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O moliceiro continua “lindo”, mas a Ria já não está cheia deles

Património

A manhã estava cinzenta, igual a tantos outros inícios de dia na laguna aveirense - por estas bandas, manhãs sem neblina são coisa rara. Não fosse a falta de velas no horizonte e até que poderíamos nem dar pela mutação desse cenário que Raúl Brandão descreveu com tanto sentido e ritmo. Há 100 anos, o escritor encontrou a ria “cheia” de moliceiros, esse “lindo barco serve para tudo”. “Vai à pesca e carrega o sal e o moliço pelas terras dentro. É o meio ideal de transporte entre estas terras ribeirinhas. Substitui os animais de carga, as diligências nas feiras e é o encanto da ria”, reparava o autor. Naquela manhã cinzenta de início de Agosto, em pleno Cais do Bico, no município da Murtosa, terra de fortes tradições no que toca à construção e navegação dos moliceiros, estavam dois exemplares desse “lindo barco”, amarrados ao cais. No horizonte, nem uma vela. Apenas as memórias desses tempos em que o moliceiro navegava “à vela pelo interior das terras, e estou em dizer que é capaz de escorregar por cima das ervas”, conforme descreveu Raúl Brandão.

 

 

Verónica Fonseca está perfeitamente familiarizada com estas alusões ao passado, em especial aquelas que são apresentadas nas páginas d’Os Pescadores. Nas várias navegações que faz a bordo d’O Presidente, moliceiro pertencente à empresa turística que gere em parceria com Ricardo Cardoso, a Terra d’Água, é costume citar os escritos do autor portuense. Afinal de contas, poucos tiveram o dom de olhar para o barco moliceiro com olhos de poesia: “Tem não sei quê de ave e de composição de teatro. Anima a paisagem. Às vezes usa uma vela latina, às vezes duas, a segunda colocada à proa e mais pequena”.

“Seria completamente diferente se Raúl Brandão voltasse hoje à ria. Não se veem as velas de um lado para o outro, não se vê ninguém a rapar, porque, infelizmente, o moliço desapareceu”, começa por reparar Verónica Fonseca. Vão resistindo alguns exemplares do “lindo barco”, em grande medida fruto do esforço “da população da Murtosa”, vinca a empresária turística. “Aqui, ainda mantemos os moliceiros com os mastros e as velas. E sempre que possível navegamos à vela”, exalta, contrapondo com o cenário que tomou conta de outros pontos da ria, mais concretamente no centro da cidade de Aveiro: cascos sem mastros, nem velas, o leme amputado e a proa cortada.

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Um barco carregado de arte

Nas várias navegações que a Terra d’Água vai promovendo, os forasteiros não poupam elogios ao barco tradicional da Ria de Aveiro. “Dizem que o barco é muito bonito. Acham que as pinturas são sempre as mesmas, mas nós explicamos que não. Esta arte dos painéis vai mudando com regularidade”, conta Verónica Fonseca. Também Raúl Brandão viu no moliceiro várias características únicas: “Não conheço outro mais artístico, mais leve, mais adequado às funções que exerce e à paisagem que o circunda”.

Cem anos depois, poucos restam para ajudar a contar a história desses tempos em que o moliceiro servia para tudo, até de casa. “Não é fácil manter estes barcos de madeira. Antigamente, andavam carregados de moliço, ou seja, estavam com mais humidade e a conservação era mais fácil”, nota a empresária. Há já algum tempo que o risco de extinção paira no ar, ainda que, nos últimos anos, tenha sido amainado por uma luz de esperança: a candidatura do moliceiro a património mundial da UNESCO. “Seria uma conquista muito importante para a salvaguarda desta embarcação tradicional”, remata Verónica Fonseca.

 

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