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Leonardo Marques: “Acredito mesmo na máxima «uma vez ator, sempre ator»”

Artes

Leonardo Marques começou a fazer teatro na escola, nos escuteiros e num grupo recreativo local, em Ílhavo, mas é ao interpretar Chico, na oitava temporada de Morangos com Açúcar, entre 2010 e 2011, que fica sob as luzes da ribalta. Desde aí, mudou-se para Lisboa, licenciou-se em gestão, fez duas telenovelas, viajou pela Ásia e teve formação em Hollywood. Hoje, aos 25 anos, o jovem ilhavense está afastado do mundo da televisão e trabalha como gestor de marca na Redken, do grupo L’Oréal.

Apesar de ter residido na zona dos Moitinhos, em Ílhavo, foi no lugar da Légua, na mesma freguesia, onde o pai crescera e o avô Herculano tinha um negócio de mármores, que Leonardo passou grande parte da infância. Ainda na pré-primária – não devia ter mais de três anos de idade –, subiu a um palco pela primeira vez. “Fiz de vaquinha do presépio (Risos). Foi um papel muito engraçado, mas a verdade é que foi aí que me apercebi que podemos vestir outras peles e, todos juntos, apresentar um espetáculo às pessoas”, explica, em entrevista à Aveiro Mag.

Esta dramatização da história da Natividade é bem capaz de ser a sua memória mais antiga no que à representação diz respeito, porém o pequeno Leonardo sempre foi “uma criança muito performativa”. “Quando os meus pais recebiam algum amigo lá em casa, a sala transformava-se num palco. Gostava que as pessoas olhassem para mim, gostava de as fazer rir, de as surpreender”, afirma. A certa altura, talvez por volta dos oito anos, aprendeu a fazer alguns truques de magia e ilusionismo e preparou um show de meia hora que fazia questão de apresentar a quem aparecesse lá por casa.

Este espírito extrovertido e sociável manifestava-se também na escola. Logo no início da década de 2000, por altura da estreia dos primeiros filmes da saga Harry Potter, Leonardo decorava as falas das personagens e reproduzi-as, por brincadeira, com os colegas, em recriações fidedignas de algumas das mais emblemáticas cenas da história do jovem feiticeiro.

Nos acampamentos dos escuteiros – Leonardo fazia parte do agrupamento de escuteiros 189, com sede em Ílhavo –, o momento mais aguardado era o do “fogo de conselho”, a reunião noturna ao redor da fogueira em que partilhavam histórias e interpretavam pequenas peças de teatro, danças de grupo ou canções.“, era quase sempre eu a assumir o papel de animador que escrevia e encenava os outros. As minhas brincadeiras andavam sempre à volta do faz-de-conta e da encarnação de personagens. Posso dizer que o teatro e a dança estiveram presentes desde muito cedo”, sublinha.

Recordar aqueles anos ajuda a avivar memórias de vários episódios protagonizados pela criança enérgica, expansiva e conversadora que sempre foi.

Por exemplo: certo dia, no final de uma sessão de catequese – que, à conta de Leonardo, havia sido particularmente agitada e barulhenta –, a catequista leva-o à presença de José Mário Catão, encenador do GRAL – Grupo Recreativo Amigos da Légua –, que coordenava um ensaio de teatro no edifício contíguo à capela. “Este menino é perfeito para ti”, terá salientado a catequista a José Mário.Leonardo lembra um misto de surpresa – para seu espanto, o ralhete que antecipara havia-se transformado em algo bem diferente – e revelação. “Foi a primeira vez que percebi que as pessoas reconheciam em mim algum talento e que podia levar a representação um pouco mais a sério”, evoca.

Dos anos em que fez parte do GRAL, Leonardo guarda boas memórias. A peça que mais gostou de interpretar foi “Pedra Moura”, uma comédia original de José Perdigão (heterónimo do próprio José Mário Catão) que estreou, em 2008, no salão de festas do Centro Social N.ª Sr.ª da Paz, em Vale de Ílhavo. “Foi a primeira peça em que tive muitas falas. Senti-me uma verdadeira estrela”, recorda.

Aos 14 anos, contudo, uma aventura maior acabaria por ditar o seu afastamento do grupo.

