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Desvaneio: uma app para leitores e para quem precisa de um incentivo à leitura

Literatura

Desde muito cedo que Leonardo Oliveira, jovem recém-formado em Engenharia Informática, nutre uma particular curiosidade por tecnologia. Apesar de ter apenas 25 anos, Leonardo ainda recorda os monitores gigantes e barulhentos que se dispunham sala fora, na primeira escola que frequentou, impondo aos olhos de professores e alunos aquele beije-acinzentado típico dos escritórios dos anos de 1990; tem memória das tardes dedicadas às artes, em que cada desenho no MS Paint saía mais colorido e desajeitado que o anterior; recorda-se, vivamente, dos primeiros contactos com um teclado QWERTY, em que rara era a letra que não obrigasse a uma busca incessante pela tecla respetiva. “Demorávamos eternidades a escrever textos de meia dúzia de palavras”, lembra, admitindo que, se teclar com as duas mãos já não era pera doce, utilizar vários dedos parecia um truque só ao alcance dos mais habilidosos; o jovem aveirense recorda também o momento em que obteve o seu primeiro diploma de Tecnologias de Informação e Comunicação, no âmbito do Aveiro Digital, um programa promovido pela antiga Associação de Municípios da Ria, na primeira metade da década de 2000.

O gosto pelos livros e pela leitura, por outro lado, foi “uma descoberta mais tardia” na vida de Leonardo. O aveirense sempre foi um daqueles adolescentes que adorava estar na escola. “Sentia-me bem ali. Participava em todas as atividades possíveis, desde o clube da música àqueles concursos estranhos em que tinhas de ser o mais rápido a pesquisar palavras no dicionário”. A biblioteca escolar era o seu habitat natural. “Em boa parte, por causa dos computadores, mas também porque comecei a ganhar gosto pela leitura”, explica. Já no 3.º ciclo, por incentivo de Virgínia Mariano, professora-bibliotecária, Leonardo fundaria uma revista escolar, assumindo a responsabilidade de definir e organizar os conteúdos a cada edição. “Chamava-se ‘Sempre à Frente’, um nome muito poético, típico de revista de escola”, brinca. “Coordenava os textos que saiam, notícias da escola, passatempos... Uma vez até fizemos um horóscopo”, refere.

Apesar de estar mais à vontade com a área das letras, das humanidades e da literatura, Leonardo acabaria por optar pela área das ciências e tecnologias e, mais tarde, seguir a sua paixão por tecnologia, concretamente, no curso Engenharia Informática na Universidade de Aveiro. “Escolhas algo calculistas”, assume, feitas “a pensar no futuro e nas saídas profissionais que as várias áreas poderiam oferecer”.

Foi no contexto do seu curso que viria a nascer a aplicação móvel que motivou esta conversa com a Aveiro Mag. “Quando chegou a altura de apresentar uma proposta para o projeto final do mestrado, tinha uma ideia para uma aplicação móvel e decidi avançar”, conta Leonardo. “Falei com o meu orientador, disse-lhe que já estava a desenvolver este protótipo e que gostava de o transformar num produto que não servisse só para portefólio, mas que pudesse chegar às plataformas, uma app que pudesse ser descarregada e utilizada pelas pessoas”.O projeto avançaria com a orientação de Diogo Gomes, do Departamento de Eletrónica, Telecomunicações e Informática, e a coorientação de Óscar Mealha, do Departamento de Comunicação e Arte, e assim nasceria a app com o nome Desvaneio.

Desvaneio, uma forma alternativa e, defendem alguns entendidos, mais antiga da palavra “devaneio”, sugere “um estado de espírito resultante do sonho, da fantasia, do delírio ou da imaginação”, ideias que Leonardo associa à experiência de ler um livro.

Bem vistas as coisas, o Desvaneioconsegue ser muitas aplicações numa só. Trata-se, antes de mais, de “uma estante digital”, em que os utilizadores podem registar as suas bibliotecas, organizando os livros com diferentes marcadores. Podem distinguir as obras que já leram daquelas que estão a ler no momento ou que gostariam de ler a seguir; podem registar os livros que têm por empréstimo e aqueles que emprestaram a alguém; podem criar uma lista de desejos ou destacar os seus livros favoritos.

