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CAAA: 30 anos de história e um futuro sobre rodas

Património

Um Ford AA de 1929, que serviu de veículo de trabalho numa quinta vitivinícola da Bairrada; um trator Caterpillar de 1938, que foi o primeiro limpa-neves em funcionamento na Serra da Estrela; um colorido camião Fargo de 1947, que operou como pronto-socorro na região do Fundão e foi salvo de um fim quase certo na sucata; um Fiat 131 Abarth, que chegou a vencer o Rally de Portugal nos anos de 1980. Estes são apenas alguns dos veículos históricos que poderá conhecer ao visitar o núcleo museológico do CAAA – Clube Aveirense de Automóveis Antigos –, no número 13 da rua do Loureiro, em Aveiro. E “ainda que, por vezes, revelem alguma teimosia para pegar”, todos estes carros, verdadeiras relíquias rodoviárias, estão em perfeitas condições. Quem o garante é Miguel Serrano e Luís Cardote, dirigentes do clube.

Ao fim de três décadas de atividade – cumpriu-se o 30.º aniversário da sua fundação no passado dia 11 de julho –, o CAAA tem vindo a crescer não só em número de associados – são mais de quinhentos, provenientes de Aveiro e do resto do país –, mas também na capacidade de se fazer representar em certames nacionais e internacionais. Transportam o nome da região a variadíssimos destinos, afirmando a cidade dos canais como ponto de referência no que ao mundo dos veículos antigos diz respeito.

Há, no entender de Miguel Serrano, presidente da direção do CAAA, três fatores fundamentais que, isoladamente ou em conjunto, podem motivar alguém a perder-se de amores pelo universo das bicicletas, motas ou automóveis antigos: por um lado, há quem tenha a ânsia do colecionismo e lhe associe o gosto por objetos antigos, alguns deles, bem raros e repletos de história; também há quem se entusiasme com a componente mecânica, acompanhando de perto cada detalhe das (não raras vezes, árduas) intervenções de restauro; finalmente, sobram os aficionados que se entregam a este mundo sem ambições de criar uma coleção vasta, tampouco possuidores de conhecimentos de mecânica suficientemente avançados. A esses, move-os a nostalgia, isto é, o apego às memórias dos veículos da sua infância e juventude.

No caso de Miguel, o fascínio por veículos antigos remonta aos primeiros anos de vida. Ainda hoje, recorda o Peugeot 203 que os pais tinham quando era pequeno e no qual se lembra de, muito novo, ter tido um acidente aparatoso. “Nós vivíamos em Moçambique e, certa noite, numa viagem longa por estradas de terra batida, o meu pai atropelou uma gazela. Eu e a minha irmã íamos a dormir no banco de trás e acordámos com o embate. Era noite cerrada. Lembro-me de ficarmos com um farol pendurado e de o meu pai ter de amarrar o radiador com umas meias da minha mãe para podermos seguir viagem”, relata.

Nesse tempo, facilmente Miguel prescindiria de jogar à bola se a alternativa fosse um bom passeio de bicicleta ou uma divertida corrida de carrinhos. Se, em pequeno, colecionava miniaturas, quando chegou a juventude passou a dedicar a sua atenção às revistas da especialidade. “Era o que havia, na altura, para se ter acesso a este mundo dos automóveis antigos”, conta. Com os seus primeiros rendimentos, investe numa bicicleta e, mais tarde, naquele que viria a ser o seu primeiro automóvel: um Land Rover de 1957. “A minha família e os meus amigos chamaram-me doido por ter comprado um carro tão velho. Achavam que não fazia sentido nenhum”, partilha Miguel. “O que é certo é que ainda hoje o carro está comigo. Faz parte da família e foi a verdadeira génese de toda esta paixão”.

Já que estamos a revisitar os carros que mais marcaram o agora presidente do CAAA, não há como não falar do primeiro automóvel que conduziu: “Estreei-me num Renault 4L que era do meu tio”. “Bela experiência”, comenta Luís Cardote, com um sorriso, ou não fosse ele próprio proprietário de um exemplar do mesmo modelo.