Leonardo Marques sempre gostou de televisão. Primeiro, habituou-se a acompanhar algumas telenovelas e, mais tarde, tornar-se-ia consumidor assíduo dos conteúdos do Disney Channel. “E sempre me apeteceu estar lá, com aquelas pessoas, na televisão”, expõe.Também adorava os Morangos com Açúcar, série juvenil que a TVI transmitia de segunda a sexta-feira, ao fim da tarde, obrigando Leonardo a uma gestão cuidada dos horários de estudo.

Todas as tardes, havia um momento em que os pais se sentavam com ele, um de um lado, outro do outro, enquanto Leonardo fazia os trabalhos de casa. “Por vezes, já estava a dar os Morangos, mas como eles interrompiam a vida deles e se obrigavam a estar ali comigo, eu percebia que tudo o resto também tinha de parar para dar prioridade à escola. É uma recordação que guardo com muito ternura”, partilha. Este brio e empenho aos deveres escolares que os pais lhe incutiram fizeram de Leonardo um ótimo aluno.

A primeira vez que viu passar, no rodapé do ecrã, a questão: “Queres ser a próxima estrela dos Morangos com Açúcar?”, a resposta foi imediata: “Sim!” No entanto, numa primeira oportunidade, a mãe não deixou que se candidatasse. Alguns anos mais tarde, a produção daquela série juvenil voltou a abrir castings para novos atores e, à segunda tentativa, com o apoio do resto da família, Leonardo levaria a melhor.

Nos três meses seguintes, viveriam entre Ílhavo e Lisboa, deslocando-se à capital cerca de três vezes por semana. O entusiasmo de Leonardo, que tentava saborear cada pormenor daquela experiência – os estúdios, as luzes, os guiões, os cenários, as câmaras –, contrastava com a impaciência dos pais, que faziam um grande esforço financeiro para suportar aquela rotina. “Eles gastaram muito dinheiro naqueles meses para me dar a oportunidade de experimentar aquilo que eu tanto queria. Acho que a minha mãe estava convencida que eu não ia ficar. A dada altura, já algo irritada com aquele processo prolongado, pediu que me informassem que eu não ia ficar no elenco, de forma a poder parar de alimentar um sonho impossível. Disseram-lhe exatamente o contrário, que queriam contar comigo”.

Quando Leonardo é chamado à entrevista final, na TVI, já estava convicto que seria uma das apostas para a nova temporada da série. “Nesse último casting, a Júlia Pinheiro e os outros diretores do canal estavam a comer morangos com açúcar à medida que iam avaliando as nossas apresentações. Chocou-me pela beleza e pelo sitting perfeito”, lembra.Leonardo acabaria mesmo por ser escolhido para interpretar a personagem Chico na oitava temporada de Morangos com Açúcar e, hoje, não tem dúvidas: “os Morangos foram o projeto em televisão que mais me marcou”.

Ao longo de nove temporadas, Morangos com Açúcar gerou um fenómeno sem precedentes, marcando toda uma geração. O público, essencialmente jovem, acompanhava aquelas personagens como se de amigos se tratassem, revia-se nos seus anseios e nas suas conquistas, imitava os seus comportamentos, a suas roupas e a maneira como falavam. Era notável a dedicação que os espetadores entregavam àquele produto televisivo e, consequentemente, aos atores que lhe davam vida. “Não estava preparado para o grau de visibilidade que cheguei a ter. Havia eventos para os quais nós tínhamos escolta policial!”, conta Leonardo.

Nos últimos anos, com o aparecimento de novas plataformas e tecnologias, a televisão tradicional tem perdido protagonismo e é cada vez mais improvável que um qualquer produto de entretenimento português consiga ter o impacto que os Morangos tiveram.

Apesar de terem virado a vida do avesso para o suportar nesta jornada, não raras vezes, os pais de Leonardo recearam que o filho pudesse não só descurar os estudos, como perder-se por caminhos que prejudicassem a sua saúde. “Porque podia mesmo ter acontecido”, reconhece, agora, o jovem ilhavense. “Aquele não era um meio nada despropositado para isso”. Havia que resistir a vícios, adições, trejeitos e ter estofo suficiente para não sair esmagado ou desiludido pelos “choques da fama”. “Felizmente, das coisas más que me podiam ter acontecido, nenhuma delas veio a concretizar-se”, congratula-se.