Por outro lado, não é descabido comparar o Desvaneio a uma app de fitness. Ao invés de acompanhar a atividade física do utilizador, registando distâncias percorridas, calorias queimadas ou minutos de alto rendimento, acompanha o progresso de leitura, conta páginas, capítulos e livros lidos. É possível estabelecer metas de leitura, criar lembretes e acompanhar estatísticas detalhadas do tempo investido a ler. Fundamental, explica Leonardo, é que “funcione como incentivo para o utilizador conseguir atingir os seus objetivos de leitura”.

Para os utilizadores que assim o desejem, a aplicação está igualmente preparada para funcionar como “uma rede social de leitores”, permitindo a avaliação de livros e a partilha de citações, comentários sobre as obras e experiências de leitura.

Como se tudo isto não bastasse, contém também uma espécie de “OLX dos livros”, isto é, um mercado virtual de venda e troca de livros em segunda mão. Nesta funcionalidade, há que destacar as parcerias que Leonardo conseguiu estabelecer com a Ror de Livrose com a Sana Editorae a Editorial Divergência que têm assegurado o stock de novos e usados. Para os utilizadores que façam questão de adquirir livros novos, o Desvaneio dispõe ainda de uma ferramenta que avalia a disponibilidade e compara preços nas lojas virtuais, como a Wook e a Fnac, para que possa estar sempre a par das melhores oportunidades.

No entender de Leonardo, “uma das principais mais-valias da aplicação é ter todos estes componentes interligados”. “ pode descobrir um livro novo porque um leitor que segue partilhou uma citação ou uma avaliação sobre ele; rapidamente, consegue saber se o livro está disponível para compra – novo, nas lojas digitais mais comuns, ou, em segunda mão, no mercado digital da aplicação. Pode adquiri-lo e à medida que o vai lendo, acompanhar o progresso da sua leitura na aplicação. Na final, pode ainda partilhar o que achou e – quem sabe? – inspirar outros leitores. Tudo isto sem sair do Desvaneio”.

Neste “ciclo de vida de uma leitura”, que vai desde o momento em que o livro chega às mãos do leitor, até àquela fase, já depois de ter terminado de o ler, em que pode optar por partilhar a sua opinião, a única etapa que, por ora, ainda obriga o utilizador a sair da aplicação é a leitura propriamente dita. No entanto, o futuro poderá vir a colmatar essa lacuna. “A aplicação ficará muito mais completa quando permitir a leitura de ebooks. É assim que imagino o Desvaneio no futuro: uma plataforma interligada onde se poderá fazer mesmo tudo, até ler”, antecipa Leonardo, que também não põe de parte vir a aventurar-se igualmente no universo dos audiobooks. Aliás, ideias para continuar a aprimorar o Desvaneio é o que não falta ao jovem programador. “Desenvolver novas capacidades de interação social, atribuir medalhas por objetivos de leitura concluídos, criar ferramentas para a recomendação de livros ou para os utilizadores descobrirem títulos de potencial interesse com base na sua lista de leituras” são apenas alguns exemplos das novidades que Leonardo gostaria de implementar num futuro próximo.

A app foi oficialmente lançada, para iOS e Android, em janeiro de 2020. “Disponibilizar o Desvaneio para desktop ” e “criar uma equipa de trabalho que o acompanhe e permita tornar a aplicação melhor e mais completa” estão na lista de desejos de Leonardo por altura do segundo aniversário da aplicação.

No passado mês de dezembro, a segunda parte de um estudo do Plano Nacional de Leitura e do ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa –, que analisou os hábitos de leitura dos alunos do 1.º e 2.º ciclo do ensino básico, veio confirmar uma tendência que a primeira parte do mesmo estudo, que analisara as práticas de alunos do 3.º ciclo e do ensino secundário, já indiciava: “À medida que vão crescendo, as crianças, adolescentes e jovens portugueses leem cada vez menos”.