Também Luís recorda, com carinho, os automóveis da sua infância e juventude: lembra-se do Peugeot 104 do pai, o primeiro carro em que terá andado, assim como do Opel Ascona a diesel, o primeiro que conduziu autonomamente. Todavia, é curioso que as recordações mais vivas estejam associadas a um veículo diferente, invulgar e, à data, aparentemente inatingível: um Jeep Willys MB. “O meu pai viajava muito para Lisboa e, por vezes, eu ia com ele. Passávamos sempre por um sucateiro, ali na zona da Benedita (Alcobaça), que tinha uma pilha de Jeeps empilhados uns em cima dos outros. Aquele modelo militar, com aquela grelha inconfundível, saltava-me sempre à vista. Nunca mais me saiu da memória”.

Hoje, como não podia deixar de ser, Luís Cardote tem o seu próprio Jeep Willys MB que, tal como a sua Citröen Traction de 1951, foi comprado em França, numa altura em que o mercado português ainda estava pouco desenvolvido. Da sua coleção pessoal fazem ainda parte um Renault 4L, duas motas Honda dos anos de 1970 e um Fiat Moretti Sportiva, este último, adquirido por via da esposa de Luís que, apesar de não ser muito ligada ao mundo dos automóveis antigos, soube que aquele veículo estava à venda e, achando-o deveras distinto, convenceu o marido a ficar com ele. Como boa parte dos veículos que passaram pelas mãos daquela família, o carro italiano “entrou para não mais sair”.

Se, naquela primeira aquisição, Miguel tinha sido criticado pelo investimento num veículo de idade avançada, o que terá sido dito sobre a aquisição, alguns anos depois, de um segundo Land Rover, ainda mais antigo que o primeiro? “Encontrei-o numa aldeia de Trás-os-Montes, perto da terra da minha mãe. Comprei-o a um velho senhor que, algo relutante, lá mo vendeu com o compromisso de que o tratasse bem. Acho que cumpri a promessa”, diz Miguel Serrano. Depois de o recuperar, Miguel fez questão de voltar à aldeia transmontana com a viatura para a mostrar ao antigo dono. “O homem ficou derretido a olhar para o carro. Estava exatamente como quando o tinha ido buscar a Lisboa, tantos anos antes, novinho em folha”, lembra, orgulhoso.

Miguel possui mais alguns automóveis, assim como uma mota. Problema? “Não sei andar de mota. Mas ainda hei de resolver isso um dia destes”. Que não se duvide. Já se viu que Miguel é homem de cumprir o que promete. O derradeiro destaque da coleção de Miguel Serrano, contudo, vai para um antigo trator. “Gosto muito de ver um carro assim despido. As rodas, a máquina, tudo à vista. E, como vivo no campo, é o meu descapotável, para desespero da minha mulher”.

Para assinalar o 30.º aniversário, o CAAA planeava levar a cabo uma exposição alargada de veículos no centro da cidade de Aveiro, mas o evoluir da situação pandémica no início de julho acabaria por ditar um adiamento da iniciativa. Se, por cá, cada vez mais aveirenses já vão estando habituados a ver veículos antigos a desfilar pelas ruas da cidade, a verdade é que sempre que visitam outras terras e comunidades, nos passeios que organizam ou nas concentrações em que participam, os membros do clube também são recebidos com alegria e entusiasmo.

A atividade bandeira do CAAA é a Automobilia, a maior e mais antiga feira em Portugal dedicada ao colecionismo com a temática dos transportes rodoviários. Veículos de todos os tipos, marcas e idades, assim como peças de automóvel e moto, ferramentas, documentação técnica, vestuário, antiguidades, miniaturas, e muito mais, reúnem-se, uma vez por ano, no Parque de Feiras e Exposições de Aveiro. “É, sobretudo, “uma grande festa”, reitera Miguel Serrano.

Com um histórico de 28 edições – seriam 30, uma por cada ano do clube, não fosse a pandemia ter levado ao cancelamento das edições de 2020 e 2021 -, todos os anos a Automobilia junta “centenas de expositores de várias nacionalidades” e “uns bons milhares de veículos”. O número de visitantes é ainda maior. Todos elogiam a diversidade da feira aveirense, assim como o ambiente de convívio propício ao negócio que por lá se verifica. “Esse reconhecimento dá-nos um sentido de missão cumprida, de que estamos a cumprir bem o nosso papel”, reconhece Luís Cardote.