Uma semana depois de as gravações de Morangos com Açúcar terminarem, já Leonardo tinha um convite da TVI para integrar o elenco da nova produção do canal – Anjo Meu, uma telenovela de época com Alexandra Lencastre, João Reis, Fernando Luís, Sara Matos e Pedro Teixeira. Para grande desilusão do jovem ator, que ainda vivia no rescaldo de uma experiência inesquecível, os pais não autorizaram que abraçasse o novo projeto.

“Todos os jovens que faziam os Morangos ansiavam pelo fim da temporada para perceberem se tinham ou não trabalho na área da representação. Eu encarei aquele convite como um certificado do meu talento e, na altura, fiquei triste por não o aceitar”, partilha Leonardo.

O jovem tinha acabado de completar o 10.º ano em Lisboa, conciliando as aulas com as gravações, mas à medida que uma possível candidatura ao ensino superior se aproximava, os pais faziam questão que o filho se dedicasse empenhadamente aos estudos. Leonardo não os desiludiu. Terminou o secundário com excelente aproveitamento, o que fez com que a Universidade Católica, em Lisboa, para a qual se candidatara, lhe atribuísse uma bolsa mérito, bolsa essa que viria a ser renovada nos anos seguintes pelo seu desempenho académico. Resultado: Leonardo licenciou-se em Gestão de Empresas, na Universidade Católica Portuguesa, sem pagar qualquer propina e ao mesmo tempo que fazia mais um projeto em televisão: Mulheres, uma telenovela da TVI/Plural.

Em Mulheres, ao interpretar César Gomes, Leonardo trabalhou de perto com Maria Rueff, experiente atriz de comédia, reconhecida, entre outras coisas, pelo trabalho ao lado de Herman José, e que, naquele projeto, encarava o desafio de uma personagem mais dramática (na telenovela, Rueff interpretava Margarida, mãe de César). Leonardo também contracenava amiúde com Daniela Melchior, que recentemente integrou o elenco da produção cinematográfica The Suicide Squad, de James Gunn (e que, em Mulheres, era Viviana, irmã de César). As vivências partilhadas com os colegas, em particular, com estas atrizes, foram o que de melhor a experiência em Mulheres trouxe ao jovem ator.

No entanto, o Leonardo de Mulheres já não era o mesmo Leonardo dos Morangos. O jovem começava a revelar um certo desconforto ao representar. A voz estava diferente, o corpo estava diferente, a puberdade impunha-se mais tarde do que o habitual, mas atacava com todas as armas de que dispunha. Super consciente de si próprio, Leonardo dava por si a intelectualizar exageradamente o seu ofício e a não conseguir evitar julgamentos implacáveis sobre as suas próprias prestações.“Era a primeira vez que sentia que se calhar ser ator não era aquilo que eu queria para minha vida”, relata.

No terceiro ano do curso, já depois de terminar de gravar Mulheres, vai estudar para Singapura, ao abrigo de um programa internacional de mobilidade de estudantes. Leonardo estava focado na licenciatura e em construir bases sólidas para o seu percurso profissional, tendo, nesse período, trabalhado como representante da Abercrombie & Fitch, uma reconhecida retalhista de roupa norte-americana.

Além de ter marcado um primeiro afastamento do mundo da representação e de o ter ajudado a crescer enquanto gestor, esta experiência na Ásia deu a Leonardo uma nova perspetiva sobre o mundo e sobre si próprio. “Por muito que não queiramos, quando se trabalha em televisão, é muito fácil deixarmos que o ego nos embole. Se não tivermos quem nos apoie e nos mantenha com os pés assentes na terra, é muito fácil deixarmo-nos surfar pelos altos e baixos da profissão. Singapura deu-me a perspetiva de que eu não sou assim tão importante e de que os meus problemas não são assim tão graves”, partilha Leonardo Marques.

