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Quiné Teles: “Hoje, mais do que se ouvir, consome-se música”

Artes

Chama-se Joaquim Teles, mas é provável que o conheça, simplesmente, por Quiné. O epíteto acompanha-o desde os primeiros anos, tal como as memórias de uma infância “com muita música à mistura”. “Já em miúdo, tamborilava em tudo o que eram caixotes e tamborzinhos”, lembra o percussionista. Motivado pelo pai, “sempre pregado na rádio”, e pelo irmão, com quem “devorava vinis”, Quiné reconhece que a sua “primeira formação musical foi a ouvir música”.

Uma das primeiras obras a deixar-lhe marcas indeléveis foi a banda sonora de Jesus Cristo Superstar. A ópera rock composta por Lloyd Webber chegou-lhe às mãos num “disco emprestado” que Quiné e os irmãos terão ouvido “até à exaustão, até ficar riscado”. “Além de decorarmos as letras, já conhecíamos perfeitamente a música, sabíamos os arranjos de cor e salteado, algo que, atualmente, seria quase impensável”, recorda. No entender de Quiné, “hoje, mais do que se ouvir, consome-se música”. A oferta é tanta e o acesso tão facilitado que os ouvintes acabam por investir muito menos tempo e dedicação na audição de cada tema, ignorando os seus detalhes e particularidades. Além disso, na opinião do músico, tem-se verificado a (quase) inexistência de “uma triagem crítica e ponderada”. “Há coisas boas, claro, mas também se ouve muita coisa má que, por estar razoavelmente produzida, por ter bom som, se torna objeto de fácil consumo”. Para Quiné, o caminho “não é por aí”, não é desta forma que consegue avaliar-se a qualidade e interesse musical de qualquer obra. “Afinal, alguns dos melhores discos da história da música têm mau som”, concede.

Se a formação musical de Quiné Teles começou pela música que ouvia, pode dizer-se que houve um “professor” que se distinguiu de todos os outros: Zeca Afonso. “Se houve personagem que me marcou verdadeiramente foi o Zeca Afonso. Passava tardes a ouvir . É o grande génio da música portuguesa”, assegura.

Pouco tempo depois de comprar o seu primeiro instrumento musical – uns bongós, no início dos anos de 1980 –, Quiné muda-se para Coimbra. “Eu sabia que a percussão faria parte do meu universo, mas, naquela altura, ninguém pensaria em enveredar pelo caminho da música. Seria quase uma loucura pensar nisso. Por isso, fui para Coimbra tentar responder às expectativas que os pais tinham sobre os filhos – tirar um curso, arranjar um emprego, construir uma vida”, conta o músico. “Fui para o curso de Geologia, porque era uma área que gostava – e, ainda hoje, gosto – bastante. Mas foram três anos mais dedicados a acompanhar os amigos em visitas regulares a um barzinho junto às Escadas Monumentais do que, propriamente, a estudar”, confessa. Dessa época, “ficaram alguns amigos”, assim como a experiência de ter assistido pela primeira vez a um concerto da Brigada Victor Jara, conjunto que reencontraria, alguns anos depois, para aí dar início a uma parceria duradoura que o levou a digressões pela Europa, América do Norte, Brasil, Canadá e Macau.

Ao deixar Coimbra, muda-se para o Porto. Passa pelo Conservatório de Música e pela Escola de Jazz, onde chegou a dar aulas.

Quiné nasceu em Ílhavo, mais precisamente, na rua Arcebispo Pereira Bilhano – os ilhavenses chamam-lhe Rua Direita –, no palacete dos Cartaxos – o mesmo prédio onde nascera o poeta Quintino Teles –, hoje, em ruínas, depois de um incêndio lhe ter consumido parte da estrutura. Aos 58 anos, é na mesma rua, a uns cento e poucos metros da casa onde nasceu, que Quiné tem o seu estúdio. Trata-se, uma vez mais, de um edifício imponente. Quem por ali passa, dificilmente ficará indiferente aos notáveis painéis de azulejo que lhe embelezam a fachada. No piso térreo, a retrosaria “A Tricana” – o mais antigo estabelecimento comercial da cidade – continua de portas abertas e os mais curiosos que não resistem a entrar para dois dedos de conversa com a mãe de Quiné – D. Conceição. Para encontrar o músico, contudo, teriam de subir ao sótão.

O “Sótão da Velha”, assim intitulado por Quiné, é “um estúdio caseiro” com “um revestimento em madeira que lhe confere condições acústicas muito boas”. É, além disso, “um local acolhedor”, “carregado de histórias e recordações”, e onde qualquer visitante facilmente encontrará “muito por onde passear os olhos”: livros, recortes de jornal e fotografias antigas; uma coleção de cartazes que o percussionista tem vindo a acrescentar à decoração; relíquias e quinquilharias guardadas pelo simples motivo de não se perderem e a que o tempo veio trazer outro valor.

Foi neste estúdio que decorreram as gravações do seu mais recente disco a solo. “No Sotão da Velha” – que sucedeu a “DaCorDaMadeira”, de 2008 – é “uma homenagem às raízes, às memórias e às sonoridades tradicionais portuguesas”. “São lengalengas em forma de cantigas e canções tradicionais em forma de trava-línguas, elaboradas a partir de uma escolha a dedo do que de melhor encontrou na música portuguesa, com uma visão própria de uma identidade nacional ancestral e representada por arranjos contemporâneos numa conjugação de sonoridades improváveis”, pode ler-se, em várias plataformas, acerca deste trabalho. Este “No Sotão da Velha” é também um disco de familiares e amigos: além de Nuno Caldeira, na guitarra e no baixo, dos filhos, Inês e Afonso Teles, e da mãe, Conceição, que fez “uma participação sem querer” – “Gravei-a a falar do gato e achei que era uma descrição tão musical que acabei por lhe fazer uma base em kisanki ” –, Quiné conta com Ela Vaz, a cantante galega Uxia, Rita Ruivo, Raquel Melo, Irena e Eleonora Ruas e os grupos “Segue-me à Capela”, “BVJ” e “Gefac”.

Apesar de ser comummente associado à categoria “Música Tradicional Portuguesa”, Quiné Teles prefere ver-se na gaveta da “Música do Mundo”. “Gosto da música de vários países, desde que tocada no seu aspeto mais genuíno, sem grandes maquilhagens”. “É quando a música está despida que percebes melhor a sua essência”, garante o músico ilhavense.

*Foto: Pedro Mostardinha (capa)

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