A Automobilia começou por ser um encontro de associados do clube virado para a área comercial, com a venda ou troca de peças de automóvel e motas. Agora, além de ser um evento de comercialização desses artigos, inclui também uma componente didática com exposições temáticas que justificam a visita de qualquer pessoa: bicicletas, motas, automóveis, máquinas agrícolas ou industriais, mas também locomotivas e, até mesmo, aviões. “Não passaria pela cabeça de muita gente trazer uma locomotiva a vapor com carruagens e montar uma linha férrea no Parque de Feiras e Exposições para só lá estar dois dias. Pois, nós arregaçámos as mangas e fizemos acontecer”, evoca Miguel. Luís, por sua vez, lembra que, “há dois anos, prometemos ao público uma exposição de elétricos antigos sobre carris. Ainda não a conseguimos fazer, mas temos essa promessa”.

Se a Automobilia tem sido motor para a atividade do clube, o combustível é tão somente o esforço e dedicação dos seus membros. Outro exemplo dessa dinâmica, aliás, é o edifício do número 13 da rua do Loureiro, resultado da força de trabalho dos associados e que, além de lhes servir de sede, ainda alberga o pequeno núcleo museológico de veículos antigos que firmemente fazem questão de oferecer à cidade.

Neste pequeno museu, visitável no segundo sábado de cada mês, os visitantes poderão usufruir de uma singular coleção de antigos automóveis e motas, mas também camiões, tratores agrícolas e máquinas industriais. Os antigos veículos de trabalho, aqueles que, se não for por qualquer outra razão, só pelo ofício que desempenharam, já têm uma história para contar, são uma das imagens de marca do clube aveirense.

“Geralmente, o mundo dos automóveis e motas antigas, está mais vocacionado para aqueles veículos sexy, bombas desportivas, carros de linhas bonitas e muito caros. E o mundo automóvel não é só isso”, ressalva Luís. “Quem nos visita acaba por encontrar uma expressão de colecionismo diferente do habitual. São carros invulgares que não são normalmente vistos em coleções, mas que, bem restaurados, têm a sua beleza natural, são obras de arte e um património que merece ser preservado”, acrescenta.Há que ter em conta que, em Portugal, não existe grande apetência por guardar estes veículos, seja por limitações físicas (falta de espaço) ou pelas burocracias legais e fiscais que a sua conservação acarreta. “A legislação portuguesa não está adaptada ao colecionismo e de forma alguma protege os veículos antigos”, admitem os dirigentes.

O espólio do clube vai muito além daquele que pode ser apreciado neste pequeno museu. “Temos veículos espalhados por vários associados do clube que têm melhores condições para os guardar. Tentamos, depois, que haja alguma rotatividade nos veículos que aqui temos em exposição. Isto por uma questão de necessidade face ao espaço e também para imprimir uma certa dinâmica à exposição”.Nesta lógica de rotatividade, o núcleo tem também albergado várias exposições temáticas, como uma “belíssima exposição de scooters”, uma mostra de bicicletas do início do século XX ou uma coleção de veículos militares dos tempos da Segunda Guerra Mundial.

Com o espaço cada vez mais exíguo face às necessidades de um clube que ambiciona crescer, os dirigentes não esquecem um antigo protocolo com o município aveirense para a cedência de instalações no antigo quartel dos Bombeiros Velhos de Aveiro, junto à praça Marquês de Pombal, acordo esse que nunca veio a concretizar-se. “A câmara falhou o protocolo e, em vez de nos ceder aquelas instalações como se tinha comprometido, emprestou-as ao Tribunal Administrativo que, até hoje, não mais de lá saiu e faz daquilo um arquivo morto”, lamentam os dirigentes, confessando ainda sonhar poder vir a habitar aquele “edifício maravilhoso”, tornando-o num “espaço museológico interessante, visitável e digno da cidade”. Miguel Serrano e Luís Cardote estão certos de que um amplo e renovado espaço de exposição para os veículos antigos do clube, principalmente os de maior dimensão, não só “traria utilidade a um edifício histórico como aquele que está ali a guardar papéis”, como ajudaria a garantir ao CAAA um futuro sobre rodas.

*Fotos:Afonso Ré Lau

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