Uma problemática que, na opinião de Leonardo Oliveira, resulta, “sobretudo, de uma questão cultural”. “Os livros são muitas vezes associados a algo antiquado e pouco apelativo”, lamenta, ressalvando acreditar que a tecnologia pode ajudar a mitigar essa tendência. “Eu vejo a tecnologia como uma ferramenta para atingirmos os nossos fins. Se os jovens que ainda não descobriram o fascínio pela leitura, pudessem experimentá-la de uma forma que vá ao encontro da sua forma de vida e daquilo que gostam, isto é, de uma forma tecnológica, mais virada para o digital, talvez o objetivo final – esses jovens passarem a ler mais – fosse, em certa medida, concretizado”, expõe o jovem aveirense.

No seguimento da conversa com a Aveiro Mag, foi considerada, a título de exemplo, a implementação das plataformas de streaming de conteúdos audiovisuais no mercado português: serviços como o Spotify, no caso da música e dos podcasts, ou da Netflix, no que respeita aos filmes e séries, instalaram-se em Portugal há oito e seis anos, respetivamente, e, desde aí, têm crescido sustentadamente em números de subscritores. “Essas plataformas aproximaram-nos desses conteúdos a uma escala nunca antes experimentada. Passámos a poder levar música connosco para todo o lado e ouvi-la a qualquer hora. Além disso, apresenta-nos muita variedade de conteúdos. É um catálogo gigante, impensável se estivéssemos limitados a conteúdos em formato físico”. Se assim é, porque não uma solução semelhante para livros digitais (ebooks) ou audiolivros?

É certo que, no universo da música, continua a haver muita gente que gosta de colecionar álbuns e de os pôr a rodar no gira-discos lá de casa, mas a verdade é só uma: a maioria da música, hoje em dia, é consumida por via digital. Da mesma forma, há quem não prescinda de uma ida ao cinema, com tudo o que essa experiência pode oferecer, mas é cada vez mais no íntimo do lar que se consomem filmes e séries. Ora, considerando um cenário em que os conteúdos digitais se popularizavam também no que à literatura diz respeito, continuaria a haver, com toda a certeza, quem fizesse questão de comprar livros em formato físico, lendo-os com os olhos, mas também com as mãos, sentindo-lhes o peso, a aspereza do papel e o aroma das páginas. Mas será que algumas franjas da comunidade, nomeadamente, as mais jovens, não adeririam mais eficazmente à leitura?

Leonardo reconhece que “é sempre difícil analisar como é que os consumidores se comportariam”, mas pensa que “aumentar a oferta é o caminho”. Afinal, recorda, “a digitalização traz vantagens, mais não seja por questões de espaço, de custo ou de transporte”.

Um dos manifestos do Desvaneio é, por tudo isto, “motivar mais jovens para a leitura” e, até agora, não se tem dado mal. “A comunidade que se foi formando por via da aplicação e que já tem uma dinâmica de partilha interessante é, maioritariamente, composta por jovens que a tecnologia ajudou a aproximar”, dá nota.

Para este projeto, Leonardo procurou desenvolver “uma interface amigável e familiar, que permite que os utilizadores se sintam à vontade” e que negasse, desde logo, pela simplicidade com que está construída, mas também pela comunidade que viria a juntar, qualquer intensão “elitista”. O objetivo, explica o programador, sempre foi criar “uma plataforma para todos os leitores, dos mais ávidos e compulsivos, àqueles que estão a descobrir a sua paixão pelos livros e pretendem começar a criar os primeiros hábitos de leitura”.

Neste momento, o Desvaneio deverá contar com perto de 4 mil utilizadores inscritos, 85 mil sessões de leitura registadas e mais de 135 mil livros guardados. Apesar de, até agora, ter sido um projeto de uma pessoa só, Leonardo reconhece que o feedback dos utilizadores tem sido essencial para a evolução da aplicação. “Os utilizadores acabam por ser cocriadores do Desvaneio. É à medida que mais pessoas vão descarregando e utilizando a aplicação, e que fazem chegar o seu feedback, que as funcionalidades vão sendo aprimoradas e a aplicação vai ficando mais completa”, esclarece.

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