e a um modo de vida que impressiona pela simplicidade, simpatia e correção. Para os amantes de natureza, Sara aconselha uma visita às vastas paisagens da Patagónia, na América do Sul, que conheceu em 2016. Já no que respeita a destinos de mar e praia, a escolha recai sobre as Seicheles, ilhas de areia branca e água límpida, um ambiente selvagem e o ponto do globo onde Sara testemunhou “o céu estrelado mais incrível”. A ilhavense visitou aquele arquipélago paradisíaco em 2017.

Não fosse a pandemia e outros destinos ter-se-iam juntado aos que já constam do passaporte desta ilhavense, mas Sara prefere relativizar a sua situação. “Não me posso queixar. São só viagens, faço mais tarde. Muito honestamente, soube-me bem parar. Percebi que estava a precisar de interromper o frenesim em que a minha vida se estava a tornar. Queria estar em todo o lado, fazer tudo ao mesmo tempo, estar com toda a gente. Já andava num ritmo muito acelerado. No último ano, aproveitei o tempo livre para estar mais em casa e voltei a ler mais livros”.

Kalimera é também o nome do mais recente projeto de Sara, uma marca de swimwear feita ao seu gosto e à medida das suas exigências no que concerne à produção e à qualidade dos materiais.

“Sempre adorei biquínis, mas tinha alguma dificuldade em encontrar peças que eu gostasse, que tivessem os cortes que me faziam sentir confortável ou as cores que mais me agradavam. Havia uma série de características que eram importantes para mim na hora de comprar um biquíni e que raramente encontrava no mercado. Pensei: ‘porque não criar uma linha própria?’”. E assim foi.

Apesar de só agora vir a público, este é um projeto que remonta ao ano 2019 e que envolveu muitas horas de pesquisa, contactos falhados, esboços trocados e amostras produzidas.

Sara contactou várias unidades de produção têxtil em Portugal. Algumas não chegaram sequer a responder, outras terão reiterado que só trabalham para grandes marcas internacionais e, por isso, se recusam a trabalhar com produções de âmbito nacional. Daquelas que Sara pôde visitar, todas lhe disseram que não conseguiam corresponder às suas expectativas. É certo que havia a possibilidade de produzir no estrangeiro – na Turquia ou na Indonésia –, mas Sara não aceitou. “Fazia questão que a produção fosse portuguesa e, com isso, tive de adiar um ano todo o projeto. Se era para fazer, que fosse para fazer em condições”.

Entretanto, surge a pandemia e é já em plena crise sanitária que, numa nova ronda de contactos, há uma fábrica portuguesa que finalmente aceita assumir a produção.

Este projeto tem ajudado Sara a adquirir novos conhecimentos nas áreas do design de moda, da produção têxtil e dos negócios, bem como a desenvolver vários aspetos da sua personalidade. “Quando contactava uma fábrica, havia muito a tendência para me tratarem por ‘menina’ e para não me levarem muito a sério. Tive de aprender a dizer ‘não’, a separar o pessoal do profissional, a impor-me enquanto cliente e a recusar que me condicionassem pelo facto de ser jovem ou de ser mulher”, partilha.

Sara não deixou de trabalhar em medicina dentária e não tem pretensões de o fazer. Continua a cumprir uma jornada de quase 45 horas de trabalho por semana na clínica parisiense. “Sinto que tenho tido uma vida dupla nos últimos tempos. Saio da clínica e venho para casa tratar de assuntos relativos aos biquínis. Por vezes, entre consultas, dou por mim a responder a emails. Nunca pensei que houvesse tanta coisa à volta disto”.

Consciente que a indústria da moda é das que mais polui, Sara também fez questão que a sua linha de bikinis e fatos de banho fosse o mais sustentável possível. Daí a firmeza na altura de optar por uma unidade de produção portuguesa, cujos procedimentos ambientais e condições de trabalho Sara conhecesse; daí também o design intemporal, simples e elegante, e a atenção à qualidade da matéria-prima, de forma a que as peças possam durar várias estações. E, claro, a opção por trabalhar com tecidos reciclados. Os bikinis e fatos de banho são feitos a partir de uma fibra obtida através de redes de pesca abandonadas, plástico dos oceanos e outros resíduos de descarga marítima.

O lançamento oficial da Kalimera Collection está agendado para o próximo domingo, dia 7 de março, às 19h. No entanto, quem subscrever a newsletter, terá acesso exclusivo ao site já na sexta-feira, dia 5. Nessas 48 horas, as peças estarão com desconto e não serão cobrados os gastos com a expedição.

Com as imposições de confinamento trazidas pela pandemia, nunca como agora as compras pela internet estiveram tão em voga pelo que, por ora, a aposta de Sara será na loja online da Kalimera. No entanto, a ilhavense reconhece que “as pessoas gostam de experimentar as peças, de sentir os materiais”. "Quem sabe, no futuro, algumas peças possam vir a estar disponíveis numa concept store.Tudo vai depender da aceitação e do feedback das pessoas”, assume. Ainda assim, é importante notar que “quem comprar através do site terá a hipótese de devolver as peças se não gostar”. “A compra à distância tem sempre esse risco, mas acredito que esta possibilidade transmita alguma segurança”, ressalva a criadora.

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