Não deixa de ser curioso, ainda assim, que, findo este ano na Ásia, o jovem tenha decidido dar uma segunda oportunidade à representação e à sua carreira como ator. Se havia forma de conseguir libertar-se da sobreanálise que sufocara a sua última experiência em platêau, só podia passar pelo estudo da arte da representação. Leonardo candidata-se a várias escolas internacionais, acaba por ser aceite na academia de Nova Iorque, mas depressa percebe que a cidade ideal para cumprir este desígnio seria a soalheira Los Angeles, para onde pede transferência.

“A experiência em Los Angeles mostrou-me, uma vez mais, o quão somos pequeninos. Se no mundo da representação em Portugal são sete cães a um osso, nos Estados Unidos, são milhares de cães a um osso”, assevera. Um dos primeiros desafios que a American Academy of Dramatic Arts lhe propôs foi o de escrever uma autobiografia com o mínimo de cinquenta páginas. Um exercício árduo e exaustivo que, feito com verdade, “obriga a mergulhar profundamente naquilo que somos. A partir do momento em que nos conhecemos, deixamos de olhar tanto para nós. Sabemos quem somos, o que nos aconteceu, como gerimos os nossos medos, os nossos anseios”. A academia ajudá-lo-ia a conhecer-se melhor a si próprio e a conquistar confiança na contracena, abandonando aquele ímpeto ensimesmado que tanto o perturbara.

Regressado a Portugal, e com vontade de pôr em prática o que aprendera em Hollywood, faz o casting para A Herdeira, novamente, um projeto de ficção com o selo TVI/Plural. “Tive logo a certeza que ia ficar com o papel. Estava confiante na minha capacidade”, afirma Leonardo.

Contudo, uma vez mais, o entusiasmo rapidamente daria a lugar a novo desconforto. “Percebi que o mercado televisivo em Portugal não era, definitivamente, para mim. Em Los Angeles, fazem cinco ensaios antes de gravar e as produções são trabalhadas cena a cena, com imensa preparação. Em Portugal, isso não é possível. Temos de fazer muitos episódios em muito pouco tempo para o projeto ser rentável”, lamenta.

Aquele “fogo pela representação”, deflagrado na infância, e que tivera chama alta e fervorosa por altura dos Morangos, não mais ardia da mesma forma. A televisão perdera uma boa dose do encantamento e a azáfama de gravar episódio atrás de episódio, sem a preparação que Leonardo entendia necessária, acabava por lhe subtrair divertimento e bem-estar.Fora o derradeiro tira-teimas. Leonardo deixa o elenco de A Herdeira no fim da primeira temporada da telenovela e passa a olhar a representação como um hobby e não tanto como a sua profissão.

Havia algum tempo que Leonardo sonhara trabalhar na área da estética, da moda e da beleza. Quem o conhece, sabe do quão apaixonado é por coisas bonitas e da forma como isso o estimula pessoal e profissionalmente. Depois de algum tempo a dar aulas de inglês, Leonardo candidata-se à L’Oréal e acaba por entrar na empresa como estagiário. Em menos de um ano, é-lhe entregue a gestão de projeto da Redken, uma marca norte-americana de produtos premium para o cabelo – champô, condicionador, coloração – que trabalha unicamente com os melhores cabeleireiros profissionais e hairstylists.

A cada regresso a Ílhavo, Leonardo gosta de reencontrar o quente conforto da família, o vigor salgado do mar – tão diferente do de Lisboa – e o delicioso sabor da doçaria regional. Se Ílhavo “é o ninho a que volto para restabelecer energias”, Lisboa é a cidade que escolheu para morar. Depois de onze anos a habitar quartos alugados, a pandemia incentivou-o a estabelecer-se em casa própria.

Um dos objetivos a curto prazo do jovem ilhavense passa pelo lançamento de uma marca de “roupa com propriedades”. Por ora, Leonardo prefere não adiantar mais pormenores sobre este projeto pessoal que parece aliar a moda à tecnologia, prometendo, no entanto, novidades para o verão. “Um regresso ao pequeno ecrã nunca está fora de questão”, garante, mas também “não é uma possibilidade que alimente”. “Acredito mesmo na máxima «uma vez ator, sempre ator», mas terei de me estabelecer mais como pessoa, de me conhecer melhor a mim próprio, para conseguir divertir-me a representar”, assegura.

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