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António Conceição, o artista que está a “desenterrar” as histórias da Faina Maior

Artes

Nasceu na cidade do Mindelo, Cabo Verde, mas é na Gafanha da Nazaré que tem estado a transformar os pilares de um viaduto em verdadeiros portais para as tradições de um povo ligado ao bacalhau.

Com cinquenta primaveras cumpridas no mês de abril, António Conceição é artista plástico e um contador de histórias, que vai desenterrando ao mesmo tempo que torna palpáveis, num pincelar preciso e sereno, as raízes profundas e salgadas da região.

Começou a desenhar era ainda uma criança e, aos 14 anos, começou a pintar retratos, perpetuando as imagens de estrangeiros que visitavam Cabo Verde. As Artes foram sempre o seu plano A, tendo chegado a estudar Construção Civil – que também tem origem no desenho, conta – e, após terminar os estudos, aguardou pela concretização de um sonho: vir para Portugal aprofundar conhecimentos. Foi no início do novo milénio que se viu a caminho do Porto, com uma bolsa de estudos da Cooperação Portuguesa para estudar Belas Artes.

Hoje, serão muitos os que já o terão visto, envolto em tintas e pincéis, a retratar pedaços de história nos pilares do viaduto que dá acesso ao Cais dos Bacalhoeiros. Ali, erguem-se as antigas secas de bacalhau e as mulheres que nelas trabalhavam e que Maria Lamas retrata, no livro As Mulheres do Meu País, como “desembaraçadas, faladoras e alegres”. António diz ser um mediador – alguém que materializa uma obra, que não é sua, mas “nossa, das pessoas, do mundo”, que nasce de ideias, influências e referências coletivas. “O ciclo da criatividade está sempre em movimento”, diz, e são muitos os que param junto ao artista para partilhar histórias e vivências, em jeito de cocriação. No fundo, estes murais são uma obra de todos, para que celebremos o passado e as gentes que tornaram possível o presente.

O crescer de uma certeza de pincéis na mão

Estava ainda na escola primária quando começou a pintar – e não voltou a poisar os lápis ou os pincéis. Impulsionado pelas irmãs, foi fazendo ensaios, retratos, desenvolvendo técnica e, rapidamente, se enraizou a certeza de que o seu caminho teria de passar pela expressão artística, apesar de ser “um mundo difícil”, porque o é – “o exprimir da arte exige uma saúde, uma clarividência brutais”, partilha.

Em 2005, licenciou-se em Belas Artes na Universidade do Porto e lançou-se, assim, “profissionalmente” ao universo das Artes, dando aulas, expondo em galerias e abraçando o poder “inexplicável” da arte que se faz nas ruas – a Arte Urbana.

“Mesmo que seja eu a escolher uma parede e a ter uma ideia para lhe dar luz, ao começar a executar aquela obra, começo também a absorver o que as pessoas acham, o que lhes toca”, explica, “tudo isso vai aparecendo no mundo da forma”. Os murais que vai pincelando acabam por ser “o resultado de uma coletividade do mundo, no fundo”, conta o artista. O que está a acontecer junto ao Cais dos Bacalhoeiros é isso mesmo: o criar de uma obra “nossa, das pessoas”, da região.

O “desenterrar” de histórias da Faina Maior

O desafio partiu de Leonardo Aires, empresário da Frigoríficos da Ermida, embrulhado numa ideia muito concreta – a de pintar um mural com dez metros de altura e 25 metros de comprimento onde dois ursos a pescar assaltam os sentidos de quem passa pelo edifício-sede da empresa. Uma obra que abriu portas para o projeto que se seguiria: o pintar de murais que celebram histórias reais, com raízes na seca do bacalhau, na pesca, no dia a dia de quem vivia uma realidade que nos é tão próxima e, por vezes, parece já distante.

Para poder retratar o fantástico imaginário do bacalhau, António debruçou-se sobre antigas fotografias e relatos, visitou antigas secas e ativou a escuta, apalpando o sofrimento daqueles dias e daquelas pessoas, mas também a sua força, desembaraço e alegria que iam encontrando nos seus afazeres. Hoje, os murais já concluídos retratam e prestam homenagem às mulheres que trabalhavam ao sol, nas secas de bacalhau – mulheres idealizadas, inspiradas nos rostos das mulheres portuguesas, mulheres da terra.

Há quem pare e comente, partilhe histórias e conselhos – sobre a posição e qualidade dos bacalhaus, sobre os próprios rostos das mulheres, sobre o quotidiano dos pescadores que levavam consigo, no dóri, o foquim, “com pão, azeitonas e peixe frito”. “É um diálogo, é encontro do artista com o público”, conta António, que, enquanto mediador, deixa aberto o espaço para a subjetividade e para a interação.

O trabalho não cessa e as pinturas estendem-se – no tempo e ao longo do viaduto. Agora, surgem retratos a preto e branco, inspirados em fotografias antigas, e, mais tarde, surgirão os pescadores e outros tantos elementos que pertencem a este universo.

Paula Rego refere, numa entrevista à Sábado, que “por isso é que a gente pinta, para desenterrar histórias. As histórias são mais importantes do que os quadros”. António Conceição, com as suas tintas e pincéis, ouvidos e olhar atentos, desenterra as histórias da Faina Maior, tornando mais profundas as suas raízes e mais presente a sua memória.

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